O Oriente Médio vai crescer nos próximos anos como fornecedor mundial de produtos químicos. A região deverá adicionar 13% à sua capacidade atual de produção de eteno até 2012 e se transformar no principal fornecedor para Europa e Ásia. As informações foram dadas pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Bernardo Gradin, em um encontro com a imprensa ontem (04), em São Paulo. Segundo ele, em função do avanço do Oriente Médio, e também do crescimento da produção na Ásia, a indústria química da Europa e Estados Unidos perderá espaço. Os EUA, atuais líderes mundiais no setor, devem passar a importadores.
Gradin afirma que o deslocamento do centro mundial da indústria química para o Oriente Médio faz parte de um esforço da região para agregar valor ao petróleo, que, em seus países, é de fácil extração, existe em abundância e a baixo custo. O presidente da Abiquim relata que nos últimos três anos houve um movimento de empresas árabes comprando indústrias européias e norte-americanas. Muitas foram fechadas e a produção deslocada para o Oriente Médio, de onde os dois mercados passaram a ser abastecidos.
A alta competitividade do Oriente Médio dificulta a vida das indústrias brasileiras do setor em função das importações e da competição em mercados internacionais. O Brasil é exportador e também importador de produtos químicos, mas tem saldo negativo na sua balança. Entre janeiro e junho deste ano, por exemplo, o Brasil importou US$ 10,9 bilhões em produtos do segmento e exportou US$ 4,6 bilhões. Ou seja, houve um déficit na balança do setor de US$ 6,3 bilhões. Enquanto a Arábia Saudita produz uma tonelada de eteno com custo de US$ 100, no Brasil as despesas para produzir a mesma tonelada são de US$ 850.
A indústria nacional, liderada pela Abiquim, está preparando um plano para se tornar mais competitiva. Ele será apresentado em outubro ao governo e à sociedade brasileira, de acordo com Gradin. O plano tem como meta elevar o Brasil, da nona posição, para a quinta em indústria química mundial até 2020. O objetivo é que o setor gere, até lá, 1,5 milhão de novos empregos. As indústrias vão fazer uma proposta que inclui desde alinhamento com a Petrobras, apoio para financiamento, melhorias tributárias, estímulo às exportações e soluções de infraestrutura até compromisso com investimentos e inovação.
Um dos grandes desafios, para o avanço da indústria, é a matéria-prima. O segmento está de olho no petróleo e no gás que deverá vir das descobertas brasileiras no pré-sal. Gradin afirma que não espera que o produto do pré-sal brasileiro tenha a mesma competitividade que no Oriente Médio, mas acredita que não deverá ter um preço maior do que o petróleo que há no Brasil hoje. O coordenador-adjunto dos programas de inovação tecnológica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), João Furtado, que também falou à imprensa ontem, questiona o futuro uso do petróleo do pré-sal.
Ele defende que os produtos sejam transformados, na indústria química, e vendidos com maior valor, e não sejam exportados como commodities. A venda imediata do produto geraria uma riqueza “fugaz”, segundo ele. Furtado acredita que, se ao invés disso, o petróleo receber valor dentro do Brasil, além de ter uma vida mais prolongada, ajudará a formar todo um conhecimento para o país. “Vamos exportar petróleo e consumir o petróleo de pré-sal em uma geração? Ou vamos dar-lhe vida mais longa e usar na indústria? Queremos exportar uma commodity de valor 1 ou usá-lo para o desenvolvimento brasileiro, na química, na agricultura, e exportar com valor 2, 3, 4 e 5?”