Promessa de doses suficientes para a população de até 59 anos de idade no ano que vem também soa como alerta de disseminação da doença
A disparada de casos de dengue no Brasil já está deixando a comunidade médica e as autoridades de saúde em alerta - com sinais de crescente preocupação com a capacidade de atendimento nas unidades públicas e privadas, por causa do aumento da demanda. A expectativa é de uma incidência recorde histórica nos próximos meses, como a que desponta na região Sudeste e pode se alastrar em todo o território nacional, a partir da disseminação do sorotipo 3 da enfermidade, em expansão no país desde julho do ano passado. Mais de 75% dos casos prováveis estão concentrados na região, a mais populosa e a mais exposta ao sorotipo 3. O estado de São Paulo decretou, há poucos dias, situação de emergência, devido à dengue.
Certamente ciente do que vem por aí, o governo federal anunciou a produção de uma vacina brasileira, que ainda será registrada pela Anvisa – ou seja, passará por testes de eficácia – para distribuição de 60 milhões de doses anuais únicas em 2026. A pesquisa para o desenvolvimento do imunizante vem sendo feita há mais de 15 anos, pelo Instituto Butantan, e agora se encontra na fase final, possibilitando seu uso em larga escala – daqui a um ano, na melhor das hipóteses. Uma grande notícia, sem dúvida. Porém que carrega, também, a gravidade do momento atual, e a dúvida sobre o que pode ser feito para conter a expansão da epidemia no país. As duas vacinas em uso, aqui, contra a doença, são importadas e não chegaram em quantidade suficiente para o quadro existente. Por isso, a população atendida é restrita aos adolescentes de 10 a 14 anos, considerados de alto fator de risco.
Para não continuar perdendo a guerra da saúde para o mosquito, os governos precisam atuar de maneira preventiva, permanente e integrada, em todas as instâncias de poder. E com a participação do Legislativo e do Judiciário, igualmente, nos níveis federal, estadual e municipal, com o objetivo de articular o planejamento e as ações, dentro de uma política coordenada voltada para evitar o caos prenunciado para o cenário da dengue no Brasil em 2025. Como se sabe, a comunicação é fundamental para combater a desinformação – a exemplo da pandemia de Covid, sobre o coronavírus e formas não comprovadas de tratamento, bem como as mentiras contra as vacinas. Em relação à dengue, o envolvimento da população no esforço preventivo é crucial para impedir uma epidemia que pode pôr em risco, especialmente, os idosos, mas vulneráveis às complicações em decorrência do sorotipo 3 da doença, e que não podem receber a vacina, por razões de segurança.
Em 2024, foram mais de 6 milhões de casos, e as mortes contabilizadas oficialmente por dengue passaram de 6 mil, mais até do que o número de óbitos por Covid. Para se evitar a concretização das previsões para este ano, é preciso que o poder público faça mais do que tem sido feito até agora.