Notícia

Panorama Rural

O legado da Ciência

Publicado em 01 julho 2007

Não faltam indicadores reluzentes a ilustrarem a competitividade do agronegócio brasileiro. Inúmeros exemplos podem ser relacionados para justificar as razões da importância estratégica da atividade rural como geradora de desenvolvimento econômico e social. A mais conhecida pelo grande público, a contribuição ao PIB brasileiro — em 2006, da ordem de 28,6%, cerca de 580 bilhões de reais —, é apenas uma delas. Na verdade, tal pujança resulta de outro valor fundamental, porém muito pouco presente na imprensa nacional: o grau de excelência alcançado pelas ciências agrárias no Brasil. A ausência da pesquisa — aliás, de todas as demais áreas da ciência — dos meios de comunicação e, portanto, do cotidiano da sociedade, acaba de ser confirmada por um contundente trabalho.

Trata-se do estudo "Percepção Pública da Ciência e da Tecnologia", realizada pela Academia Brasileira de Ciências em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia. O levantamento revela que 84% dos brasileiros desconhecem qualquer instituição dedicada a pesquisa cientifica no país. Também 86% dos entrevistados não conseguiram apontar um nome sequer de cientista brasileiro.


Cientistas anônimos

110 resultado denuncia o estado calamitoso do ensino nos cursos de primeiro grau, nível médio e até universitário no país", lamenta Jaime Benchimol, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz. A Fiocruz, criada no ano de 1.900, no Rio de Janeiro, se constitui uma das mais importantes instituições de pesquisa em saúde, com vasta contribuição ao combate de epidemias no país. A Fundação leva o nome de seu segundo diretor, médico sanitarista responsável por diversos programas de saneamento público.

Na pesquisa recente, Oswaldo Cruz foi citado por 36% dos entrevistados que afirmaram conhecer algum pesquisador importante. São menos conhecidos pelos entrevistados os mundialmente renomados cientistas brasileiros Carlos Chagas, apontado por 8% das pessoas, e César Lates, com apenas 4% das indicações.

Na agropecuária, sua admirável competitividade se deve menos à decantada bondade da natureza para com o país. Deve-se, sim, muito mais à transferência do precioso saber de ilustres e desconhecidos cientistas aos sis temas produtivos nas lavouras. "Ainda se credita o futuro da agropecuária brasileira à sua enorme disponibilidade de território. É um erro", afirma Luiz Marcos Suplicy Hafers, liderança rural e produtor de café no Paraná e na Bahia. "O grande ativo do Brasil é sua pesquisa e sua competência em administrar uma agricultura nos trópicos. O ativo do saber é incomensuravelmente maior do que possuir terras."

Nas lavouras Brasil afora, de fato, vão se encontrar avanços tecnológicos que conquistam admiração mundial. Tratam-se das muitas centenas de sementes melhoradas para diversas culturas. Geram plantas mais produtivas; adaptadas às condições de solo e clima das diferentes regiões e incorporando, até mesmo, novas características genéticas, como resistência à seca. Criam-se técnicas sustentáveis e manejos que auxiliam no controle de pragas e doenças; por fim, mais recentemente, atingem marcos históricos da ciência, casos da biotecnologia e do seqüenciamento dos genomas de citros e de café. Cite-se, ainda, o rebanho pecuário - não apenas o maior plantel comercial do mundo mas, principalmente, o mais saudável.

Foi graças às pesquisas que o campo se tornou um vigoroso celeiro de novas tecnologias. Isso explica, por exemplo, a capacidade do país para produzir combustível limpo a partir de vegetais, o que desperta o interesse mundial, em especial dos norte-americanos. Foi esta a única razão que motivou, recentemente, a primeira viagem, após sete anos de governo, do presidente George Bush ao Brasil, país até então irrelevante na política externa daquele governo.

