Notícia

A Tarde (BA)

O etanol e o preço dos alimentos

Publicado em 13 julho 2009

Por Thiago Romero

Agência Fapesp

Muitas são as críticas recentes que associam a alta na cotação de preços dos alimentos em nível internacional com o suposto aumento da produção de biocombustíveis, cenário que faz com que o Brasil seja fortemente acusado por outros países como um dos principais responsáveis pelo problema.

Levantamentos sobre a produção dos dois tipos de produto, no entanto, mostram que essa hipótese não é verdadeira: diferentes estudos realizados no País e no exterior mostram, de fato, o acréscimo no preço dos alimentos produzidos em todo o mundo.

Mas é importante lembrar que o aumento ocorreu, progressivamente, também em outros setores da economia, afetando commodities como petróleo, cobre e alumínio.

O quadro foi apresentado na semana passada em conferência proferida pelo reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), José Tadeu Jorge, na 60ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Com base em estudos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Tadeu Jorge destacou que a soja e o arroz foram os alimentos que tiveram o maior aumento de preços entre 2000 e 2008. O custo da unidade da saca da soja pulou de US$ 11,40 para US$ 28,70 no período, enquanto o arroz passou de US$ 7,25 para US$ 28,41 e, o milho, de US$ 5,31 para US$ 14,18.

Ao mesmo tempo, os preços do barril do petróleo subiram de US$ 28 para cerca de US$ 150, acompanhados por elevações nos valores do cobre, cujo preço pago por tonelada no mercado internacional subiu de US$ 1,8 para US$ 8 de 2000 a 2008, e nos preços do alumínio, que também aumentaram de US$ 1,54 para US$ 2,85.

TENDÊNCIA – “Essa tendência de alta muito semelhante entre as commodities é uma forte evidência de que não há relação direta da alta de preços dos alimentos por causa dos fatores relacionados com a produção de etanol.

Acredito que ninguém tenha substituído a produção de petróleo ou alumínio para dar lugar ao plantio de cana para produção de etanol”, disse o reitor Tadeu Jorge, também professor da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp.

“Estamos diante de uma questão mais puramente econômica do ponto de vista global, do que propriamente um problema localizado. Uma das conclusões para o aumento significativo dos preços é o crescimento da demanda mundial por diversos tipos de alimento, que é o tipo de demanda que cresce mais cedo e mais rápido quando há aumento de poder aquisitivo da população”, disse.

PLANTADA – Após analisar os números de área plantada para a produção de diferentes tipos de alimento no Brasil, Tadeu Jorge citou o exemplo da área plantada de arroz, que vem caindo no Brasil, passando de 6,6 milhões de hectares na safra 1980/81 para cerca de 3 milhões na safra 2005/06, devido, segundo ele, principalmente ao aumento do rendimento das novas variedades do grão, e mais uma vez não pela expansão da cana.

Embora a área plantada de arroz tenha caído, a produção do grão subiu de 10,5 milhões de toneladas na safra 1986/87 para 11,7 milhões de toneladas em 2005/06. De acordo com ele, a área plantada de soja no Brasil subiu de 8,6 milhões de hectares na década de 1980 para mais de 22 milhões de hectares na safra 2005/06.

“Isso significa que o Brasil está ofertando mais soja no mercado internacional e, mesmo assim, os preços desse grão continuam subindo, o que rigorosamente não tem nada a ver com substituição de área de soja no País para o plantio de cana”, disse.

“Não há parcela de responsabilidade do etanol brasileiro na questão do preço dos alimentos no mercado internacional. A agropecuária é um negócio e, como qualquer outro, quando a demanda aumenta, quem produz alimentos quer ganhar mais dinheiro”, pontuou o engenheiro de alimentos.

Tadeu Jorge mostrou dados sobre o uso da terra no Brasil, que destina cerca de 237 milhões de hectares para pastagens, o que representa 81% da área agricultável utilizada no País atualmente, 21 milhões de hectares para soja (7%), 12 milhões de hectares para milho (4%) e 5,4 milhões de hectares para cana-de-açúcar (2%), sendo que 60% da produção de cana no País está concentrada no Estado de São Paulo.