Notícia

Agro.MT

o que prevaleceu na semana e as perspectivas (48 notícias)

Publicado em 17 de novembro de 2024

Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveram um pão com farinha de casca de jabuticaba que pode se tornar uma alternativa para quem precisa controlar os níveis de açúcar no sangue (glicemia), como é o caso de pessoas com diabetes. Os resultados dos testes foram publicados na revista Foods.

Embora o pão seja um alimento largamente consumido, sua composição rica em carboidratos gera picos glicêmicos acentuados, o que pode ser indesejado.

Nesse sentido, apontam os autores, a panificação tem buscado diversificar os produtos com formulações para agregar valor nutricional, além de apostar em métodos de fermentação que favoreçam uma resposta glicêmica menos intensa.

Segundo dados do artigo, a adição da farinha da casca de jabuticaba gerou aumento significativo de mais de 50% nas fibras. Além disso, a capacidade antioxidante também aumentou de 1,35 a 3,53 vezes, dependendo do teor de farinha de jabuticaba adicionada à formulação. Houve aporte de nutrientes e, com isso, melhora na composição nutricional do produto final.

Para avaliar o pico de glicemia, os autores realizaram um estudo crossover em que os participantes ingeriram um pão feito pelo método de fermentação natural longa (que por si só já gera menor pico glicêmico) e, na semana seguinte, o pão com a inclusão da farinha da casca da fruta

O pico de glicemia do pão sem a adição da farinha de jabuticaba foi observado 30 minutos após sua ingestão e permaneceu alto até 45 minutos, quando começou a baixar. Já no caso do alimento contendo o ingrediente à base de jabuticaba houve um pico mais tardio (após 45 minutos) e menos proeminente, decaindo suavemente ao longo de três horas.

Ação no m etabolismo humano

O aumento da glicemia ocorre ao consumir alimentos especialmente ricos em carboidratos, como pães, por exemplo. O processo de digestão libera glicose, que sinaliza ao pâncreas a necessidade de secretar insulina – e esta age de forma a retornar aos níveis anteriores de açúcar no sangue.

Falhas nesse processo levam a problemas de saúde, por isso é tão importante observar a magnitude dos aumentos de glicemia conforme a alimentação.

“Se tivermos menores aumentos na glicose e na insulina após as refeições, teremos menos chance de desenvolver diabetes e síndrome metabólica. Além disso, em quem já tem alterações na glicemia, controlar os aumentos da glicose após as refeições pode reduzir o risco de doenças cardíacas. Por fim, podemos aumentar a vida útil das células produtoras de insulina”, destaca um dos autores do artigo, Bruno Geloneze, professor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e pesquisador principal do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC).

Segundo a professora da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp e orientadora da tese que gerou a publicação, Cinthia Cazarin, o maior desafio da produção dos pães para os testes foi unir o fator tecnológico com a manutenção do valor nutricional e funcional do pão.

“A farinha da casca da jabuticaba apresenta características sensoriais bastante próprias, e sua inclusão teve de ser avaliada tanto em relação às características tecnológicas da panificação quanto relacionadas ao processamento e preservação dos compostos bioativos presentes”, conta.

Essa preservação era essencial porque as diferenças observadas na melhor curva glicêmica e na resposta à insulina estão associadas principalmente à quantidade de compostos fenólicos presentes na casca da fruta, como antocianinas – responsáveis por sua coloração arroxeada –, que não poderiam se “perder” durante o processo.

Sensação de saciedade

Outro ponto importante notado na pesquisa foi em relação à sensação de fome. Após uma hora, os relatos dos participantes quando consumiram o pão com a farinha de jabuticaba foram de maior sensação de saciedade do que quando ingeriram o pão-controle. Isso geralmente é observado, dizem os autores, quando o retorno da glicemia aos níveis basais é mais lento (gerado por alimentos com menor índice glicêmico).

Entre os resultados, destaca-se também a capacidade antioxidante, que foi monitorada por três horas após o consumo do alimento. Houve aumento considerável e por maior período na capacidade de neutralização de radicais livres de oxigênio após a ingestão do pão com a farinha especial.

“Essa melhoria na capacidade antioxidante é importante porque os processos de aparecimento de doenças metabólicas, cardiovasculares e oncológicas, além do envelhecimento em si, envolvem mecanismos de oxidação de proteínas em nosso corpo. A capacidade antioxidante de um alimento pode ser benéfica em todos esses mecanismos”, ressalta Geloneze.

Além disso, a vida útil do pão foi garantida por sete dias. Essa extensão do prazo de validade, dizem os autores, aponta que bactérias presentes na farinha da casca de jabuticaba e os metabólitos formados durante o processo de fermentação podem atuar como conservantes naturais em produtos de longa fermentação – que é um inibidor para o crescimento de microrganismos não desejados nesse produto.

