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O jornal na Era Digital (1 notícias)

Publicado em 11 de dezembro de 2015

Por Leslie Cia Silveira

Mesmo em tempos de tecnologias digitais, o jornal impresso consegue, no âmbito escolar, ter seu espaço, enquanto ferramenta pedagógica? A pergunta que não quer calar encontra respostas positivas entre os PCNP (professores coordenadores do Núcleo Pedagógico) da Diretoria de Ensino - Região de Americana, que atuam diretamente com o desenvolvimento de ações pertinentes ao Projel (Programa Jornal na Escola) nas unidades de ensino de Americana, Nova Odessa e Santa Bárbara d'Oeste.

"Pensando nas múltiplas influências das tecnologias na vida do aluno contemporâneo, vejo que o jornal impresso tem o seu espaço pedagógico, e a mediação do professor é fundamental para que o aluno resignifique o que é visto, ouvido ou lido, integrando as diferentes linguagens, bem como as relações entre ele e o mundo", define a PCNP Graciana Ignácio Cunha.

Na opinião de Simone de Souza Campos Tombolato, PCNP dos Anos Iniciais, "o trabalho com edições do jornal estimula os alunos para que expressem suas opiniões de forma livre e debatam ideias, utilizando para isso seu próprio conhecimento de mundo, além da interpretação do texto lido, pois este procedimento servirá posteriormente para o trabalho com textos argumentativos da esfera jornalística, como carta do leitor, artigo de opinião e debate", detalha a educadora. 

Sobre a parceria que a Diretoria de Ensino mantém com o Grupo Liberal, desde 2002, quando o Projel foi implantado, Simone chama atenção para a colaboração do programa no desenvolvimento do protagonismo juvenil. O acesso às edições do jornal, diz ela, "estimula e apoia as crianças para que possam expressar pensamentos, sentimentos, valores, necessidades e opiniões, considerando que os alunos são indivíduos possuidores de direitos e deveres".

FERRAMENTAS. O Projel foi idealizado com a proposta de incrementar os materiais e ferramentas que o professor possui para exercer a sua função de propagador de conhecimentos específicos, dentro de cada disciplina. E, passados 13 anos, o resultado tem atendido as expectativas, na avaliação das PCNPs. 

"O Projel contribui com a matéria prima [jornais em sala de aula]; possibilita o trabalho com os diferentes textos jornalísticos, a contextualização dos temas sociais, culturais, históricos e políticos", enumera Graciana, citando que, muitos desses temas são conteúdos de ensino e aprendizagem nas diferentes disciplinas do Currículo Oficial do Estado de São Paulo no ensino fundamental e médio. "A utilização do jornal na alfabetização é ampliada com a apropriação das práticas sociais de leitura e escrita e as competências nelas desenvolvidas", enfatiza.

Simone tem as mesmas percepções e afirma que "o trabalho com jornal, em especial nos anos iniciais, contempla as expectativas de aprendizagem do 1º ao 5º ano".

BENEFÍCIOS DO PROJEL. Diretoria de ensino lista os pontos positivos em cada nível de ensino

FUNDAMENTAL. O trabalho com as edições do jornal auxilia no desenvolvimento das competências leitoras ao utilizar as diferentes estratégias e na produção de diferentes gêneros textuais tendo como referência as questões e os fatos noticiados no jornal. 

FUNDAMENTAL (CICLO 2) e MÉDIO. Inúmeras possibilidades de reflexão sobre os conflitos sociais, históricos e políticos, permitindo que o aluno compreenda e se posicione a frente das realidades sociais, olhando para elas a partir de diferentes pontos de vista, confrontando e analisando-as, a fim de construir os próprios argumentos, ampliando o conceito de cidadão participante das questões sociopolíticas e consciente de seus direitos e deveres.

TODOS OS NÍVEIS. O trabalho com o jornal em sala de aula é um instrumento de ensino e aprendizagem riquíssimo, além de integrar todos os níveis e faixa etária de leitores, considera os diferentes objetivos de leituras. Dependendo da abordagem do professor, o Projel pode ser utilizado desde o jardim da infância ao ensino médio. 

