A Escola de Engenharia de São Carlos vem aumentando seu conhecimento em tecnologia de ponta. Este ano, além do Prêmio Peão da Tecnologia para um software de revisão gramatical, teve uma atuação diferenciada na Feira de Alta Tecnologia de São Carlos.
A cidade de São Carlos, a 270 km da capital, cresce no ritmo do conhecimento e da alta tecnologia. Considerada como pólo tecnológico devido a centenas de produções científicas em áreas estratégicas oriundas de universidades e outros centros de pesquisa, está proporcionando o surgimento de empresas com bases tecnológicas, que transbordam dos centros de excelência. Para dar unidade a essa overdose de ciência, vem sendo promovido pela Fundação ParqTec São Carlos, em parceria com mais 50 instituições, o Oktobertech, um evento oficial que acontece todo ano no mês de outubro.
Durante esse acontecimento são realizados vários tipos de atividade nos setores de ciência e tecnologia, educação e cultura, empresas e negócios, esporte e lazer. Entre os mais de 130 eventos, que expõem as últimas novidades da cidade, destaca-se a Fealtec - Feira de Alta Tecnologia de São Carlos.
Este ano, o software ReGra, um revisor gramatical automático de português, desenvolvido pelo Núcleo Interinstitucional de Lingüística Computacional (Nilc), foi a grande vedete, recebendo menção honrosa do VI Prêmio Peão da Tecnologia de São Carlos 1998. O projeto é fruto de uma parceria entre a USP e a Itautec/Philco, com apoio da Fapesp, Finep e Fundação de Apoio à Física e à Química (leia texto ao lado).
PARTICIPAÇÃO DIFERENCIADA
Paralela à Fealtec acontece também a Mostra de Transferência de Tecnologia. Apresenta produtos e serviços de tecnologia desenvolvidos nas universidades e centros de pesquisa, prontos para serem transferidos para o setor produtivo.
Segundo Renato Luiz Sobral Anelli, professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos e integrante da comissão do estande da USP, este ano a participação da comunidade uspiana na feira foi diferenciada. "Ao invés de cada unidade montar separadamente seu espaço, ficou decidido que seria um único estande para todas as unidades, sendo os trabalhos relacionados por temática."
Para João Fernando Gomes de Oliveira, coordenador do estande, a participação da comunidade acadêmica foi altamente positiva. "Conseguimos ter uma visão do conjunto de todas as pesquisas que vêm sendo desenvolvidas no campus de São Carlos, além de conseguirmos estabelecer alguns projetos de colaboração entre nós mesmos, uma coisa muito difícil de acontecer já que a individualização é de praxe."
Todas as pesquisas selecionadas tiveram como ponto comum o ser humano como razão do desenvolvimento tecnológico. Desse tema central dois subgrupos foram caracterizados e apresentados em forma de painéis com fotos coloridas.
De forma harmoniosa, o painel Olho procurou concentrar as intervenções não agressivas ao corpo humano, tais como os implantes realizados com polímeros à base de óleo de mamona e cerâmica de alta resistência, "que não causam reação como os implantes metálicos que resultam na metalose", ressalta Anelli. Também mostrou as pesquisas com ressonância magnética, topógrafo de córnea e desenvolvimento de microscópios para uso didático.
"Nesse painel mostramos uma tecnologia importante para o ser humano, mas não agressiva ao meio ambiente", observa.
O painel Corpo procurou relacionar as pesquisas com implantes como válvulas, ossos, juntas de articulações, pele artificial, tudo desenvolvido pelo Instituto de Química da USP de São Carlos. Já o painel Extensões tinha como objetivo apresentar as pesquisas que contribuem, de uma forma ou de outra, na produção intelectual como também na produção de bens de consumo para o ser humano. "Por exemplo, o ReGra (revisor gramatical) representava o lado intelectual, já a fábrica integrada modelo, onde robôs e máquinas eram manuseados por controle remoto representando uma indústria do futuro, representava o outro lado", explica Oliveira.
O Instituto de Química mostrou, através do painel Energia, carros movidos a bateria e outras fontes alternativas de energia, como as células de combustível, a mais recente tecnologia que vem sendo estudada mundialmente - "a menina dos olhos de todos os pesquisadores envolvidos com novas alternativas de energia", ressalta Anelli.
