Tonny Martin assume como gerente geral para a IBM América Latina em meio a um momento único da transformação digital, com a pandemia empurrando os negócios para o mundo virtual. Agora, sob a liderança de Tonny, a IBM tem como desafio crescer nas áreas de inteligência artificial e nuvem.
O executivo destaca que, apesar da conectividade atual, apenas 20% das cargas críticas de trabalho já migraram para nuvem. “Quando falamos de IA, o mundo aproveitou apenas 4% do potencial de produtividade que a tecnologia pode proporcionar”, diz.
Há 28 anos na multinacional de tecnologia, o executivo até então ocupava o cargo de gerente geral da IBM Brasil. Tonny será responsável pelo desenvolvimento da estratégia da companhia na região, ajudando a acelerar a transformação digital das empresas latino-americanas. O novo gerente geral da IBM América Latina sucede a Ana Paula Assis, que permanece como alta executiva da IBM, em uma função global estratégica. A companhia disse que o novo líder da IBM Brasil será anunciado em breve.
Em entrevista exclusiva a Época NEGÓCIOS, Tonny fala sobre a agenda da IBM para a região e como se prepara para enfrentar os desafios e oportunidades que o momento oferece.
Você assume o novo cargo em meio a um cenário de alta digitalização dos negócios por causa da pandemia. O que vê como mais desafiador neste momento? E como oportunidade?
Os últimos três anos foram um período de crescimento e transformação para a IBM Brasil. Ganhamos mercado, aceleramos o crescimento da área de serviços e escalamos o negócio de plataforma, aumentando a satisfação de clientes à medida que avançam em sua jornada de transformação digital. A palavra reinvenção exponencial nunca fez tanto sentido como agora. Já o desafio é ajudar os negócios de toda a América Latina a avançar em suas jornadas de nuvem híbrida e inteligência artificial, sem perder de vista a segurança cibernética em toda a sua operação. A nuvem é fundamental nesse contexto em que o mundo físico e o digital estão hiperconectados, suportando novos picos de demanda. Mas apenas 20% das cargas críticas de trabalho saíram do datacenter para a nuvem. Quando falamos de IA, o mundo aproveitou apenas 4% do potencial de produtividade que a tecnologia pode proporcionar.
O que a IBM espera alcançar nos negócios de nuvem e inteligência artificial na América Latina?
Não tenho dúvidas que a nuvem e a IA vão impulsionar a reinvenção digital da América Latina. Por isso, em toda a região, temos um roteiro de investimentos para apoiar as empresas e ecossistema nessa jornada. Em cloud, temos a chegada da primeira multizone region de IBM Cloud na América Latina, instalada no Brasil. A IBM passará a ter localmente todo o seu portifólio de tecnologia de nuvem com segurança e criptografia de dados da indústria. Em IA, a IBM, a Universidade de São Paulo (USP) e a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) deram início às atividades do mais moderno Centro de Inteligência Artificial (C4AI) do Brasil, dedicado ao desenvolvimento de estudos e à pesquisa de ponta para endereçar temas de grande impacto social e econômico, como saúde, meio ambiente, cadeia de produção de alimento e futuro do trabalho, além da criação de tecnologias de processamento de linguagem natural em português.
De que forma o centro de inteligência artificial se conecta com as IBMs da América Latina?
Queremos que o C4AI se torne referência em inteligência artificial no Brasil e tenha relevância internacional, começando com a região latino-americana. Vamos trabalhar de forma colaborativa, com os pesquisadores da IBM participando ativamente dos projetos desenvolvidos no centro e levando esse conhecimento e novas propostas de aliança para a região. Essa articulação entre academia, empresa e governo, no modelo de hélice tríplice, levará a cadeia de inovação ter um maior impacto para a sociedade de forma mais acelerada. Fomentar pesquisa de alto nível em universidades tem um efeito cascata de impacto em termos de qualidade de profissionais disponíveis, nível de ensino e conhecimento e até mesmo fomento a startups capacitadas e atuantes.
A pandemia alterou — acelerando ou atrasando ou cancelando — alguma iniciativa prevista para a sua gestão?
A pandemia acelerou o processo de digitalização de todas as empresas, independentemente da indústria ou o segmento. Num primeiro momento, a maioria delas estava focada em como permanecer operacional, enfrentando o aumento da demanda tecnológica, seja por parte dos clientes ou como resultado de ter os funcionários trabalhando em casa. Na IBM, nós nos preparamos para ajudar nessa digitalização. Nem todas as empresas estavam no mesmo momento da transformação digital. Entender em qual estágio as companhias estavam foi chave para definir se os planos deveriam continuar, acelerar-se ou atrasar. Um dos setores mais impactados pela pandemia foi a educação. Mais de 146 milhões de estudantes na região (segundo a Unesco) ainda não voltaram à aula presencial regular. Por isso, um dos nossos focos durante a pandemia foi habilitar o uso da tecnologia para acelerar a digitalização da educação na América Latina.
O que a IBM espera de 2021?
De acordo com o IDC, a adoção de nuvem híbrida será a principal tendência na era pós-covid-19, principalmente em relação a cargas de trabalho críticas.Ajudar as empresas da América Latina a acelerar a adoção de nuvem híbrida e IA em realidade será nossa prioridade. Mas este processo de reinvenção exponencial não é apenas automatizar processos, mas repensá-los, olhando para o mercado e estando aberto a mudanças. Esse processo só faz sentido se considerarmos também uma mudança de mentalidade das companhias. É uma oportunidade única para repensar e ajudar as empresas a colocarem o seu cliente em primeiro lugar, transformando a sua relação com ele. Para isso, é preciso preparar líderes e funcionários para que se reinventem, para que inovem em suas rotinas diárias, para que busquem sempre experiências únicas e personalizadas para seus clientes.