'A escola tem por princípio a educação cidadã'

Desde a sua concepção, o Projel (Programa Jornal na Escola) persegue o ideal de ser um instrumento facilitador no processo de formação de jovens leitores. A nobre missão de transitar no âmbito escolar com responsabilidade e objetivos bem traçados, transcende o estímulo à leitura e escrita. O foco está, sobretudo, em ser um instrumento eficaz na propagação do conceito de cidadania entre os estudantes de Americana e região. 

Há 13 anos perseguindo todas essas metas, o programa está atento às exigências e normas contidas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Atender aos temas transversais propostos na legislação é uma conquista em mais de uma década de ações desenvolvidas pela Diretoria de Ensino de Americana e o Grupo Liberal. 

"O Projel vai ao encontro da competência principal do currículo que é a leitora/escritora. Toda escola tem por princípio a educação cidadã em seu projeto pedagógico. Ser cidadão é conhecer sua cidade em todas as suas instâncias. O Projel permite aos professores e aos alunos navegarem por segmentos diferentes da notícia trazendo-os para a reflexão e formação do cidadão consciente e necessário ao modelo de sociedade atual", analisa a dirigente de ensino, Marilda Aparecida Leme. Confira os principais trechos da entrevista concedida ao LIBERAL. 

LIBERAL. Qual é a contribuição efetiva do Projel em sala de aula?
DIRIGENTE. A contribuição do Projel está ligada aos recortes possíveis de se fazer em relação ao currículo oficial. O professor pode usar as reportagens do dia cruzando-as com as temáticas das aulas naquele mesmo momento. Isso favorece a construção do pensamento, esclarece aos alunos os embates na cidade colocando-os de frente à construção de uma consciência cidadã.

Quais disciplinas conseguem se beneficiar do Projel?
DIRIGENTE. Todas as disciplinas podem se beneficiar do Projel. Mas é preciso a articulação e sensibilidade do professor e coordenador para tal. Perceber o jornal como uma ferramenta importante de leitura, escrita, reescrita e formação de pensamento.

Você acredita que o jornal é um material interessante para o professor e tem seu espaço mesmo diante dos recursos digitais que estão ao alcance dos alunos?
DIRIGENTE. Claro que sim. Ler e manipular o papel ainda é essencial à disciplina da leitura.

Qual a abrangência desta parceria do ponto de vista do acesso dos estudantes aos diferentes estilos de textos contidos nas edições do jornal?
DIRIGENTE. No jornal o professor pode trabalhar com o estilo de texto das reportagens. Isso é bastante interessante. Passa pelo texto argumentativo, dissertativo, pequenas crônicas... É um material bastante produtivo à disposição do professor que souber valorizá-lo.

Projel é tema de projeto de iniciação científica

O Projel, como recurso e instrumento de ensino, ampliando o contingente de leitores com senso crítico, transpôs os muros das escolas. O programa tornou-se tema de um projeto de iniciação científica financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) elaborado pela jornalista Aline Aparecida Hencklein Menezes, e publicado na revista Ciências da Educação do Unisal (Centro Salesiano de São Paulo), em 2010.

"Quando conheci o Projel, gostei muito da iniciativa do jornal, que é de grande circulação em Americana, em trabalhar com a educação da cidade e decidi junto com meu orientador [Luis Antonio Groppo] me aprofundar no projeto", diz Aline sobre a escolha do tema. Ela conta que a pesquisa foi endossada com entrevistas e aplicações de questionários, a fim de saber como é a receptividade dos alunos do jornal impresso em sala de aula. "Também avaliei o grau do impacto tecnológico da globalização perante alunos de diferentes níveis sociais e perante isso saber da postura dos mesmos ante o jornal impresso. E, por fim, tratei da importância da leitura na formação de cidadãos conscientes e críticos, através do desenvolvimento do hábito de ler o jornal impresso", detalha. 

Aline concluiu que o jornal faz um link com a teoria, tornando próximo tempo e espaço em relação a cronologia dos fatos. 

Outra atividade interessante, aponta ela, é que os alunos criam jornais murais e também podem ver suas matérias, desenhos, caricaturas e outras produções publicadas nas páginas do LIBERAL. "É um programa que une informação e educação", elogia.