Um cadeirante que sonha em ser dançarino. Uma líder de torcida que engravida e vê sua carreira ir por água abaixo. Uma estudante que sonha em ser popstar e é zoada por toda escola. Um gay afeminado, uma negra acima do peso, uma oriental emo e com problemas de gagueira. Mais uma loira burra, uma morena latina, um diretor de escola indiano, uma professora com obsessão por limpeza. O que aparentemente seria a reunião dos clichês de um freak show de personagens losers, se tornou uma das séries de maior sucesso na televisão americana. Glee é a resposta que os losers por anos lutaram: sim, sou loser, mas to na moda!
Criada por Ryan Murphy (também criador da série NipTuck) e exibida pela FOX, Glee conta a história dos desafios do professor de espanhol Will Schuester (Matthew Morrison) para reerguer um antigo coral da escola William Mckinley chamado Glee Club (Clube do Coral). O problema é que o coral acaba atraindo só alunos não muito queridos na escola, os famosos losers (como você pôde ler no primeiro parágrafo). A partir disso, o telespectador se vê em um mar de trapalhadas dos personagens, descobertas, problemas e medos da adolescência e, logicamente, muita música! "Glee é uma série que mescla humor, música e drama. As performances dos atores são bem trabalhadas, a preocupação em estar tudo sempre impecável é constante. A série tem um pouco de malícia e enredo inteligente", explica Caroline Scholz, gerente de marketing da FOX.
Será realmente o contra-ataque dos losers, sempre colocados como motivo de piadas em todos os lugares? "Com certeza! As pessoas estão cansadas de ver na TV o ideal de beleza americana. Glee é diferente, traz realidade à TV porque mostra personagens mais próximos de pessoas reais, personagens que não são perfeitos. Isso aproxima a ficção do mundo real e faz com que os telespectadores se sintam mais à vontade e se identifiquem com os personagens", comenta Caroline.
O repertório musical da série é bastante variado. Há hinos do hard rock como "Don"t Stop Believen", do Journey, clássicos do rock como "Somebody to Love", do Que en, hits pop-chiclete como "Bad Romance", de Lady Gaga, melodismos bregas como Sweet Caroline, de Neil Diamond, sucessos pop new wave como "Dancing with myself", de Billy idol, e muitos outros. E a audiência acompanha as investidas da série. Apenas no episódio especial sobre a cantora Madonna, Glee teve nada menos que 14 milhões de telespectadores!
Sucesso garantido
Não é apenas o público de Glee que não para de crescer. A estante de prêmios também fica cada vez maior. A série já levou para casa o Globo de Ouro de melhor série de comédia, o Screen Actors Guild Awards de melhor elenco de série de comédia, o People"s Choice Awards de melhor nova série de comédia, o Teen Choice Awards de nova série de TV, entre outros Além disso, os atores Matthew Morrison, Lea Michele, Cory Monteith, Chris Colfer, Mike O"Malley, Jane Lynch, Kristen Chenoweth e Neil Patrick Harris também levaram estatuetas de várias premiações por suas atuações em Glee.
No iTunes, Glee também é um estouro. As músicas da série já têm mais de 1 milhão de downloads realizados no serviço. Os cinco álbuns de música lançados da primeira temporada também são sucesso de vendas. Além de ter alcançado o topo da lista da Billboard, também serviram de palanque de artistas que participaram da série. A coletânea do episódio especial com músicas de Madonna vendeu quase 100 mil cópias apenas em sua primeira semana!
Fã de coral
A bibliotecária Fabiana Andrade, de 29 anos, é uma das fãs incondicionais da série. "O sucesso de Glee se deve, principalmente, às músicas, às versões que eles fazem delas, este é o grande diferencial da série, porque as canções estão longe de ser meras imitações. As versões que eles fazem transformam a música em algo mais jovial, intenso, interessante... Não é à toa que eles estão batendo alguns recordes de downloads e ocupando posições na Billboard", comenta Fabiana. Diferente de muitas outras séries voltadas para jovens que não retratam a verdadeira realidade desta idade, Glee aposta nos temas do dia-a-dia nos colégios, como bullyng, os nerds e a briga entre tribos. "São temas mais verdadeiros, que ocorrem em qualquer colégio, em qualquer lugar do mundo, e a música ajuda a dar uma aliviada nas tensões", afirma.
Fabiana, além de bibliotecária, também participa de um coral, organizado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). "Jamais teríamos a oportunidade de nos conhecer aqui na empresa se não fosse pelo coral. O Coral FAPESP, apesar de ter apenas 4 anos, já criou uma grande família. Organizamos festas, encontros, happy-hour e adivinha: sempre há música envolvida nesses eventos", conta.
Por conta disso, Fabiana se identifica tanto com a série. "Achei interessantíssimo a série focar no universo coral, não somente pela motivação que proporciona, mas para verificar como são os corais estadunidenses. Lá eles têm essa tradição, que embora seja igualmente considerada cafona, os corais são mais dinâmicos, menos eruditos e tradicionais, são verdadeiros musicais", explica. "Participar de coral é muito bacana! Sabe aquele ditadinho "quem canta os males espanta?", sei que é bem clichê, mas é assim mesmo, você começa a perceber a acústica dos locais, a entender o seu tom de voz, a sua entonação melhora na hora de falar em público, começa a se dar bem em karaokê (risos)".
Se você já se joga na música embaixo do chuveiro, e nunca teve coragem de correr atrás de seu dom, a bibliotecária mostra onde se espelhar. "Um coral que me impressiona muito é o Coronlaine, eles são performáticos, tem vídeos muito legais no YouTube. Considero os vídeos mais legais o"La Bamba Cool!"(a performance do regente é impagável), "Dança e Canta Medley Anos 60" e "Beatles Medley Show Choir")".
Para Fabiana, Glee é a oportunidade de reviver clássicos da música. "Um exemplo bacana que aconteceu comigo foi com a música sinônimo de Glee, "Don"t Stop Believin". Eu adorava essa música quando era criança, mas Journey ficou perdido em algum lugar da década de 80. Quando ouvi a versão de Glee, lembrei do quanto gostava dela e hoje tenho as duas versões no meu MP3, e é uma das músicas que mais escuto e me deixa mais feliz", conta. Mas será que Fabiana, assim como os integrantes de Glee, também é considerada uma loser por cantar em coral? "Até que as pessoas me zoam pouco por eu fazer parte de um coral, mas eu mesma tiro sarro porque além de bibliotecária canto num coral, então digo que sou o ser mais "brochante". Sou quase uma incompreendida Glee!", se diverte.®