O professor Francisco Romeu Landi, da Poli, assume a presidência do Conselho Superior da Fapesp empenhado em coordenar projetos que podem mudar a história da pesquisa científica de São Paulo
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) está sob nova direção. No dia 15 de agosto, o professor Francisco Romeu Landi assumiu a presidência do Conselho Superior da entidade. Professor do Departamento de Engenharia Civil da Escola Politécnica da USP, Landi foi escolhido pelo governador Mário Covas entre os três nomes indicados pelo mesmo Conselho. O novo presidente terá um mandato de dois anos à frente da Fapesp.
Nesse período, Landi afirma que pretende realizar aquilo que é a função do presidente da Fapesp - coordenar a execução de projetos aprovados pelo Conselho Superior. "A Fapesp é um órgão que toma decisões colegiadas e independe da intervenção de um presidente", explica o professor, que é membro do Conselho desde 1991. "É um sistema que tem funcionado muito bem na Fapesp."
Mesmo assim, Landi terá muito trabalho pela frente. Além de ter vários projetos em andamento, a Fapesp tenta implantar uma nova forma de financiar a pesquisa científica em São Paulo - o apoio à pesquisa de forma induzida. Por esse sistema, a Fapesp dará prioridade para projetos que estejam de acordo com a política de ciência e tecnologia do Estado. Essa política está sendo formulada pelo Conselho de Ciência e Tecnologia (Concit) - ligado à Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia e composto pelos reitores das três universidades paulistas, secretários de Estado, empresários, pesquisadores e o presidente da Fapesp.
"O Conselho Superior tem uma visão muito moderna do que seja uma agência de financiamento", diz Landi. Ele lembra que, antes da introdução do sistema de financiamento de forma induzida, a Fapesp funcionava mais como um "balcão", em que os pesquisadores faziam suas propostas e - caso estas tivessem mérito - recebiam o financiamento. Dessa forma, era o pesquisador quem definia o tema da pesquisa, que podia estar em desacordo com as principais necessidades tecnológicas do Estado. "Agora é a Fapesp que vai escolher e priorizar as pesquisas mais importantes para o desenvolvimento da sociedade."
OS PROJETOS DA FAPESP
Os projetos da Fapesp são ambiciosos e podem mudar a história do desenvolvimento de São Paulo nas próximas décadas. Um deles tenta resolver um problema crônico do Estado - o ensino básico. Por esse projeto, já em andamento há cerca de três meses com recursos de R$ 5 milhões, a Fapesp financiará pesquisas que se proponham a melhorar o ensino básico. Uma condição essencial do programa é a parceria entre os pesquisadores e uma escola pública. "Esse projeto é de importância fundamental", destaca Landi. "Todos reconhecem a importância do ensino básico. Temos de buscar formas de fortalecer esse ensino, o que se refletirá no desenvolvimento da sociedade." Segundo Landi, a Fapesp já recebeu "algumas dezenas" de propostas de pesquisadores, interessados em trabalhar em favor do ensino básico.
Outro projeto que poderá mudar o perfil da pesquisa científica no Estado é o Programa de Apoio a Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes. Nesse caso, a intenção é alocar recursos para fortalecer instituições afastadas dos grandes centros científicos. Também com recursos de R$ 5 milhões, o programa ainda destinará verbas para a melhoria da infra-estrutura para pesquisa dos centros que receberem os pesquisadores. "A idéia é estimular a difusão dos centros de pesquisa - que hoje estão muito concentrados - para atender a problemas regionais."
Já o Programa de Apoio à Micro, Pequena e Média Empresa - outra tentativa da Fapesp em fortalecer a pesquisa no Estado - pretende ser um importante estímulo à inovação empresarial. Landi lembra que nos países mais desenvolvidos uma grande parcela das novas tecnologias introduzidas na sociedade é originária das micro e pequenas empresas. No Brasil, ao contrário, as empresas de menor porte se limitam a copiar ou importar tecnologia da Europa e dos Estados Unidos. "Temos uma tradição de pouca inovação."
Para modificar essa tradição, a Fapesp vai financiar entre 30% e 70% do valor total de pesquisas feitas por empresas, que busquem desenvolver novas tecnologias. É necessário, porém, que essas empresas estejam vinculadas a um grupo de pesquisa de uma universidade. "Isso vai forçar a universidade a fazer pesquisas que realmente interessem à universidade, e não coisas irrelevantes."
Aos críticos desse programa - desconfiados de que os recursos públicos estariam sendo usados para beneficiar empresas privadas -, Landi responde: "O objetivo da Fapesp é estimular a pesquisa científica pública, venha de onde vier. O problema é que no Brasil quem faz pesquisa tradicionalmente é a universidade. Os benefícios obtidos pelas empresas com suas novas tecnologias serão repassados a toda a sociedade".
UMA AGÊNCIA EXEMPLAR
Landi passou a dirigir em agosto uma agência de financiamento considerada exemplar mesmo por especialistas do exterior. Em maio passado, a Fapesp foi elogiada pelo professor Daniel Newlon, um dos diretores da National Science
Foundation (NSF) - o órgão norte-americano equivalente ao CNPq. Para Newlon, "nenhuma agência financiadora, incluindo a NSF, realiza melhor o trabalho de financiamento de pesquisa do que a Fapesp". Até mesmo a rigorosa revista Science teceu elogiosos comentários sobre a instituição agora presidida por Landi. "Os pesquisadores amam a Fapesp porque ela é tudo o que as outras agências não são: eficiente, preocupada com a qualidade e tem o cientista sempre em vista", destacou a revista.
Essa excelência é explicada, segundo Landi, pela segurança que o fundo de caixa da Fapesp - exigido por lei - transmite aos pesquisadores. Os investimentos em imóveis e aplicações financeiras, aliados à regularidade com que o governo repassa os recursos estipulados pela Constituição - 1% da renda tributária do Estado - são suficientes para garantir o financiamento de boas pesquisas. "Todas as propostas que chegam à Fapesp, se realmente tiverem mérito, são prontamente atendidas", afirma o presidente Landi. O atual diretor científico da Fapesp é o professor José Fernando Perez. O telefone é (011)837-0311.
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Jornal da USP