As famigeradas fake news estão sendo um problema no mundo todo. E no Brasil não podia ser diferente. Tanto é que, preocupado com os impactos que as fake news podem ter nas eleições 2022, o TSE prometeu banir o Telegram se a plataforma não fizer nada para fiscalizar e conter as fake news.
Pois bem, um grupo de pesquisadores brasileiros, ligados ao Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), desenvolveu uma plataforma web que pode colaborar bastante para a identificação das fake news.
Por meio da inteligência artificial, aprendizado de máquina e uma série de modelos estatísticos, a plataforma aufere as chances de um determinado texto ser fake ou não. Nos testes iniciais constatou-se que a ferramenta tem 96% de precisão em suas estimativas para dizer se um texto é ou não falso.
Francisco Louzada Neto, diretor de transferência tecnológica do CeMEAI e coordenador desse projeto, deu maiores explicações sobre a plataforma:
“A ideia da plataforma é oferecer à sociedade uma ferramenta adicional para identificar de forma não somente subjetiva se uma notícia é ou não falsa. As fake news apresentam padrões na redação do texto, uso e frequência de palavras que podem ser identificáveis pelo classificador”.
A plataforma, por enquanto, só consegue avaliar textos completos (e não apenas trechos). Em sua análise, ela vai aplicar métodos estatísticos que avaliam as características da escrita, tais como as palavras usadas e as classes gramaticais mais frequentes.
Os padrões de linguagem, vocabulário e semântica também são analisados via modelos de aprendizagem de máquina. Os pesquisadores criaram um banco de dados composto por uma enorme variedade de notícias, tanto falsas como verdadeiras. E para potencializar ainda mais o aprendizado de máquina, eles submeteram a plataforma a analisar o vocabulário de mais de 100 mil notícias, que foram publicadas nos últimos 5 anos.
“Precisamos sempre atualizar e dar mais subsídios para os modelos usados pela plataforma, de modo a melhorar a acurácia e aumentar a capacidade de predição de fake news. O combate às fake news é uma corrida de gato e rato porque, ao mesmo tempo que tem surgido plataformas como a que desenvolvemos para detectá-las, os métodos para produzir essas notícias falsas também têm sido aprimorados”, explica Louzada.
É por isso que o uso de aprendizado de máquina e inteligência artificial é tão importante, pois eles se adaptam aos novos modelos de notícias falsas que vão surgindo com o tempo. As fake news relacionadas às eleições 2022 que circularão nos meses seguintes, juntamente com as notícias falsas relacionadas com a COVID-19, serão usadas para fazer os ajustes finos na plataforma.
Uma das preocupações genuínas que os pesquisadores têm é que este novo sistema seja usado por criadores de fake news para validar se uma notícia será ou não identificada como falsa.
Essa plataforma de identificação de fake news foi desenvolvida pelos participantes da última edição do Mestrado Profissional em Matemática, Estatística e Computação Aplicadas à Indústria (Mecai), oferecido pelo ICMC-USP. De lá também saíram outras ideias, como uma plataforma que antecipa o valor de mercado de criptomoedas e uma outra que faz o acompanhamento do número de mortes por COVID-19 em cada município brasileiro.
“Percebemos a dificuldade de acesso aos dados referentes à evolução dos casos e óbitos e de previsão dos números de infectados e mortos em nível municipal em diferentes períodos da pandemia. Com base nessa constatação, a ideia é criar um website que disponibilizará esses dados para cada município do Brasil”, diz Louzada.