A obra Monteiro Lobato Livro a Livro – Obra infantil, organizada pelos professores Marisa Lajolo, da Unicamp, e João Luís Ceccantini, da Unesp, recebeu na noite de quarta-feira (4) o Prêmio Jabuti de melhor livro do ano de não ficção. A premiação, concedida pela Câmara Brasileira do Livro, tem um importante significado institucional, como fez questão de assinalar a docente da Unicamp. “É o reconhecimento ao trabalho realizado por uma equipe de mestrandos e doutorandos da Universidade, que se envolveu de corpo e alma em um projeto temático financiado pela Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo]”, afirmou.
De acordo com Marisa Lajolo, que está ligada ao Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), o livro foi gestado durante quatro anos. Ela destaca que a obra não se resume à compilação de artigos independentes sobre a obra do autor brasileiro. “Ao contrário, cada capítulo foi projetado com uma estrutura específica, de modo a fazer uma espécie de making of de cada livro infantil de Lobato”, explica. A professora da Unicamp considera que a conquista do Jabuti pode contribuir para repor em circulação a obra infantil de Lobato, “um autor ainda muito mal estudado no Brasil”, segundo o seu entendimento.
Para a especialista, Lobato é “mal amado” por quem se dedica ao estudo da literatura brasileira. Isso ocorre, conforme Marisa Lajolo, porque há uma tendência entre os estudiosos da área de não fazer opção por autores muito lidos. “Muita gente prefere autores mais cifrados, que exigiriam um maior esforço de interpretação. Na visão dessas pessoas, Lobato é um escritor muito popular”, explica. Apesar dessa postura, acrescenta a docente da Unicamp, a obra lobatiana tem despertado cada vez mais interesse fora do Brasil. “Acabei de chegar de Cuba, onde participei de um congresso, e pude constatar essa tendência entre os pesquisadores com os quais mantive contato”, revelou.
Entre as características mais importantes de Lobato Marisa Lajolo destaca o fato de o escritor ter sido um homem muito conectado com a realidade que o cercava. De certo modo, ele pode ser apontado até mesmo como um visionário. Prova disso é que escreveu, em 1926, inicialmente em forma de folhetim, o seu único romance adulto intitulado O presidente negro. A história, ambientada em 2228, conta a trajetória do personagem Jim Roy, um negro que concorre à presidência dos Estados Unidos. No texto, o autor trata de temas ainda muito atuais, como segregação racial, aculturação e feminismo.
Como se não bastasse, Lobato também profetiza o surgimento de uma rede ampla através da qual as pessoas se comunicariam e trabalhariam à distância. Após a eleição de Barack Obama para a presidência dos EUA, o livro despertou o interesse dos norte-americanos. Atualmente, o texto está sendo traduzido para o inglês. Segundo Marisa Lajolo, logo após o anúncio da conquista do Jabuti por Monteiro Lobato Livro a Livro – Obra infantil, seu telefone não parou de tocar. “Além dos amigos cumprimentando pelo prêmio, dois editores me ligaram perguntando se tenho outros trabalhos para publicar. Esse interesse é muito positivo, pois reforça o reconhecimento à qualidade dos estudos e pesquisas realizados na Unicamp, uma universidade pública”, analisa.
Serviço
Título: Monteiro Lobato Livro a Livro – Obra infantil
Organizadores: Marisa Lajolo e João Luís Ceccantini
Autores: Diversos
Páginas: 512
Editora: Editora da Unesp e Imprensa Oficial
Preço sugerido: R$ 62,00
OUTROS PREMIADOS
O livro Tarsila do Amaral, da Editora da Unicamp, organizado pela professora Lygia Eluf, do Departamento de Artes Plásticas do Instituto de Artes (IA), também recebeu o Jabuti na Categoria Arquitetura e Urbanismo, Fotografia, Comunicação e Artes. Rubem Alves, professor aposentado da Faculdade de Educação, foi um dos vencedores da categoria Contos e Crônicas com o livro Ostra feliz não faz pérola, pela Editora Planeta do Brasil.