Os laboratórios não vinculados ao SUS, assim como laboratórios de universidades públicas e da Embrapa, apresentaram importância local, principalmente na segunda e na terceira onda, apoiando o processamento de testes RT-PCR nos Estados. “Embora tenham representado somente 1,3%, 5,4% e 11% do total de testes distribuídos em cada uma das ondas, alguns estados mostraram agilidade na habilitação e uso destes laboratórios, como Goiás, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo”, salientam Lorena Barberia e Tatiane Moraes. “Ainda que tenha sido identificada como uma estratégia positiva, ela ainda se mostrou muito dependente de estruturas prévias à pandemia, evidenciando uma desigualdade na disponibilidade de laboratórios moleculares no País, uma vez que estes Estados já possuíam maior número de universidades e instituições públicas.”
A pesquisa verificou que, após as políticas de expansão do uso de testes antígenos no Sistema Único de Saúde (SUS) adotadas no segundo semestre de 2021, houve redução na distribuição de testes moleculares na terceira onda de covid-19 no Brasil, no início de 2022.
“A expansão de testes rápidos de antígenos facilitou o acesso a testagem de pessoas com suspeita de estarem com covid-19, entretanto, não foi acompanhada de uma política de registro de testes e casos positivos”, afirmam as pesquisadoras, “de modo que pudessem ser adotadas medidas de controle do espalhamento do vírus e organização dos serviços de saúde para garantir a assistência de pessoas infectadas, principalmente com maior vulnerabilidade, como idosos e pessoas com comorbidades, como diabetes e doenças cardiovasculares”.
As pesquisadoras da FFLCH observam que as principais limitações identificadas no trabalho se referem às próprias limitações dos dados disponíveis referentes à realização, compra e distribuição de testes de covid-19 no Brasil. “Nosso estudo se baseou no número de testes moleculares distribuídos pelo Ministério da Saúde. Embora os laboratórios estivessem espalhados pelo País, não foi possível identificar o número de testes realizados por estado brasileiro, de modo que pudesse ser avaliado o esforço local de testagem e o fluxo de testes distribuídos e realizados”, destacam. “Apesar dos governos estaduais e municipais também terem investido em expandir o diagnóstico molecular da covid-19, esses programas não foram analisados, assim como os montantes investidos em diagnóstico laboratorial antes, durante e após a pandemia.”
Participaram do estudo as pesquisadoras Lorena Barberia, Tatiane Moraes e Marcela Zamudio, do Departamento de Ciência Política da FFLCH, Alexandra Boing, da Universidade Federal de Santa Catarina, Fábio Miyaiama, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Ceará, e João Gusmão, da Fiocruz, em Brasília. Profissionais ligados ao setor de vigilância de doenças infecciosas em São Paulo também colaboraram com o trabalho, como Brigina Kemp, do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo e Adriano Abbud. do Instituto Adolfo Lutz. A pesquisa teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).