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Jornal da USP

Os livros na era da digitalização (1 notícias)

Publicado em 21 de junho de 1999

Os recursos oferecidos à biblioteconomia pelas novas tecnologias de informação foram discutidos durante o Seminário de Estudos "Desafios da Biblioteca Eletrônica", realizado no dia 16 de junho no auditório do Instituto de Física da USP. O encontro, que reuniu especialistas de várias instituições, foi promovido pelo Sistema Integrado de Bibliotecas (Sibi) da USP e pelo Departamento de Pós-Graduação em Biblioteconomia e Ciência da Informação da PUC de Campinas. "O objetivo do encontro é capacitar os bibliotecários a usar as novas tecnologias para oferecer ao usuário o melhor serviço possível", explica a diretora da Divisão de Bibliotecas do Sibi, Mariza Leal de Meirelles Do Coutto, uma das organizadoras do evento. O seminário discutiu diferentes aspectos da biblioteca virtual. Entre eles, foram abordados temas como as perspectivas da Internet no Brasil, as técnicas de digitalização de livros e documentos históricos, a educação a distância e o projeto Scielo (Scientific Electronic Library Online) — um banco de dados que põe à disposição dos pesquisadores a íntegra de artigos publicados em 30 revistas científicas brasileiras. O projeto Scielo foi apresentado no seminário por Abel Packer, diretor da Bireme, o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde. Em sua palestra — intitulada "O modelo Scielo: desafios e soluções previstas" —, Packer destacou as dificuldades impostas pelo processo de transição que atinge atualmente as revistas científicas, que aos poucos deixam de ser impressas em papel e passam a ser produzidas na versão eletrônica. Entre essas dificuldades está a capacitação de profissionais aptos a lidar com a nova tecnologia. Outros desafios dizem respeito ao aprimoramento da metodologia empregada na publicação de revistas online, a viabilidade econômica das revistas eletrônicas brasileiras e a própria qualidade dessas revistas. Packer acredita que há várias formas de obter a viabilidade econômica das publicações eletrônicas. Entre elas, o diretor da Bireme lembrou que é preciso aumentar a eficiência dos recursos públicos, buscar patrocínio junto à iniciativa privada e ainda otimizar a venda de assinaturas. Já quanto à qualidade das revistas. Packer citou os critérios usados no Scielo, que avalia principalmente o conteúdo, a periodicidade, a pontualidade e a padronização das revistas. "Esse compromisso com a qualidade é fundamental para o sucesso de todo o projeto." Em operação há cerca de dois anos, o Scielo é a primeira biblioteca eletrônica brasileira. Além de disponibilizar na rede 30 revistas científicas editadas no Brasil, ele mede também o impacto e o número de vezes que cada artigo foi citado, assim como ocorre com o renomado ISI, o International Scientific Index, que mede o impacto e citações das principais publicações científicas mundiais. O endereço do Scielo é www.scielo.br. INTERNET E DIGITALIZAÇÃO O professor Demi Getschko, da Escola Politécnica, fez no seminário a palestra "A Internet no Brasil: estado atual e perspectivas futuras". Nela, Getschko destacou a expressiva posição do Brasil no que se refere à Internet. Com 200 mil endereços eletrônicos em funcionamento, o Brasil é o 17° colocado entre os países do mundo com maior número de endereços. Mais da metade das máquinas em operação na América Latina — incluindo o México — encontra-se em território brasileiro. O professor abordou a entrada do Brasil na era da infovia, em 1989, e a rápida expansão que o País experimenta desde então nesse setor. Jarbas Pontes Beznos, da empresa Image Access, mostrou os procedimentos e equipamentos necessários para a digitalização de livros e documentos históricos — uma técnica que está sendo cada vez mais utilizada para a preservação de acervos de bibliotecas. "A digitalização oferece vários benefícios", disse Beznos. "Com ela, os livros e documentos antigos não precisam ser manuseados — o que colabora para a sua preservação — e, em rede, podem ser consultados por todos os interessados de qualquer parte do mundo." Segundo Beznos, o sucesso da digitalização depende dos cuidados que o bibliotecário deve tomar antes de escanear o livro ou o documento. Esses cuidados incluem a eliminação de dobras, traças e umidade, por exemplo. "'Os procedimentos necessários para a digitalização exigem a recuperação física da obra", disse o especialista. Somente com o livro em boas condições é que se pode começar o processo de digitalização, ensinou Beznos. Os equipamentos utilizados são poderosos scanners cujo preço varia de US$ 10 mil a l/S$ 120 mil. Os mais caros são scanners usados para a produção de microfilmes e microfichas. "No Brasil a digitalização ainda é feita por poucas instituições, entre elas o Sibi", afirmou Beznos. "No exterior, ela é usada em larga escala: o Departamento de Documentos Manuscritos da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, por exemplo, conta com financiamento da iniciativa privada para digitalizar seu acervo." O seminário "Desafios da Biblioteca Eletrônica" deve sua realização ao curso de especialização Sistemas Automatizados de Informação Científica e Tecnológica, oferecido pelo Departamento de Pós-Graduação em Biblioteconomia e Ciência da Informação da PUC de Campinas. Com um ano de duração e término previsto para este semestre, o curso — que conta com a participação de 20 bibliotecárias do Sibi — inclui palestras de especialistas nacionais e estrangeiros e a realização de dois seminários. Além do "Desafios da Biblioteca Eletrônica", outro encontro foi promovido em dezembro de 1998, no auditório da Faculdade de Educação da USP, intitulado "Gestão Cooperativa e Consórcios'", de que participaram 120 pessoas. Embora sejam fruto do curso oferecido pela PUC de Campinas, os seminários foram abertos à participação do público, a fim de beneficiar a comunidade em geral. "Desafios da Biblioteca Eletrônica" foi coordenado pelas professoras Rosaly Favero Krzyzanowski, diretora do Sibi, e Cecília Cunha Pontes, da PUC de Campinas. A organização ficou por conta de Mariza Coutto, da USP, e de Maria de Cléofas Faggion Alencar, da PUC de Campinas. O evento teve apoio cultural do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP e patrocínio da empresa Ebsco — Information Services.