A ocorrência de acidentes envolvendo escorpiões no Brasil aumentou 150% na última década, aponta um levantamento publicado no início de maio no periódico Frontiers in Public Health. [ ] Foram mais de 1 milhão de casos entre 2014 e 2023, número que pode triplicar até 2033 se nada for feito.
“Os números oficiais mostram um cenário profundamente preocupante, mas a realidade é provavelmente muito pior. Os acidentes com escorpiões não são apenas um problema emergente de saúde pública — são uma epidemia oculta que cresce sem controle. [...] Essa crise silenciosa continua a aumentar, colocando um número crescente de vidas em risco”, diz a publicação.
A resposta ao artigo foi imediata, conta a primeira autora, Dra. Manuela Pucca, que é imunologista e professora na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Araraquara. “O trabalho teve um ótimo alcance e estamos felizes. Acho que agora começarão a olhar de forma um pouco diferente para esse problema, com novas políticas públicas, campanhas de prevenção e mais pesquisas para, assim, tentar controlar os ataques de escorpião.”
Entre 2014 e 2023, foram notificados no país 1.171.846 casos de acidentes escorpiônicos, com um aumento médio de 10.363 casos por ano no período. [1] O estado de São Paulo foi o maior notificador desses acidentes, e a Região Sudeste foi a que notificou mais óbitos em 2023 (55,72%). As maiores taxas de letalidade foram encontradas nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste (0,08%). [ ]
A Dra. Manuela destaca que, na realidade, os números podem ser ainda maiores. “A subnotificação é um desafio e não somente por uma questão estatística, é um grande obstáculo à implementação de medidas eficazes de controle.”
O estudo, que contou com a colaboração de pesquisadores da Unesp de Botucatu, das Universidades Federais do Amazonas (UFAM) e de Roraima (UFRR) e da Universidade de São Paulo (USP-Ribeirão Preto), estima que até 2033 devem ser registrados mais de 3 milhões de casos, sendo 2.148.576 na Região Sudeste, 182.836 no Sul, 1.383.800 no Nordeste, 158.573 no Norte e 404.219 no Centro-Oeste.
Roxana Tabakman