Na última sexta-feira, o Movimento Sem Terra (MST) publicou uma nota lamentando a morte do professor Aziz Ab"Saber. Aziz morreu em sua casa, em São Paulo, aos 87 anos. Mas sua história vai muito além de sua colaboração com o movimento. Estudioso da área ambiental e da geografia, ele foi autor de estudos e teorias fundamentais para o conhecimento dos aspectos naturais e dos impactos ambientais no Brasil. Suas pesquisas e tratados tiveram relevância internacional nas áreas de ecologia, biologia evolutiva, fitogeografia, geologia, arqueologia e geografia.
Como que em um gesto de despedida involuntário, Ab"Saber visitou a sede da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), da qual era presidente de honra, e entregou à secretaria sua obra consolidada, com suas pesquisas desde 1946 a 2010.
"Tenho o grande prazer de enviar para os amigos e colegas da universidade o presente DVD que contém um conjunto de trabalhos geográficos e de planejamento elaborados entre 1946-2010. Tratando-se de estudos predominantemente geográficos, eu gostaria que tal DVD fosse levado ao conhecimento dos especialistas em geografia física e humana da universidade", disse Ab"Saber.
Aziz autografa livro na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP Aziz autografa livro na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP
Sua última obra será o terceiro volume da coleção Leituras Indispensáveis, a ser publicado pela SBPC, e traz uma homenagem ao trabalho dos primeiros geógrafos no interior do Brasil. Helena Nader, presidente da SBPC, ressalta que, apesar da aposentadoria, Aziz não deixou de manter a atividade acadêmica e intelectual.
"O professor Aziz mantinha uma lucidez impressionante e estava extremamente ativo, dedicando-se a causas da máxima importância para a humanidade. Nos tempos recentes, ele vinha lutando para que fossem ouvidas suas sérias críticas à proposta de reforma do Código Florestal, que, em sua visão, não leva em consideração o zoneamento físico e ecológico do Brasil. Sua morte foi uma perda irreparável", disse Helena.
Código da Biodiversidade
O estudioso era um crítico do projeto de reforma do Código Florestal brasileiro, em tramitação no Congresso Nacional. Ele defendia a criação de um Código de Biodiversidade para contemplar a preservação das espécies animais e vegetais em todos os biomas brasileiros.
"Enquanto o mundo inteiro trabalha para a diminuição radical de emissão de CO2, o projeto de reforma proposto na Câmara Federal de revisão do Código Florestal defende um processo que significará uma onda de desmatamento e emissões incontroláveis de gás carbônico, fato observado por muitos críticos em diversos trabalhos e entrevistas", criticou o estudioso em um artigo.
Para ele, a utopia de um desenvolvimento com o máximo de florestas em pé não poderia ser eliminada em função de mudanças radicais do Código Florestal.
Premiado
Ab"Saber recebeu diversos prêmios, como o Jabuti em ciências humanas (1997 e 2005) e em ciências exatas (2007), o Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia (1999), a Medalha de Grão-Cruz em Ciências da Terra da Academia Brasileira de Ciências e o Prêmio Unesco para Ciência e Meio Ambiente (2001). Ganhou também o Prêmio Fundação Conrado Wessel em 2005 e recebeu o título de professor honoris causa da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em 2006.
*Com Agência Fapesp