As contribuições que o campus de São Carlos vem dando à população brasileira na área de proteção ambiental foram mostradas no painel Ambiente. "Mostramos projetos em educação ambiental, reciclagem de material e construções ecológicas", lembra Oliveira. Nesse painel, o Laboratório de Técnicas de Materiais de Construção, do Departamento de Arquitetura, enriqueceu o estande com trabalhos baseados em fontes renováveis ou reciclagem de lixo. Oliveira diz ainda que através de raspas de pneu de caminhão, garrafa pet moída (garrafa plástica), bagaço de cana-de-açúcar ou serragem, o laboratório vem desenvolvendo juntamente com polímeros de óleo de mamona um novo tipo de material que pode ser utilizado como piso, parede ou forro, barateando o custo da habitação no Brasil.
Além dos painéis, os visitantes contavam também com uma sala de aula onde os pesquisadores explicavam o trabalho que desenvolvem na Universidade. "Foram 72m2 de muita tecnologia e aprendizado", alegra-se Oliveira. "Toda a concepção de espaço foi elaborada pelos alunos de arquitetura que traçaram um novo projeto, moderno e arrojado."
Para Anelli, a feira contribui para que a Universidade ponha para fora de seus muros o que tem sido feito em nível de pesquisa e que pode melhorar a qualidade de vida das pessoas. "Queremos mostrar que as pesquisas não são distantes das pessoas e que potencialmente elas contribuem muito para o bem-estar de todos", conclui Oliveira.
A PALAVRA CORRETA SEM SEGREDOS
Fazer revisão ortográfica no computador já era moleza; agora então, será ainda mais fácil para os usuários de editor de texto que precisam descobrir onde estão os erros da complexa gramática portuguesa. Chegou o ReGra, Revisor Gramatical Automático para Português, desenvolvido por uma equipe de lingüistas e profissionais da área de computação do Núcleo Interinstitucional de Lingüística Computacional (Nilc) da Escola de Engenharia de São Carlos, da USP, e que será incluído na próxima versão do Microsoft Office, garantindo distribuição em todo o mundo. Segundo Maria das Graças Volpe Nunes, coordenadora do projeto e professora do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da EESC, desde 1994, quando surgiu o revisor ortográfico, a pesquisa para o revisor gramatical já estava iniciada. Desde então, ano a ano vem sendo aprimorado. "Contamos com a ajuda de pesquisadores da Unicamp que desenvolvem rotinas de compactação do léxico e rotinas de acesso a esse léxico, um suporte tanto do corretor ortográfico quanto do gramatical."
ORTOGRAFIA E GRAMÁTICA
Entre o corretor e o revisor existem diferenças específicas. Cabe ao corretor ortográfico uma tarefa mais simples, a de verificar se a palavra digitada pertence ou não a uma lista de palavras em português que o programa conhece. "Essa lista nunca é completa", alerta Maria das Graças. "Contamos com um léxico de 1,5 milhão, incluindo conjugação de verbo, diminutivo, aumentativo etc." Já o revisor gramatical tem uma tarefa mais complexa. Ele detecta grande número de erros comuns cometidos por usuários de segundo grau escolar. É capaz de indicar e sugerir alternativas para erros ortográficos, mecânicos (colocação irregular ou falta de pontuação no final da frase), e erros gramaticais relativos ao uso da crase, regência, concordância verbal e nominal, colocação pronominal e inadequações lexicais. "O ReGra verifica a estrutura sintática da sentença, que pode ser qualquer uma porque trabalhamos com um editor de texto aberto. Sua pretensão não é entender e sim extrair e oferecer opções gramaticais corretas de construção", observa Maria das Graças. No entanto, o maior desafio, ainda segundo a pesquisadora, é resolver as ambigüidades do ponto de vista semântico, ou seja, identificar todas as funções sintáticas que uma palavra ou expressão podem assumir numa frase.
Maria das Graças diz que uma nova função foi inserida nessa versão, a minigramática. "Essa função permite um aprofundamento maior no estudo do Português. Com essa ferramenta dá para consultar exemplos, contra-exemplos e navegar por informações sobre todos os erros previstos no sistema."
Na forma de hipertexto, a gramática permitirá ir além da primeira consulta, que oferece informações muito resumidas para explicar o funcionamento da regra e ao mesmo tempo ensinar conceitos. "Ela faz uma correlação entre os erros cometidos e todos os tópicos contidos em um livro de gramática convencional de Forma contextualizada, com base em textos contemporâneos e no do próprio usuário."
Notícia
Jornal da USP