Inegavelmente o Brasil na tecnologia empregada na produção de frutas dentro da porteira, podemos considerar que realizamos um magnífico salto qualitativo o que nos coloca em posição de destaque no panorama internacional, no entanto um dos gargalos enfrentados pelos produtores se prende a tecnologia empregada na colheita e seu respectivo manuseio na pós colheita, nesse sentido realizamos uma importante entrevista com Dr. Marcos David Ferreira, pesquisador CNPDIA-EMBRAPA (São Carlos) marcos.david@embrapa.br a quem a equipe TODAFRUTA, agradece.
TODAFRUTA - Na cultura do abacaxizeiro, visitamos lavouras no Hawaii, onde o numero de linhas duplas entre carreadores era em torno de 28-30, comparativamente a 6-8utilizadas no Brasil.A colheita em alta densidade de plantio era auxiliada por esteiras, que eram içadas sobre as plantas e fixadas em caminhões, nos carreadores. Porque não utilizamos essas esteiras no Brasil?
Marcos David Ferreira - Estas esteiras são de baixo custo e fáceis de serem instaladas e transportadas e de múltiplo uso, podendo também ser utilizadas para outras culturas, como por exemplo, melão. O não uso refere-se a fatores como desconhecimento do produtor de alternativas e os benefícios que elas podem proporcionar para a cadeia produtiva e também para os colhedores.
TODAFRUTA - Na cultura do mamoeiro, a utilização de plataformas altas, para possibilitar a colheita de plantas mais velhas, é uma dificuldade, a EMBRAPA tem propostas nesse sentido?
Marcos David Ferreira - Recentemente finalizamos um projeto financiado pela FAPESP relacionado ao desenvolvimento de plataforma móvel para auxilio à colheita em pomares e também para tomate estaqueado. Plataformas de auxílio são uma boa alternativa para situações como esta, aonde se mantém o colhedor, mas com condições mais adequadas, podendo excluir ou minimizar o uso de escadas. Esta plataforma possui chassi retrátil e possibilidade da adição de acessórios, sendo um veículo híbrido (diesel e elétrico) com tração independente nas quatro rodas facilitando a operação na fazenda. A total mecanização nestes casos é muito difícil, assim plataformas móveis podem ser uma boa opção. Maiores informações sobre este assunto podem ser encontradas no site http://poscolheita.cnpdia.embrapa.br/
TODAFRUTA - Muitos produtores não tem um custo detalhado de produção, dividido em todas etapas inerentes ao processo produtivo, esse não pode ser um obstáculo?
Marcos David Ferreira - Sim, sem o conhecimento dos custos operacionais fica difícil uma interferência ou modificação mais direta. Diversos estudos apontam a etapa da colheita, como a de maior custo para diferentes culturas.
TODAFRUTA - Qual a maior dificuldade a ser enfrentada pelos produtores, em utilizar esteiras, plataformas altas etc.?
Marcos David Ferreira - Não existe ainda o conhecimento amplamente divulgado entre os produtores e técnicos dos benefícios que este tipo de equipamento pode fornecer à atividade rural. Acredito que a partir desta difusão de conhecimento, e criação de demanda, empresas de máquinas agrícolas podem iniciar a produção de equipamentos direcionados a esta finalidade.
TODAFRUTA - Em linhas gerais como pode ser avaliada a mão de obra disponível no campo?
Marcos David Ferreira - A mão de obra para colheita e serviços na lavoura é de caráter sazonal e está ficando cada vez mais difícil rara e onerosa. Uma tendência observada tanto em países desenvolvidos como não desenvolvidos, é uma redução na procura por estes postos de trabalho, mesmo em momentos de crise econômica. Assim, alternativas como plataformas de auxílio e mecanização devem ser buscadas. Outras opções que forneçam melhores condições para o colhedor são fundamentais. Diversas pesquisas apontam maior esforço físico e também presença de danos musculares em colhedores na colheita manual tradicional. Desta forma, plataformas de auxílio, podem colaborar para melhores condições de trabalho, e em muitos casos minimizando ou evitando a utilização do uso da sacola de colheita e/ou escada. Outro ponto a ser destacado refere-se a que diversos artigos científicos, já na década de 60, apontam que colhedores que receberam treinamento causam menos danos físicos ao fruto, do que colhedores não treinados. Assim, considerando-se a sazonalidade desta mão de obra, o treinamento no inicio da safra é fundamental para a manutenção da qualidade pós-colheita.
TODAFRUTA - A EMBRAPA, lançou um livro COLHEITA E BENEFICIAMENTO DE FRUTAS E HORTALIÇAS, COMO O INTERESSADO PODERIA AQUIRI-LO?
Marcos David Ferreira - Este livro, como outros editados pela Embrapa Instrumentação sobre este tema, estão disponíveis para download gratuito no site
http://poscolheita.cnpdia.embrapa.br/
TODAFRUTA - Quais outros considerados que gostaria de fazer?
Marcos David Ferreira - A colheita de frutas em especial para mercado fresco é um grande desafio. A colheita manual ainda é muito utilizada, mas cada país hoje enfrenta dificuldades para este sistema. O uso da total mecanização na colheita possui limitações para várias culturas e as utilizações de robôs têm um custo elevado e ainda de difícil aplicabilidade. Desta forma, plataformas de colheita podem ser uma alternativa, mas é importante ressaltar que como qualquer nova técnica aplicada ao campo, são necessários adaptações e ajustes. O colhedor está acostumado a trabalhar de maneira individual, e na colheita em plataformas, trabalha-se em conjunto. Assim, é importante um período de adaptação com treinamento.
Em agosto de 2015, será realizada a IV edição do Curso Tecnologia Pós-Colheita de Frutas e Hortaliças, no qual serão discutidos alguns dos assuntos e temas discutidos nesta entrevista. Maiores informações no site http://poscolheita.cnpdia.embrapa.br/