Os remanescentes do complexo industrial que a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro construiu em Campinas para garantir o funcionamento da ferrovia a partir de 1875 irão integrar um inventário do patrimônio industrial em complexos ferroviários paulistas, financiado pela Fundação de Pesquisas do Estado de São Paulo (Fapesp). O inventário vai abranger cinco conjuntos pertencentes a três empresas férreas que atuaram em São Paulo entre 1868 e 1971 – Jundiaí e Rio Claro, pertencentes à Companhia Paulista; Campinas, da Companhia Mogiana, e Sorocaba e Mairinque, da Estrada de Ferro Sorocabana.
Memória Ferroviária terá financiamento de R$ 300 mil
O projeto Memória Ferroviária: inventário do patrimônio ferroviário paulista terá R$ 300 mil em financiamento e será coordenado pelo pesquisador Eduardo Romero de Oliveira, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Rosana. O intuito é que essa base ampla de conhecimento sobre o funcionamento e estruturação das empresas ferroviárias sirva para a proteção, conservação, difusão e valorização desses bens, articulando-se com bases sócio culturais alargadas e refletindo sobre estratégias de preservação do patrimônio ferroviário.
Até 2014, uma equipe de pesquisadores irá identificar as estruturas construídas, os meios de produção e gestão empresarial, os veículos de tração e transporte, os conhecimentos técnicos e seus procedimentos, o ambiente social e técnico dos espaços de trabalho, a dimensão territorial das infraestruturas ferroviárias e o contexto simbólico em que se desenvolveram estas atividades.
Nesse sentido, a Companhia Mogiana, em Campinas, foi exemplar. Ela construiu um circuito industrial que garantia o funcionamento da empresa, fundada em 1872 e que chegou a ter uma ferrovia de 2 mil quilômetros cortando São Paulo e Minas Gerais. Faziam parte da “indústria da Mogiana” a seção de locomotivas, onde eram montadas e ajustadas as máquinas; seção de carros e vagões, com setores de reparos e de pintura; fundição, onde peças eram fundidas e modeladas; e rotunda, que era uma garagem em formato circular.
Oficinas
As oficinas da Mogiana, segundo a Coordenadoria Setorial do Patrimônio Cultural (CSPC), eram uma indústria de grande porte, com requintado nível de especialização das funções e, portanto, de trabalhadores. Dados estatísticos demonstram que em 1895 havia em São Paulo, em um total de 52 firmas industriais, apenas 11 com mais de 100 funcionários. A Mogiana, em 1897, possuía 561 operários nas oficinas. Em 1904, esses já eram 749. A preservação da memória da indústria inclui a do trabalho e dos trabalhadores.
O projeto pretende inventariar as três dimensões do legado ferroviário paulista – patrimônio tangível, intangível e arquivístico. Isso dá um caráter inusitado a proposta de pesquisa, porque tradicionalmente o inventário do patrimônio ferroviário é realizado para apenas uma dimensão (edificado ou material). “Esperamos dar uma compreensão unificada de patrimônio cultural. Além disso, ao inventário soma-se à possibilidade de disponibilizá-lo publicamente na internet por meio de ferramentas de busca e de passeio virtual”, disse o coordenador do projeto.
O projeto visa o levantamento das fontes documentais referentes às empresas ferroviárias paulista, depositada em diferentes acervos públicos; a implantação de bases de dados eletrônicas sobre as fontes levantadas e patrimônio mapeados; identificação e analise dos conhecimentos científicos e tecnológicos no período estudado e que estejam associados à implantação e funcionamento da atividade ferroviária.