Benefícios da j abuticaba

Nos últimos anos, muitos estudos estão focados na inclusão de ingredientes com alto valor biológico, especialmente subprodutos da agroindústria devido ao grande volume produzido, potencial nutracêutico e impacto ambiental associado ao descarte.

Nesse sentido, o professor da FEA-Unicamp e um dos autores do artigo apoiado pela Fapesp, Mário Maróstica, vem desenvolvendo há anos trabalhos sobre a caracterização de compostos bioativos em frutas nativas brasileiras.

O potencial do consumo de frutas roxas como a jabuticaba mostrou já alguns resultados promissores no sentido de prevenir ou retardar o aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis. “A casca da jabuticaba possui compostos fenólicos e fibras, que possuem efeitos demonstrados no controle da glicemia e de colesterol em diversos estudos”, destaca o professor.

Num desses estudos já havia sido caracterizada a eficiência do suco de jabuticaba para a redução da resistência à insulina e aumento da produção de um importante hormônio regulador da fome, saciedade e do controle glicêmico, o GLP-1 (cuja ação é emulada por medicamentos como semaglutida e liraglutida).

Com os resultados promissores avançando, as pesquisas do grupo que une departamentos das áreas de ciências médicas e engenharia de alimentos da Unicamp continuam investigando os bioativos da fruta e envolvem agora modelos animais para estudo de sua relação com a depressão e na prevenção do câncer colorretal.

Café raro extraído das fezes do jacu ultrapassa os R$ 30 mil por saca

Com uma plumagem preta e porte médio, a ave jacuaçu, popularmente conhecida como jacu, nem sempre foi bem-vinda nas lavouras de café.

Isso porque ela se alimenta dos grãos maduros, atrapalhando o rendimento da colheita. No entanto, de ameaça, a ave tem se tornado uma aliada e responsável pela produção de um dos cafés mais caros do Brasil, o café do jacu.

No sítio Pico do Boné, no município de Araponga, em Minas Gerais, a presença do pássaro é constante e motivo de satisfação para a cafeicultora Kátia Belo Martins, pois sinaliza que já está na hora da colheita e também haverá uma boa quantidade de grãos do suave e exótico café do jacu.

Ela conta que a ave não era bem-vinda na propriedade, mas mudou de ideia após conhecer a importância do pássaro como dispersor de sementes, contribuindo para a regeneração florestal, e também sobre o alto valor dos grãos que são retirados das fezes dele.

“Aqui tem muito jacu e a gente viu que, ao invés de espantar e vê-lo como inimigo, decidimos transformá-lo em aliado”, relata.

Café do jacu

A colheita dos grãos do café do jacu é feita manualmente e de forma cuidadosa, afinal é preciso procurar no chão onde estão as fezes da ave. É dessas fezes, parecidas com o tradicional doce “pé de moleque”, que se retiram os valiosos grãos de café.

Assim, todas as tardes, Kátia conta com a ajuda da mãe, da irmã ou do namorado para recolher os excrementos da ave.

Após recolhidas, as fezes passam por um processo de secagem para a retirada dos grãos de café, que em seguida são higienizados, secados, torrados, moídos e embalados.

Exótico e caro

Além de ser retirado das fezes de um pássaro, há outras características que fazem com que esse café seja considerado exótico e tenha alto valor agregado. O extensionista da Emater-MG Regivaldo Moreira Dias, explica que entre os fatores estão a qualidade dos grãos que o pássaro se alimenta, o processo de fermentação, a dificuldade de colheita e a baixa produção.

Dias informa que o pássaro se alimenta dos melhores grãos de café, garantindo uma boa qualidade final. Além disso, o processo de fermentação já ocorre no animal.

“O sistema digestivo do jacu só vai processar a casca e a polpa do café, que é a mucilagem. Então o grão fica praticamente intacto, mas ele já passou por uma fermentação natural que confere a esse grão características sensoriais muito superiores ao café comum”, explica.

Segundo Kátia Martins, a colheita exige um olhar atento e a produção é pequena, mas todo esforço vale a pena, pois a lista de espera para a compra do Penélope Majestosa (uma homenagem ao nome científico do jacu) é grande.

A comercialização, por enquanto, é feita apenas no país. O valor da saca (60kg) pode chegar a incríveis R$ 34 mil e o pacote de 150 gramas custa R$ 125.

O extensionista da Emater-MG ressalta a importância do pássaro para o setor cafeeiro. “O jacu não é um vilão. Na verdade, ele é um aliado, pois não está comendo o café, mas sim processando e produzindo um produto de melhor qualidade”, afirma.

Saiba em primeira mão informações sobre agricultura, pecuária, economia e previsão do tempo. Siga o Canal Rural no Google News

Pela primeira vez, cochonilhas são registradas no Vale do São Francisco

Seis espécies de cochonilhas-de-escama foram registradas pela primeira vez no Submédio do Vale do São Francisco, em Minas Gerais, a mais importante zona de produção de frutas tropicais do país, localizada na região semiárida.