A contribuição da ciência agropecuária ao crescimento sustentável pode ser constatada sob outro prisma, o Índice de Desenvolvimento Humano, IDH. O economista Regis Bonelli, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Ipea, analisou a evolução do IDH entre as décadas de 1970 e 1990, em 23 municípios ou regiões brasileiras com agricultura tecnificada. Os números mostram que o desenvolvimento médio anual nesses municípios esteve bem acima da média brasileira, de 3,2% no período. Assim, por exemplo, o IDH em Barreiras, BA, foi de 12,3%; em Rondonópolis, MT; 6,5%; em Balsas, MA, 6,4%; em Petrolina, PE, 5,6%; em Paracatu, MG, 4,7%; e em Chapecó, SC, 4,5%.


Dieta enriquecida

Outro relatório, assinado pelo IBGE, aponta um extraordinário ganho de produtividade: na última década, a área plantada cresceu 12%, enquanto a produção saltou 93%. Na produção de carnes, os dados positivos também impressionam. Até alguns anos atrás, o tempo para preparar um bife ou a picanha do churrasco demorava — entre a cria, a engorda e o abate — em média três anos; hoje, se tornou comum entre os pecuaristas manejos que permitem entregar ao frigorífico o boi de um ano. Também se refletem nas metrópoles urbanas os benefícios da competitividade que envolve a cadeia agrícola milho-ração-frango.

Como rege a clássica lei da oferta e da demanda, o aumento da produção de frango fritou os preços desembolsados pela população nos supermercados. A dona- de-casa constatou, na boca do caixa, a redução do preço dessa carne: o quilo se retraiu de US$ 1,5, em 1990, para US$ 0,50, em 2002, segundo levantamento da indústria Perdigão. O resultado se viu no consumo de frango entre os brasileiros. Mais que dobrou: de 13,4 kg per capita, no início dos anos 1990, em 2000 chegou a 30 kg. "O preço atraente para as classes de renda mais baixa adiciona uma importância política estratégica à cadeia do milho-ração-frango", sustenta Irene Trocoli, pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas, FGV-RJ. "A cadeia da avicultura se tornou a grande responsável pelas estatísticas de aumento no consumo de proteínas animais por parte da população—indicador clássico de avanço econômico."


Marco histórico

Se a propulsora deste salto tecnológico foi a pesquisa agropecuária, desenvolvida por institutos que se tornaram referências mundiais, um desses centros de excelência deve ser mencionado, neste ano, de forma especial: o Instituto Agronômico, IAC. Em 2007, seu pioneirismo comemora um marco histórico. O Instituto, atualmente vinculado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Apta, da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, está completando 120 anos.

"Criado em 1887, o IAC é a única instituição de pesquisa agronômica que percorreu três séculos: desde o final dos novecentos, durante todo o século 20, e alcança este século 21", destaca Antonio Roque Dechen, diretor da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz, Esalq/USP. Sem dúvida, os resultados impressionantes da agropecuária brasileira contaram com a contribuição expressiva dos pesquisadores que escreveram boa parte da história da agricultura no país. "A pesquisa, o desenvolvimento e a inovação que tornaram o Brasil líder mundial em agricultura tropical têm, em seus primórdios, uma instituição centenária, o IAC, berço de muitos cientistas", enaltece Sílvio Crestana, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Embrapa.

O engenheiro agrônomo Fernando Penteado Cardoso, ex-presidente da Manah Fertilizantes e atualmente dirigindo a Fundação Agrisus, recorda-se, emocionado, da sua ligação com o IAC. "Ainda ginasiano, eu conversava com meu pai sobre nossa fazenda; ele mencionava o Instituto Agronômico ao enfrentar problemas do cafezal velho em terra cansada, discussões essas que me despertaram para a agronomia."


