“Temos em São Paulo cerca de 25 mil pesquisadores nas universidades, 3 mil nos institutos de pesquisa e 28 mil nas empresas. Cerca de 40% dos pesquisadores do País estão em São Paulo.” Abrir novos caminhos para esse mundo do desenvolvimento científico e tecnológico é o desafio de José Goldemberg. No último dia 8, o ex-reitor da USP e Professor Emérito do Instituto de Física (IF) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP assumiu a presidência da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), cargo ocupado por Celso Lafer, professor da Faculdade de Direito da USP, nos últimos oito anos.
Aos 87 anos, o professor renova a energia de uma vida dedicada à educação e ao desenvolvimento da ciência. Em seu discurso, reconstituiu a história da Fapesp com as suas metas e conquistas. “Nos seus 53 anos de existência, a fundação teve um papel fundamental na elevação do nível científico e tecnológico do Estado. Ela criou condições para que as universidades públicas do Estado formassem centenas de milhares de profissionais e especialistas em todas as áreas. O nível de excelência dessa capacitação pode ser avaliado pelo fato de a USP, a Unicamp e a Unesp estarem entre as 200 melhores universidades do mundo, entre as 10 mil que existem.”
Goldemberg destacou também a importância da cooperação internacional, que foi priorizada desde a criação da fundação. “A cooperação internacional foi o instrumento que permitiu a Armando de Salles Oliveira, em 1934, dar à Universidade de São Paulo seu impulso inovador inicial, e as unidades da USP que conservaram o hábito de mantê-la tiveram, em geral, um desempenho melhor do que as outras que deixaram de fazê-lo. A ação da Fapesp nessa área recebeu grande impulso sob a presidência do professor Celso Lafer nos últimos anos.”
Inovação – O apoio da Fapesp, segundo Goldemberg, contribui para formar recursos humanos. Mas não é só esse o seu papel. “Só para dar um exemplo, numa atividade agroindustrial importante que é a produção de álcool de cana-de-açúcar no País, que gera 1 milhão de empregos, as universidades e institutos de pesquisa paulistas, com o apoio da Fapesp, desempenharam um papel significativo através da inovação e do progresso tecnológico, tanto na área agrícola como industrial, que resultaram num aumento de produtividade de cerca de 3% ao ano durante 30 anos no setor canavieiro. A produção de álcool aumentou de 3 mil litros por hectare para 6 mil litros por hectare.”
Em 2014, a Fapesp geriu uma receita de R$ 1,22 bilhão. Desse total, R$ 1,15 bilhão (ou 94% da receita) foram destinados a pesquisas científicas e tecnológicas de São Paulo. “Hoje a fundação recebe muitos milhares de solicitações de apoio por ano de pesquisadores e candidatos a bolsas de estudo e algumas centenas de empresas, incluindo start-ups, às quais concede auxílios a fundo perdido, raros no País. Existem também alguns programas de cooperação com grandes empresas, nas quais a pesquisa é importante”, observou em seu discurso. “Parece-nos urgente e necessário expandir essas atividades, que poderão abrir caminho para uma maior coordenação entre a área da pesquisa e a ação de órgãos de financiamento do governo estadual, como a Desenvolve São Paulo e Investe São Paulo, e do governo federal, como a Finep e o BNDES, bem como do setor privado. Todos eles poderiam agilizar substancialmente suas operações baseando-se nas avaliações da Fapesp sobre a viabilidade técnica dos projetos, como fazem os bancos de investimento públicos e privados do mundo todo, que usam as análises do Banco Mundial como ‘selo de qualidade’ e aval dos seus projetos de investimentos.”
DNA de São Paulo – Goldemberg foi nomeado por Geraldo Alckmin para um mandato de três anos. “A Fapesp é o DNA de São Paulo, que é a inovação, a vanguarda do conhecimento, da pesquisa”, avaliou o governador na cerimônia de posse. “E tem a aproximação com o setor produtivo. Essa boa sinergia atrai as empresas e gera novos empregos. A fundação mostra a importância da ciência na melhoria de vida da população.”
Uma solução apontada por José Goldemberg para evitar a crise que as universidades públicas vêm atravessando é o procedimento semelhante ao da Fapesp com o seu orçamento. “A Lei 5.918, de 18 de outubro de 1960, promulgada por Carvalho Pinto, que criou a fundação, tem características originais e inovadoras mesmo sob a perspectiva de quem a lê em 2015: ela adotou um dos pilares da responsabilidade fiscal ao determinar que as despesas com administração da fundação não poderiam ultrapassar 5% do seu orçamento e os outros 95%, utilizados exclusivamente nas atividades-fins da fundação. As universidades públicas do Estado, que também têm autonomia financeira, deveriam, a meu ver, adotar procedimento análogo. As boas universidades do mundo destinam, em geral, cerca de 80% dos seus recursos ao pessoal e o restante, à infraestrutura de ensino e pesquisa.”
Ao passar o cargo para Goldemberg, o professor Celso Lafer assinalou: “O momento é de quem chega, e não de quem se despede, com a consciência do dever cumprido e com antecipadas saudades do privilégio de ter exercido a presidência da Fapesp”.
José Goldemberg foi reitor da USP de 1986 a 1990, presidente da Sociedade Brasileira de Física, secretário de Ciência e Tecnologia e ministro da Educação. Mas, para o gaúcho de Santo Ângelo, a travessia em prol da educação e da ciência é uma batalha diária. Encerrou o seu discurso de posse com uma reivindicação: “A enorme competência científica e tecnológica que São Paulo tem nas suas universidades e institutos de pesquisa é um acervo que poucos países em desenvolvimento possuem. Precisamos protegê-lo e utilizar melhor essa competência para resolver os problemas da sociedade”.