Um arbusto originário da mata atlântica, tão conhecido da medicina popular, é um novo aliado para a proteção da pele contra os raios solares. Está se falando da pariparoba, facilmente encontrada nos Estados de São Paulo. Minas Gerais. Espírito Santo e Bahia e ale mesmo na Cidade Universitária, em São Paulo. A planta contém um composto químico capaz de proteger a pele dos efeitos nocivos de raios ultravioleta do tipo UVB. "A pariparoba sempre foi usada para o tratamento de má digestão, doenças do fígado, como icterícia, e queimaduras, através da infusão da raiz e da folha. Percebemos que ela protege a pele dos efeitos imediatos e crônicos da radiação solar, como também da diminuição da elastina e do colágeno", explica a professora Silvia Berlanga de Moraes Barros, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, referindo-se a duas proteínas essenciais para a pele. A planta parece ser útil também contra a hiperplasia epilelial - o aumento desenfreado do número de células da parte mais externa da pele.
As pesquisas começaram a partir de uma investigação da atividade de proteção hepática atribuída à planta. Silvia explica que começou a estudar o composto 4-nerolidilcatecol, molécula encontrada no extraio da raiz da planta, cuja estrutura química é muito semelhante à do alfa-tocoferol -mais conhecido como vitamina E - um antioxidante usado em formulações de produtos de beleza para a prevenção do envelhecimento cutâneo. O potencial antioxidante da molécula encontrada na pariparoba foi comprovado nos resultados da pesquisa de doutorado de Cristina Dislich Ropke, orientanda da professora Silvia.
Esse resultado chamou a atenção da empresa Nalura, que disputou e venceu a licitação de concessão de licença para a utilização do extraio da raiz no desenvolvimento de produtos de uso cosmético como o gel, creme e filtro solar, tanto para o Brasil como para o exterior. Ainda não há data prevista para o lançamento do produto.
O pedido de patente foi todo desenvolvido pelo Grupo de Assessoramento ao Desenvolvimento de Inventos ((Gadi), um órgão da Coordenadoria Executiva de Cooperação Universitária e de Atividades Especiais (Cecae) da USP. O objetivo desse órgão é atender o inventor ou autor para a consolidação da cultura de proteção à propriedade intelectual na USP, atuando do início da pesquisa até a transferência da tecnologia para a sociedade. "A equipe do (Gadi) encaminhou toda a redação do processo. Depois de um ano e meio de sigilo, resolvemos colocar essa descoberta em licitação. O Gadi é um importante órgão da USP para a resolução dessas questões de patente", afirma Silvia.
Potência - O estudo linha como objetivo mostrar se o extraio de pariparoba inibe a chamada peroxidação espontânea da pele, processo que contribui para o envelhecimento cutâneo e pode ocorrer ainda por radiação solar. Foi verificado que o composto 4-nerolidilcatecol tem atividade bem mais potente que o alfatocoferol e apresenta características físico-química e que poderiam justificar o uso em formulações cosméticas. "Foi daí que resolvemos testar na pele", conta Silvia.
A primeira parte dos experimentos foi feita em camundongos sem pêlos. Nesse modelo, os animais eram tratados com uma formulação simples, sem nenhum tratamento tecnológico. Depois de aplicado e retinido o excesso, o produto permanecia na pele por um período predeterminado. Avaliou-se, então, se a oxidação era mais reduzida nos animais tratados com extraio. "Os exames de microscopia leitos nos camundongos mostraram que o composto "previne o envelhecimento cutâneo", ressalta Silvia.
Essa constatação levou a equipe de pesquisadores a expor os animais à radiação ultravioleta. Foi aplicada uma formulação para o extrato e feito um estudo de permeação, que mensura quanto do produto fica na pele e quanto é absorvido. "O gel com o extrato retirado da raiz de pariparoba foi a melhor formulação encontrada pela nossa equipe. É na raiz que há maior concentração da substância com atividade antioxidante", relata a pesquisadora Cristina Ropke.
Na segunda etapa, os camundongos foram expostos à radiação UVB. Os animais ficaram expostos durante dez minutos, quatro vezes por semana, durante cinco meses e meio. "Verificamos que enquanto os camundongos que receberam radiação apresentaram hiperplasia epitelial os animais tratados com o extrato tiveram hiperplasia reduzida. Toda divisão celular incontrolada pode ser um prenúncio de transformação dessas células em células tumorais", explica Silvia.
Elasticidade - Outro fator observado é que as fibras de elastina e colágeno que se encontram sob a pele e também se alteram quando sofrem radiação ultra-vioIeta crônica, estavam preservadas. "Portanto, o composto garantiu a elasticidade da pele, o que é um mecanismo interessante de ação. Quando se passa o produto e sofre a radiação, a pele não fica espessa. A qualidade da elastina e da derme é mantida", explica Cristina. Notou-se também que a pele inflama menos, ou seja, fica menos vermelha - em contraste com o que ocorre com os banhistas na praia que dependendo do tempo de permanência sob o sol, ficam com a pele muito vermelha, como se fosse uma inflamação, e às vezes até inchada.
Outras funções da pariparoba continuam a ser pesquisadas no laboratório da Faculdade de Ciências Farmacêuticas. Os estudos estão centrados nos mecanismos bioquímicos de ação da planta. "As pesquisas mostram resultados interessantes na área farmacêutica, mas que ainda não podem ser revelados", diz. Silvia.
A licitação pela qual a empresa Natura passou envolveu o pagamento de royulties sobre a venda do produto e a transferência de tecnologia por parte da Universidade. A USP e a Fapesp responsável pela concessão da bolsa de doutorado de Cristina, receberão, cada uma 50% do contrato com a Natura. Os pesquisadores receberão parte dos valores repassados pelas duas entidades.
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Jornal da USP