As pragas foram encontradas em pomares de manga e uva, causando danos diretos aos frutos e comprometendo sua qualidade e o desenvolvimento das plantas.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Semiárido Tiago Cardoso da Costa Lima, a identificação correta das espécies que causam danos à cultura é a base para o manejo integrado de pragas.

“A partir dessa informação podemos conhecer melhor sobre a biologia do inseto e quais medidas de controle podemos adotar. Tem sido um trabalho constante conduzido na Embrapa Semiárido para ajudar os produtores no monitoramento dessas pragas”, destaca.

O pesquisador explica que as cochonilhas podem provocar a despigmentação da casca dos frutos e, mesmo mortas, continuam presas à superfície, prejudicando sua aparência. “Por isso, é importante que os produtores monitorem essas cochonilhas com cuidado na fase vegetativa, impedindo o aumento populacional e a posterior migração para os frutos”, ressalta.

Infestação e primeiros relatos

Os primeiros relatos de problemas causados por essas pragas foram feitos por produtores de manga, entre 2021 e 2022, que comunicaram à Embrapa sobre danos em folhas e frutos. Já em 2023 foi a vez dos produtores de uva relatarem infestação de cochonilhas no tronco da videira (foto acima), provocando, inclusive, a morte das plantas.

Em resposta, a Embrapa Semiárido realizou um levantamento em diferentes fazendas nos municípios de Petrolina (PE), Belém de São Francisco (PE) e Curaçá (BA) para coletar uma amostragem desses insetos. O material foi enviado para o Centro Estadual de Pesquisa Agronômica (Ceagro) do Rio Grande do Sul, onde foi identificado pela taxonomista Vera Wolff.

Espécies identificadas

Em videiras, foi identificada a ocorrência de duas espécies. A primeira, que ataca os troncos da planta, é a Melanaspis arnaldoi , restrita ao Brasil, com registros anteriores nas regiões Sudeste e Sul.

De acordo com a Embrapa, essa praga acarreta maiores custos com o manejo, pois os produtores têm adotado a prática de retirada da casca dos troncos para, em seguida, conduzir as pulverizações.

A segunda foi a Aonidiella orientalis , que infesta folhas, pecíolos, entrenós e bagas. A espécie é amplamente distribuída no mundo e possui uma elevada gama de plantas hospedeiras, sendo conhecida como praga de citros, mamão e manga.

Já em mangueiras foram identificadas quatro novas ocorrências de cochonilhas para a região: Mycetaspis personata Aonidiella comperei Chrysomphalus aonidum e Hemiberlesia lataniae . As três primeiras foram observadas em folhas e frutos e a última apenas em folhas.

A Aonidiella comperei foi a única espécie que ainda não havia sido registrada em cultivo de manga em nenhum país.

*Sob supervisão de Victor Faverin

Saiba em primeira mão informações sobre agricultura, pecuária, economia e previsão do tempo. Siga o Canal Rural no Google News

Quando o preço do azeite vai cair? Pesquisador da Esalq responde

O ano de 2024 tem sido marcado pela alta nos preços do azeite de oliva nos supermercados. No mês de junho, por exemplo, o produto subiu 50% e, desde então, continua em altos patamares.

O pesquisador da Esalq-USP, Carlos Eduardo Vian, ressalta que a redução da safra global por questões climáticas atingiu em cheio os principais produtores, como Espanha, Portugal, Itália Grécia e, também, os do norte da África.

“Esses países foram afetados por grandes ondas de calor nos últimos anos, o que impactou na produção, que ocasionou uma redução dos estoques mundiais”.

Contudo, de acordo com ele, as expectativas das principais associação de produtores de oliva da União Europeia é de uma boa safra 2024/25.

“Com isso, há uma expectativa de que haja uma redução de preços nos próximos meses. Não vamos voltar, necessariamente, a patamares de preços anteriores, mas deve haver uma redução para o início de 2025 e ao longo do primeiro semestre do ano. Devemos sentir isso nas gôndulas de supermercados aqui no Brasil”

Produção nacional

O presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), Renato Fernandes, diz que não é possível contar com a produção nacional para abater a escassez global do azeite. “Somos insignificantes no contexto global de produção, respondendo por apenas 0,5%, ou 500 mil litros por ano, mas temos grandes possibilidades de crescimento”.

De acorod com ele, para isso acontecer, é preciso aumentar a produção no Rio Grande do Sul e também no Sudeste, mas, também, contar com tempo, organização e parcerias.

“Isso tem acontecido. Posso relatar como exemplo concreto a vinda do Conselho Oleícola Internacional (COI) ao Brasil nas últimas semanas, o que tem nos aproximado muito dos grandes players para, realmente, o Brasil se tornar um grande produtor”.