O navio oceanográfico da Universidade de São Paulo ganhará um novo motor em janeiro do próximo ano e deverá voltar ás pesquisas cientificas três meses depois. O novo propulsor do navio Prof. W. Besnard está sendo importado da Alemanha a um custo de US$ 150 mil (cerca de R$ 300 mil)
Os recursos para a sua aquisição virão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)
O diretor do Instituto Oceanográfico (IO) conseguiu vencer o primeiro round na luta pelo que ele considera o principal laboratório da sua unidade: o navio. Com os seus argumentos. Rolf Roland Weber convenceu a Fapesp, a Comissão de Orçamento e Patrimõnio da USP (COP) e a própria Fundação de Estudos e Pesquisas Aquáticas (Fundespa), vinculada ao IO, a liberarem recursos para que o navio deixe o estaleiro Wilson Sons, no Guarujá, e volte a fazer pesquisas na cosia brasileira. Por apresentar deleito no motor principal, o navio está parado desde agosto do ano passado. A Fapesp financiara a compra do novo motor diesel e a sua caixa redutora de rotação, além da classificação dos equipamentos para fins de seguro, a um custo de US$ 150 mil (aproximadamente R$ 300 mil). Os recursos necessários para os consertos a serem feitos no navio serão liberados pela COP (R$ 100 mil) e pela Fundespa (R$ 53 mil). Isso significa um custo total de aproximadamente R$ 450 mil, bem próximo do que Rolf Weber estimou no início do ano. Com estas reformas, o diretor do IO acredita que o navio oceanográfico poderá navegar na costa brasileira durante cinco anos sem apresentar nenhum problema. Isso dará fôlego para que o Instituto Oceanográfico continue se empenhando no projeto de um novo navio, que vem sendo desenvolvido pelo Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica (Poli) e pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU). O novo navio deverá ter 45 metros de comprimento, cerca de cinco metros a menos do que o Besnard. Na Poli o projeto da nova embarcação está sob a responsabilidade de Célio Taniguchi e do seu assistente Hélio Mitto Morishita. Nesta entrevista Rolf Weber fala sobre o navio da USP que já completou 32 anos, do projeto da nova embarcação e das pesquisas do Instituto Oceanográfico.
Jornal da USP - No início do ano o senhor discutia duas hipóteses sobre o motor do navio oceanográfico: reforma ou substituição. A melhor opção foi a importação de um novo sistema propulsor?
Rolf- O motor original do navio Prof. Besnard já tinha 31 anos de idade na época em que apresentou problema no motor principal, em junho de 1995. Portanto, hoje, o navio já tem mais de 32 anos. Recuperar um motor com essa idade era uma opção, no mínimo, arriscada. Assim, apôs a consulta a vários especialistas, inclusive da Poli e do estaleiro Wilson Sons, chegamos à conclusão de que a decisão correta seria colocar um novo motor no navio. Aliás, a Fapesp condicionou o financiamento de US$ 150 mil para a compra de um motor novo e não para a reforma do antigo sistema propulsor. Os recursos para as obras complementares a serem feitas na embarcação foram conseguidos junto a Fundespa, entidade conveniada á Universidade e vinculada ao IO, e á Comissão de Orçamento e Patrimônio. A COP vai liberar R$ 100 mil no orçamento de 2000 e a Fundespa financia R$ 53 mil.
JU - O novo motor do navio
oceanográfico é produzido pela empresa Dutz. A.G. da Alemanha e deverá chegar em janeiro ao Brasil. O que é esse novo sistema propulsor?
Rolf - O novo motor já virá pronto para ser colocado no navio. Vira classificado para fins de seguro, acoplado a uma caixa redutora, para reduzir a sua alta rotação no eixo da hélice, além de uma garantia de dois anos. Isso nos dá a garantia que não teremos nenhum problema, hipótese que não aconteceria se a opção fosse reformar o motor antigo, cujas peças não existem mais no mercado e teriam que ser fabricadas.
JU - Quando o navio voltará a navegar como o novo motor?
Rolf - Existe uma previsão de 80 dias para que sejam feitas as obras de substituição. Eu diria que no fim de março ou no mais tardar em abril de 2000 nós estaremos navegando de novo.
JU - Quais os projetos prioritários que serão retomados com a volta do navio oceanográfico?