Onda verde

Apesar da pujança que exibia, a chamada "onda verde" da cafeicultura enfrentava dois graves problemas no final do século 1 9 : a doença da ferrugem e a queda nas cotações no mercado internacional. No ano de 1894, a ferrugem no café já era objeto de pesquisas na área de fitopatologia do Instituto Agronômico. Os programas de genética e melhoramento da espécie Coffea arábica começaram em 1932. Desses trabalhos resultaram cerca de 90% dos 4,5, bilhões desses cafeeiros cultivados no país. Destacam-se as cultivares Caturra, Catuaí, Icatu, Tupi e Obatã, as duas últimas sobretudo com alto nível de resistência à ferrugem, e a Icatu Precoce, cujo outro benefício é a redução de aplicações de defensivos químicos.

O cerrado de Minas Gerais se tornou a maior região produtora de cafés arábicas do país. Uma das razões foi o fator mecanização — e a colhedora automotriz teve seu protótipo criado, no início dos anos 1960, na área de engenharia agrícola do IAC. "A moderna cafeicultura brasileira deve ao Instituto Agronômico os méritos pelas inovações que dão suporte ao seu desenvolvimento", afirma Nathan Herszkowicz, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café, Abic.

O programa Genoma do Café, marco no admirável mundo novo da ciência agrícola, foi proposto pelo IAC e desenvolvido em pareceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Fapesp, o Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café, CDPC, e a Embrapa Café. Contudo, embora esteja na origem de sua criação, o café não foi o único foco de atuação, desde os primeiros trabalhos da Imperial Estação Agronômica.

Quando a crise na cafeicultura se acentuou, a pesquisa de forma estruturada do algodão, a partir de 1924, permitiu alavancar a cultura. Em 1932, seria lançada a primeira cultivar, a IAC 738. As variedades desenvolvidas adaptadas ao cerrado brasileiro possibilitaram o incremento do seu cultivo na região. O mais recente lançamento, em maio último, é a IAC 25 RMD (Resistência Múltipla a Doenças), com maior resistência ou tolerância a 8 das doenças mais importantes na cultura.


Arroz com feijão

A dupla mais comum na refeição dos brasileiros in corpora o legado das pesquisas do Instituto Agronômico.

Os estudos genéticos com arroz começaram na década de 1930; a primeira cultivar comercial disponibilizada foi a IAC-1246. "A cultivar abriu novas fronteiras em todo o país e chegou a ocupar 60% das lavouras", afirma Luiz Ernesto Azzini, pesquisador do IAC. Na década de 1990, o destaque foi a cultivar pa ra sequeiro IAC 201, pioneira do arroz tipo agulhinha, o mais comercializado do país. Mais recentemente, a cultivar de arroz irrigado IAC 105, resistente à brusone, doença do arroz mais expressiva no Brasil, segundo a Embrapa Arroz e Feijão.

Até o início da década de 1970, a produtividade média nas lavouras de feijão era de apenas 500 quilos por hectare. A história do baixo rendimento, com efeitos óbvios no preço do feijão no comércio, experimentou uma revolução com uma descoberta quase acidental, mas, em seguida, acompanhada de intenso melhoramento científico. Pesquisadores do Instituto Agronômico identificaram uma planta muito produtiva, cujo grão se diferenciava com listras marrom; o feijão foi chamado de "carioquinha", por lembrar uma raça de suínos também com listras no corpo. Em poucos anos, o carioquinha se consagrou como o mais cultivado em todo o Brasil, e chegou aos países sul-americanos e da África. Sim, quanto ao rendimento da cultura: hoje, alcança até 2.000 quilos por hectare.


Méritos da tecnologia

Cultivado pelos índios antes mesmo da colonização portuguesa, o milho está presente no cardápio de todas as regiões do país, sobretudo entre as classes populares. Após superar o atraso tecnológico que historicamente a caracterizou, a cultura ganhou importância estratégica para o país, como terceira maior safra mundial. O milho se constitui ingrediente básico na ração do frango, prato hoje mais comum nas mesas do país graças à competitividade desta cadeia produtiva. Esses benefícios resultam do advento do milho híbrido - e boa parte desse mérito se deve aos trabalhos iniciados no Instituto Agronômico.

o IAC lançou, em 1932, o segundo programa de milho híbrido do mundo, logo após os Estados Unidos. Até a década de 1970, suas linhagens predominaram nas lavouras. O milho híbrido foi decisivo também para outra importante inovação, praticada em poucos países: o manejo da safrinha. Em 1994, cultivares com alta tecnologia incorporaram a resistência à seca, e a cultivar Taiúba, com tolerância à toxicidade de alumínio, favoreceu a expansão do cultivo do cereal no Cerrado.


