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O lagarto brasileiro teiú é 1º réptil que produz calor próprio. Mas como? (17 notícias)

Publicado em 23 de agosto de 2024

No Brasil, o lagarto brasileiro teiú foi o primeiro réptil que produz calor próprio e cientistas não entendem como isso aconteceu.

Os animais ectotérmicos, como os répteis, anfíbios e peixes, dependem do calor do ambiente para regular sua temperatura corporal. No entanto, o teiú, encontrado no Brasil, é uma exceção a essa regra.

Durante seu período reprodutivo, ele consegue se aquecer com o calor do próprio corpo, sem depender das condições externas.

Cientistas, com apoio da FAPESP, descobriram essa capacidade única do lagarto brasileiro teiú, que habita diversas regiões da América do Sul. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Acta Physiologica.

Lagarto brasileiro teiú é raridade

Apenas aves e mamíferos são conhecidos por serem endotérmicos, ou seja, terem “sangue quente”.

Pela primeira vez, esse comportamento foi observado em um réptil. Livia Saccani Hervas, autora principal do estudo, iniciou sua pesquisa sobre os teiús durante a faculdade e agora é doutoranda na Unesp.

Em 2016, pesquisadores brasileiros descobriram que os teiús mantinham seus corpos mais quentes do que as tocas onde passavam a noite durante o período reprodutivo.

No entanto, ainda não se sabia como esses animais de sangue frio conseguiam se aquecer sem a luz do Sol. Isso mudou agora.

Fábrica de calor

Durante três anos, os pesquisadores coletaram amostras de tecido muscular de dez teiús. As biópsias aconteceram no verão, em fevereiro, e na primavera, em setembro e outubro.

Os fragmentos de tecido retirados das patas dianteiras e traseiras foram analisados bioquimicamente e submetidos a um calorímetro para medir a quantidade de calor emitida.

Durante o período de reprodução, tanto os músculos dos machos quanto das fêmeas apresentaram um aumento significativo na produção de mitocôndrias.

Essa estrutura celular é responsável por gerar energia, queimando carboidratos com oxigênio e produzindo gás carbônico. O calor é frequentemente um subproduto desse processo de geração de energia celular.

Durante o período reprodutivo, a proteína ANT, responsável por gerar calor nas aves, estava em maior quantidade e mais ativa nas mitocôndrias.

Esse calor adicional serve nas fêmeas para a produção de ovos e construção de ninhos, e pelos machos para a busca de territórios e o aumento das gônadas, onde são produzidos os hormônios sexuais.

Outras espécies

Antes da descoberta sobre o lagarto brasileiro teiú, os únicos répteis conhecidos capazes de aumentar sua temperatura eram as pítons.

As serpentes asiáticas, que podem atingir até cinco metros de comprimento, tremiam para gerar calor e auxiliar na incubação dos ovos. Contudo, o teiú não necessita tremer para elevar sua temperatura.

É possível que a endotermia seja mais comum em répteis do que se pensava, como observado nos teiús e pítons.

A semelhança na estratégia celular dos lagartos com a de aves e mamíferos sugere que a origem do sangue quente pode ser mais antiga do que se acreditava.

Benefícios

Hipoteticamente, se os répteis pudessem produzir o próprio calor, como o lagarto brasileiro teiú, eles aproveitariam algumas vantagens significativas.

Por exemplo, poderiam manter uma temperatura corporal constante, independentemente da temperatura ambiente. Isso permitiria ser ativos durante períodos mais longos do dia e em climas mais frios.

Com a capacidade de gerar calor, esses répteis poderiam viver em uma gama mais ampla de habitats, incluindo regiões mais frias onde ectotérmicos (que dependem de fontes externas de calor) não poderiam sobreviver.

Além disso, conseguiriam suportar um metabolismo mais elevado, permitindo que fossem mais ágeis e tivessem maior resistência durante a caça ou fuga de predadores.

Em um ambiente em mudança, como durante um período de resfriamento global, répteis endotérmicos teriam uma vantagem de sobrevivência sobre aqueles que dependem do calor externo.

E, claro, produzindo seu próprio calor, esses répteis poderiam regular melhor processos fisiológicos, como digestão e reprodução, mesmo em condições climáticas adversas. Ou seja, como evolução, seria interessante que esse quadro avançasse para outras espécies.

Contudo, é apenas uma raridade, e o lagarto brasileiro teiú está sob estudos para cientistas entenderem melhor como isso funciona.