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Os riscos de uma dieta rica em gordura são transmitidos do pai para o filho durante a concepção (42 notícias)

Publicado em 14 de dezembro de 2022

Uma alimentação paterna rica em açúcar e gordura pode favorecer o aumento de peso e gordura corporal em seus filhos. É o que aponta um novo estudo feito por pesquisadores da Unifesp e publicado na revista científica Food Research International. A pesquisa sugere que a qualidade dos alimentos ingeridos pelo pai pode influenciar o eixo intestino-cérebro da prole, sistema que conecta os dois órgãos e está relacionado a problemas metabólicos, entre eles a obesidade.

O trabalho, financiado pela Fapesp, analisou e dosou em ratos proteínas e outros fatores relacionados a homeostase energética (manutenção do equilíbrio entre energia fornecida e dissipada), processos inflamatórios e doenças metabólicas nos filhotes machos e constatou alterações que podem programar a suscetibilidade a doenças.

Na pesquisa, os cientistas induziram nos roedores a obesidade, dando a eles uma dieta com alto teor de gorduras e carboidratos (contendo banha e leite condensado). Para os machos, a alimentação hipercalórica foi fornecida durante as dez semanas que antecederam o acasalamento e, para as fêmeas, durante toda a gestação e a lactação.

Em seguida, os filhotes machos foram avaliados em duas ocasiões. No primeiro, os cientistas analisaram amostras de sangue e tecidos logo após a lactação, aos 21 dias de vida. Os testes foram repetidos no início da vida adulta, quando completaram 90 dias. Analisou-se a expressão de genes codificadores de proteínas envolvidas na via de sinalização mediada pelo receptor TLR4 (que atua na ativação da resposta imune inata), do fator ZO1 (relacionado à permeabilidade intestinal), de neuropeptídeos orexígenos (estimulantes do apetite) e do receptor de leptina (envolvido na regulação do apetite).

Também se observou no sangue a concentração de lipopolissacarídeos (LPS), moléculas provenientes da membrana de bactérias gram negativas ricas em endotoxinas e que, quando escapam do intestino, desencadeiam um processo inflamatório; da grelina, hormônio produzido no estômago e no intestino, responsável pela sensação de fome; do neuropeptídeo Y, envolvido em processos fisiológicos nos sistemas nervosos central e periférico.

E foram avaliados ainda os níveis de determinadas bactérias na microbiota intestinal como Bifidobacterium e Lactobacillus, que são probióticos, ou seja, ajudam na saúde de seus hospedeiros.

Além disso, nos dois momentos, foram encontradas alterações em fatores associados à homeostase energética. A pesquisadora cita o aumento do processo inflamatório, de adiposidade, além de ganho de peso associado ao aumento de neuropeptídio Y e diminuição de grelina e de GLP1, hormônio do trato gastrointestinal que atua na regulação do apetite.

Segundo Luciana Pellegrini Pisani, professora do Departamento de Biociências da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Campus Baixada Santista, e orientadora do estudo, quando os filhotes se tornaram adultos (aos 90 dias de vida) "houve alteração na adiposidade e parâmetros de controle de fome e saciedade, independentemente da própria dieta". Isso significa que, mesmo com uma alimentação equilibrada, ocorreram aumento de acúmulo de gordura e alteração no apetite, o que "eleva a probabilidade de desenvolvimento de doenças metabólicas ligadas à obesidade na idade adulta".

Já a obesidade induzida materna resultou em aumento do neuropeptídio Y e redução fecal de dos probióticos na prole adulta.

O efeito combinado da dieta hipercalórica parental mostrou aumento do neuropeptídio Y ao desmame e menor conteúdo de Bifidobacterium e Lactobacillus na prole adulta. Esses resultados permitiram concluir que a alimentação de ambos os genitores pode modular as bactérias na microbiota intestinal da prole e programar sua suscetibilidade a doenças metabólicas.

O Globo