A soja é desvendada

A soja era totalmente desconhecida no Brasil no final do século XIX — exceto nos laboratórios da Imperial Estação Agronômica. Já nos idos de 1889, o Instituto conduzia experimentos com sementes da oleaginosa. Uma década depois, o pesquisador Gustavo D'Utra publicaria o estudo "Nova cultura experimental de soja". No ano seguinte, o IAC encaminhava sementes à Secretaria de Agricultura para ser distribuída a agricultores. "Resultado das primeiras seleções no Instituto, a Abura foi a cultivar pioneira de soja no país", lembra o pesquisador Hipólito Mascarenhas. Nos anos 1970, a cultura chegaria às regiões do cerrado, explica a pesquisadora Elaine Bahia Wutke "A viabilidade econômica do cultivo foi demonstrada, pela primeira vez, pelo Instituto Agronômico, inclusive com as indicações de adubação e manejo." A partir de 2001, a sojicultura brasileira enfrentou grandes prejuízos causados pela ferrugem asiática. Os pesquisadores aceitaram o desafio e, para da safra 2006/07, já foram disponibilizadas variedades com resistências múltiplas e alguma tolerância à ferrugem da soja.


Mudança de habito

A ausência de pesquisas em agronomia no Brasil, até o final do século 1 9, explica o fato de o país inteiro — e não apenas os escravos e as famílias pobres — desfrutar de um cardápio nutricionalmente muito pobre. É o que analisa Benedito Rosa do Espírito Santo, economista e representante do IIC, Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura da OEA, Organização dos Estados Americanos. "Foram os imigrantes europeus e japoneses quem introduziram o hábito do consumo intenso de olerícolas e de frutas de clima temperado. " Esses alimentos, então, passaram a ser alvos da ciência agronômica.

As pesquisas em olericultura no Instituto Agronômico começaram em 1927. O primeiro marco foi a introdução de sementes e o estudo da cebola Amarela das Canárias. Desde então, o IAC lançou mais de 40 cultivares de hortaliças no Brasil e em países da América do Sul. Uma cultivar de tomate, o Santa Clara, se consagrou como sinônimo de variedade nos Ceasas do país.

As frutas de clima temperado, antes raras nas mesas do país — como uva, pêssego, nectarina, ameixa e caqui, entre outras —, resultaram de intensas pesquisas de adaptação climática. Ao mesmo tempo, frutas tropicais nativas foram alvo de permanentes programas de melhoramento genético. Por exemplo, a cultivar de banana Nanicão, resistente à doença sigatoka amarela, tem contribuído para o manejo sustentável da fruta no país.

"Em citros, os trabalhos fizeram renascer os laranjais da tristeza virótica", destaca o pesquisador Ody Rodriguez. A partir do ano de 2000, o Centro de Citros do IAC participa do sequenciamento de Xylella fastidiosa, agente causador da CVC, e da Xanthomonas axonopodis pvcitri, agente do cancro cítrico. Com forte envolvimento em biotecnologia, o Centro seqüência o genoma de novas raças do vírus da tristeza, além do vírus da leprose.

Os alimentos à base de trigo também chegaram ao Brasil pela bagagem dos imigrantes europeus. As pesquisas no Instituto Agronômico começaram em 1937. O principal lançamento foi a IAC-24, primeira variedade de porte baixo, com tolerância ao alumínio. "A cultivar reduziu a altura das plantas em 50 cm, e aumentou a produtividade média, de oitocentos quilos por hectare para atuais três mil quilos", explica o pesquisador Carlos Eduardo Camargo.

