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Olho da evolução (1 notícias)

Publicado em 03 de novembro de 2004

Não existe muita diferença entre os fotorreceptores de um ser humano e os de um poliqueta marinho que há pelo menos 500 milhões de anos não sofre nenhuma grande transformação evolutiva O único ponto divergente, segundo estudo realizado pelo Laboratório Europeu de Biologia Molecular, publicado na edição de 29 de outubro da revista 'Science', é a localização desses grupos de células. Os cientistas alemães Detlev Arendt e Jochen Wittbrodt descobriram algumas células sensíveis à luz que, no passado distante, funcionavam no cérebro de alguns invertebrados. Depois de sucessivas etapas evolutivas, elas acabaram migrando para o cérebro dos vertebrados. Ali, transformaram-se em cones e bastonetes, estruturas essenciais para o eficiente sistema de visão humano. "Não chega a ser uma grande surpresa que as células dos olhos humanos migraram do cérebro. Ainda hoje temos células em nosso cérebro que detectam luz e influenciam em nosso relógio biológico", afirma Wittbrodt. Para se chegar à conclusão de que provavelmente houve, há milhões de anos, um ancestral comum entre vertebrados e invertebrados com uma espécie de olho no cérebro, os pesquisadores europeus analisaram um verdadeiro fóssil vivo, o Platynereis dumerilli, uma espécie de anelídeo marinho que há cerca de 500 milhões de anos não sofre nenhuma grande transformação evolutiva. Os cientistas dizem ter ficado surpresos ao perceber que as células fotossensíveis encontradas no cérebros dos anelídeos eram muito semelhantes aos cones e bastonetes humanos. Segundo Wittbrodt, eles estão convencidos de que tanto os fotorreceptores humanos como os dos invertebrados estudados tiveram uma origem em comum. Os pesquisadores europeus sustentam a afirmação da origem comum em impressões digitais moleculares encontradas nos dois grupos de células, além da presença comum também de um pigmento como a opsina. A descoberta teria ajudado bastante Charles Darwin (1809-1882), uma vez que o autor da Teoria da Evolução achava absurdo propor que o olho humano teria evoluído a partir de mutações espontâneas e pela seleção natural. O artigo Ciliary Photoreceptors with A Vertebrate-Type Opsin in an Invertebrate Brain, de D. Arendt, K. Tessmar-Raible, H. Snyman e J. Wittbrodt, do Laboratório Europeu de Biologia Molecular at European Molecular Biology Laboratory em Heidelberg, na Alemanha, e outros, pode pode ser lido no site da revista Science, em http://www.sciencemag.org (Agência Fapesp, 3/11) JC e-mail 2639, de 03 de Novembro de 2004.