Estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) mostra que as alterações feitas no transporte coletivo por ônibus na capital paulista, durante a pandemia de covid19, expôs mais à doença as pessoas moradoras da periferia da cidade. A pesquisa foi desenvolvida pelo Centro de Estudos da Metrópole da Universidade de São Paulo. Em março, com o início da quarentena na capital, a prefeitura de São Paulo autorizou gradativamente a redução da frota de ônibus em razão da diminuição de passageiros. Com a reabertura ao público, nas últimas semanas, de parte dos setores da economia, como shoppings e escritórios, a administração municipal voltou a elevar a presença dos ônibus nas ruas.
No entanto, de acordo com a pesquisa, a redução do número de ônibus nas linhas que atendiam as regiões mais distantes do centro da cidade foi maior do que, proporcionalmente, a registrada na região central. Dessa forma, apesar da diminuição da demanda — em razão do menor número de passageiros nas ruas os ônibus que circulavam na periferia permaneceram com elevada concentração de passageiros, expondo mais seus usuários à covid-19. Segundo o estudo, as linhas da região central tiveram redução de 68% de passageiros, e de 61,3% na quantidade de ônibus. Já na região leste, a demanda reduziu 63,6% e a oferta de ônibus, 61,6%. Na região sul, a demanda caiu 62,3%, e a oferta, 60,7%; na norte, a demanda caiu 59,8%, e a oferta, 55,5%; e na oeste, a demanda caiu 51,7%, e a oferta, 48,9%. Ou seja, a folga criada pela redução da oferta de ônibus foi maior no centro do que na periferia. “ Como resultado, nas regiões mais afastadas, a lotação dos ônibus se mantém muito próxima dos já altos níveis observados antes da pandemia, o que contribui para a disseminação do vírus e aumenta as desigualdades entre as regiões e populações ”, diz o texto da pesquisa.
O estudo foi coordenado por Mariana Giannotti, pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM-Cepid/Fapesp) e professora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), e teve participação dos pesquisadores Tainá Bittencourt e Pedro Logiodice, ambos da Poli-USP e do CEM. “ Além de não reduzirem as taxas de lotação observadas nos anos anteriores, no sentido de diminuir a exposição e contaminação nos trajetos,[ as mudanças] geraram muitas vezes condições ainda piores do que antes da pandemia ”, destacam os cientistas na pesquisa. Prefeitura A prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes e da SPTrans, informou que, desde o início da quarentena em São Paulo, manteve a frota de ônibus operando em níveis acima da demanda apresentada. “ No grupo local de distribuição, que atende as regiões mais periféricas da cidade, a oferta foi mantida acima da demanda transportada ”, disse em nota. Segundo a pasta, a frota foi reforçada ao longo dos últimos três meses. Atualmente, com a reabertura do comércio, ela passou a operar com 92% da totalidade, com a demanda em torno de 40% dos passageiros transportados antes da quarentena.
A SPTrans disse ainda que tem concentrado seus esforços para que diversas práticas fossem incorporadas na rotina do sistema. “ Além da limpeza mais pesada já realizada diariamente nas garagens em todos nos veículos, a higienização passou a ser feita também entre as viagens, nos terminais, principalmente nos locais onde há contato mais frequente dos passageiros, como balaústres, corrimãos e assentos ”.