As pesquisas também criaram condições de plantio da seringueira em São Paulo e diversos outros estados. Ainda ofereceram alternativa para a produção de essências a partir de manjericão para a perfumaria fina e para o cultivo comercial de palmito — em ambos eliminando a pressão sobre plantas em risco de extinção.


Atraídos pelas empresas

Diante de inúmeras tarefas, no entanto, o Instituto Agronômico enfrenta um sério desafio: contornar a escassez de recursos públicos, muito aquém das necessidades dos seus projetos. Com isso, por exemplo, vários pesquisadores já deixaram a Instituição, em busca de remuneração e oportunidades de mercado mais atraentes. "É preciso um novo modelo jurídico que proporcione flexibilidade para a gestão do dia-a-dia. Precisamos, por exemplo, de maior autonomia para estabelecer parcerias", argumenta Orlando Meio Castro, engenheiro agrônomo, pesquisador doutorado em Ciências do Solo e Nutrição de Plantas e diretor do Instituto Agronômico. A falta de recursos não é exclusiva no IAC, nem apenas da pesquisa agropecuária. Lamentavelmente, aponta o grave quadro em todas as áreas da ciência no país.

"As melhores condições de trabalho e de remuneração oferecidas pela iniciativa privada, além de esvaziar as equipes de pesquisa, atraem os novos profissionais formados nas melhores universidades do país", afirmou Edmilson Costa Filho, especialista em política científica, ao jornal Vale Paraibano, de São José dos Campos, SP. Costa Filho compara os salários de instituições de ponta, como o Comando Geral de Tecnologia Aeroespacial, CTA, executor do programa espacial brasileiro. "Um pesquisador no topo da carreira que recebe 7 mil reais no CIA, na iniciativa privada pode ter vencimentos de até 25 mil reais."


Luta por oportunidades

No campo social, há um outro desafio: fortalecer os arranjos comunitários e cadeias produtivas regionais pa ra a democratização dos benefícios advindos da pesquisa. "É preciso criar alternativas sustentáveis de trabalho e renda através das diversas formas de produção familiar e comunitária", defende Castro. "Ou seja, internamente de- vemos continuar a aprofundar o conhecimento, mas este precisa contribuir para a inclusão social de ampla parcela da população." De fato, o atual modelo de assentamento rural no país, após duas décadas de sua adoção, pouco tem contribuído nesse sentido.

"A área reduzida dos lotes, a baixa qualidade da terra, a falta de incentivos financeiros e a escassez de tecnologia desenvolvida nas áreas tendem a reproduzir a unidade mais perversa da estrutura agrária brasileira: o minifúndio", afirma Elisa Guaraná de Castro, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. A estimativa atual do IBGE é de que existam aproximadamente 700 mil assentados. Cerca de 80% deles não possuem outra habilidade não-agropecuária, e os 20% que têm outra habilidade são, na maioria, pedreiros, motoristas e garimpeiros.

Um exemplo da contribuição para o resgate da cidadania no campo é o programa Treinamento Avançado para Jovens Assentados em Atividades Hortícolas e Produção de Mudas. A iniciativa é do Instituto Agronômico, em parceira com Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Incra, e a Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola, Fundag. Os 21 alunos do primeiro curso participam de movimentos rurais atuantes no estado de São Paulo, como o MST, Movimentos dos Trabalhadores Sem-Terra, e a Fetaesp, Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de São Paulo.

Durante um ano, eles tiveram aulas sobre técnicas agrícolas avançadas e elaboraram projetos geradores de renda para suas comunidades, explica Carlos Eduardo Ferreira de Castro, pesquisador do IAC e coordenador do projeto. "Foi um processo de conquista e um imenso exercício de cidadania." O assentado José Aledjane de Oliveira, 26 anos, aplicará as aulas no assentamento Olga Benário, na cidade paulista de Tremembé. "Dêem-nos a oportunidade e a ferramenta, pois temos boa vontade e capacidade para crescer", diz o jovem.