Rolf - Na verdade as atividades de pesquisa do Instituto Oceanográfico não pararam em função do navio. O Programa de Avaliação do Potencial Sustentável dos Recursos Vivos da Zona Econômica Exclusiva, o Revizee, já foi iniciado há alguns anos e tem por objetivo o reconhecimento dos recursos hídricos da zona econômica exclusiva. Embora esteja mais dirigido para a pesca, o programa envolve toda a área geológica, física e química, pois não se pode estudar o estoque de pescado sem conhecer o ambiente. Portanto, o Revizee continua em andamento, utilizando-se as demais embarcações do programa, que são as do Ibama, da Fundação Universidade Federal de Rio Grande, do Rio Grande do Sul, e da própria Marinha do Brasil. Portanto, o programa em si não foi interrompido. O que não foi possível realizar foi a continuidade dos cruzeiros com o Besnard. Mas existem verbas a locadas para isso e certamente o primeiro cruzeiro a ser realizado com o Prof. Besnard tratará das pesquisas do programa Revizee. Serão estudados os tutores físicos, biológicos e químicos da região entre o cabo de São Tomé, no litoral norte do listado do Rio de Janeiro, e o cabo de Santa Marta, no litoral sul do Estado de Santa Catarina, Ou seja, a pesquisa abrange toda a região que tem o maior potencial de pescado do País.
JU - Quando deixar o estaleiro em abril, quanto tempo o Prof. W. Besnard ainda poderá navegar fazendo pesquisas?
Rolf - Com um novo motor o Besnard estará em uma condição muito boa. Em 1997 ele sofreu uma reforma completa de casco e infra-estrutura. Dessa forma, eu diria que nos teremos mais cinco anos sem o navio apresentar problemas No entanto, a médio ou a longo prazo nós teremos que substituir o navio.
JU - Como está o projeto do novo navio da USP?
Rolf - Está em andamento na Poli. Sob a supervisão do professor Hélio Morishita, o projeto está sendo feito pelos alunos do Departamento de Engenharia Naval e Oceânica, que estão recebendo bolsas do Instituto Oceanográfico, equivalentes ao valor de uma bolsa de iniciação científica. A parte do interior do navio está sendo desenvolvida por alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, a FAU, sob a coordenação do professor Júlio Maia. Em março ou abril o projeto do novo navio deverá estar concluído. Aí iremos atrás dos recursos para financiar a construção do navio no Brasil.
JU - Quem poderia financiar um navio desse porte para a USP?
Rolf - Existem várias idéias. Nós temos um representante da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a Fiesp, no Conselho Universitário. Trata-se do empresário Ion Crisan. Ele disse que a Fiesp tem interesse em ajudar a patrocinar esse empreendimento, porque a indústria naval brasileira está muito deficitária. Recentemente, um dos maiores estaleiros do Rio de Janeiro, o Verolme, foi praticamente desativado. A idéia e construir esse navio em São Paulo, provavelmente em um estaleiro associado ao Wilson Sons. A exemplo do que aconteceu com o Besnard, a conta não será paca por um único financiador. A Fiesp vai nos ajudar a procurar os caminhos
JU - Qual o custo estimado do noto navio?
Rolf- Ficaria na faixa de US$ 8 milhões. O projeto prevê um navio com todas as características modernas, equipado com tecnologia de ponta e com o tamanho aproximado do Besnard.
JU - Com o novo navio oceanográfico a USP voltaria às pesquisas na Antártida?
Rolf - Não, porque nós não construiremos um navio polar. A ida do Besnard à Antártida foi uma coisa absolutamente necessária, porque na época a Marinha do Brasil também não dispunha ainda de um navio mais adequado. Na época a USP foi chamada para um compromisso nacional, estratégico. O navio que vai ao Pólo Sul permanece praticamente seis meses na Antártida, período de verão na região. Ele tem que sair daqui em novembro e retornar em abril. Com isso, a embarcação não fica disponível para as pesquisas na costa brasileira, época propícia para o estudo de desova, reprodução etc. A situação agora é bem mais confortável porque a Marinha possui o navio Ary Rongel, embarcação específica para pesquisas na Antártida. Os pesquisadores do Instituto Oceanográfico embarcam nesse navio junto com colegas de outras universidades. Antártida é um compromisso grande demais para a USP. É um projeto nacional que tem que ser estruturado em nível nacional.
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Jornal da USP