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A Tribuna (Santos, SP)

OMM alerta: 2013 é o sétimo ano mais quente da história

Publicado em 18 novembro 2013

A passagem do supertufão Hayan nas Filipinas, na última semana, que matou três mil pessoas e deixou mais de 800 mil desabrigados, alertou a população mundial em mais um episódio relacionado ao aquecimento global. De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), 2013 é o sétimo ano mais quente desde o início dos registros em 1850 e reforça que episódios climáticos extremos como o ocorrido no país asiático são agravados pelo aumento do nível do mar.

De acordo com a OMM, um acúmulo de gases do efeito estufa resultantes da ação humana na atmosfera significa que um futuro mais quente é agora inevitável. A agência afirmou que os primeiros nove meses deste ano empataram com o mesmo período de 2003 como o sétimo mais quente, com uma média de temperatura global na superfície da terra e do oceano 0,48ºC acima da média entre 1961 e 1990.

“Este ano, mais uma vez, dá continuidade à tendência de longo prazo em direção a temperaturas mais altas causadas pelo aquecimento global", disse Michel Jarraud, secretário-geral da OMM. ”Todos os anos mais quentes ocorreram desde 1998 e neste ano, mais uma vez, continua a tendência subjacente, de longo prazo. Os anos mais frios agora são mais quentes do que os anos mais quentes antes de 1998”.

Além do Hayan, a OMM lembrou de outros episódios extremos deste ano como as ondas de calor recordes na Austrália, o verão mais quente da história do Japão, além de enchentes do Sudão à Europa, listou a agência. Até o início deste mês, foram registrados 86 ciclones tropicais, de tufões a furacões no Atlântico, número próximo da média entre 1981 e 2010 de 89 tempestades.

A organização afirmou que ciclones tropicais como o Haiyan não poderiam ser diretamente atribuídos aos efeitos das mudanças climáticas. Mas “níveis do mar mais elevados já estão tornando populações costeiras mais vulneráveis a surtos de tempestades. Vimos isso com consequências trágicas nas Filipinas”, disse Jarraud. Os mares subiram cerca de 20 centímetros nos século passado.

Para a OMM, a região do planeta que mais sentiu o aquecimento neste ano foi a Austrália, onde as temperaturas foram mais extremas, chegando a bater os 50°C. Em 2012, Estados Unidos e Argentina registraram os verões mais quentes de suas histórias.

O alerta australiano foi dado em momento oportuno. Recentemente, o país da Oceania voltou atrás de sua decisão de reduzir 25% de suas emissões de gases de efeito estufa até 2020 e afirmou que vai cortar apenas 5%, agindo contra recomendações de sua própria agência, de diminuir pelo menos 15% de CO.

“Além do aumento nas temperaturas globais, a projeção aponta para muitos exemplos de clima extremo, da Grã-Bretanha à Rússia, do Sudão à Argentina. Também destaca o grande impacto da mudança climática no gelo do Mar do Ártico, na camada de gelo da Groenlândia, no gelo do mar da Antártida e no aumento global do nível do mar”, diz a OMM.

BRASIL

O Brasil também foi lembrado pela OMM. Segundo a agência, o País sentiu neste ano temperaturas mais elevadas no Nordeste. O trabalho também confirma que o índice de chuvas ficou muito abaixo da média na região, o que levou à ocorrência da pior seca dos últimos 50 anos na região. O déficit de chuva, de acordo com informações do levantamento, é o pior desde que os registros tiveram início, em 1979.

Na contramão da tendência de aquecimento no mundo, o gelo no mar ao redor da Antártida expandiu a um tamanho recorde. “Padrões de ventos e correntes oceânicas tendem a isolar a Antártida dos padrões de tempo globais, mantendo-a fria”, disse a OMM.

Oceanos: maior acidez em 300 mi de anos

Os gases de efeito estufa gerados pela queima de combustíveis fósseis estão tornando as águas dos oceanos mais quentes, ácidas e com pouco oxigênio por causa da elevação dos níveis de carbono, alerta relatório feito por uma equipe internacional de 540 cientistas e divulgado pela Organização das Nações Unidas. A taxa de acidez é a maior dos últimos 300 milhões de anos.

Os cientistas estimam que os oceanos já estão 26% mais ácidos em relação ao ano de 1880. O grupo afirma que o aquecimento médio das águas se dá pelas altas quantidades de dióxido de carbono provenientes da queima de carvão, petróleo e gás. O efeito imediato é o desaparecimento de milhares de espécies marinhas.

PACíFICO

Na costa do Oceano Pacífico, nos Estados Unidos, por exemplo, a situação chega a um nível de 80% a mais de acidificação do que havia sido originalmente previsto pelos pesquisadores, segundo estudo do cientista Richard Feely, da National Oceanic and Pacific Marine Environmental Lab, de Seattle.

“Nesses níveis, as conchas de alguns moluscos, como ostras e mexilhões, começam a corroer. Esta é mais uma perda que estamos enfrentando. Vai afetar a sociedade humana”, afirma o bioquímico Ulf Riebesell, um dos integrantes do grupo.

Estima-se que 41% dos mares e oceanos do planeta se encontrem fortemente impactados pela ação humana, segundo estudos.

Temperatura do planeta pode subir 4,8 graus

Se as emissões de gases do efeito estufa continuarem crescendo às atuais taxas nos próximos anos, a temperatura do planeta poderá aumentar 4,8 graus Celsius. A elevação resultará em uma elevação de até 82 centímetros no nível do mar e causar danos importantes nas regiões costeiras.

O cenário mais otimista prevê um aumento da temperatura terrestre entre 0,3°C e 1,7°C de 2010 até 2100 e uma variação do nível do mar entre 26 e 55 centímetros. Já no pior cenário, a superfície poderia aquecer entre 2,6°C e 4,8°C, fazendo o nível dos oceanos subir entre 45 e 82 centímetros.

“O nível dos oceanos já subiu em média 20 centímetros entre 1900 e 2012. Se subir outros 60 centímetros, com as marés, o resultado será uma forte erosão nas áreas costeiras de todo o mundo. Rios como o Amazonas, por exemplo, sofrerão forte refluxo de água salgada, o que afeta todo o ecossistema local”, diz Paulo Artaxo, professor da USP em entrevista à Agência Fapesp.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente lançou no início deste mês a edição 2013 do Relatório sobre a Lacuna de Emissões (do inglês Emissions Gap Report), estudo que analisa a real possibilidade do aumento da temperatura global ser menor ou igual a 2 °C até o ano de 2100.

A principal conclusão do estudo é que, ainda que as nações cumpram os seus atuais compromissos climáticos, as emissões de gases de efeito de estufa em 2020 deverão provavelmente ser de 8 a 12 gigatoneladas de COequivalente (GtCOe) acima dos valores projetados para manter o limite de 2°C.

DA REDAÇÃO