Os pterossauros, répteis voadores que povoaram a Terra por 160 milhões de anos, desaparecendo há 65 milhões de anos, causam tanto fascínio quanto os dinossauros, de quem são parentes distantes.
Desde 1784, mais de 150 espécies já foram descobertas. Porém, até hoje, persistem várias dúvidas sobre elas, as maiores criaturas voadoras já existentes no Planeta, alcançando, em alguns casos, uma envergadura de 18 metros de uma ponta a outra das asas.
Agora, graças a uma parceria entre cientistas brasileiros e chineses, chegou-se a uma nova hipótese, que se não responde todas as perguntas, pelo menos indica que as regiões litorâneas do mundo pré-histórico eram as áreas habitadas pelos pterossauros.
A hipótese foi apresentada ao mundo no início do mês pelos cientistas Xiaolin Wang e Zhonghe Zhou, do Instituto de Paleontologia de Vertebrados da China, e pelos brasileiros Diógenes de Almeida Campos, do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e Alexander Kellner, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A constatação é baseada nas evidências de que os quatro principais depósitos do mundo, que no passado eram regiões costeiras - a Formação Santana, no Brasil, e outros na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Alemanha -, detêm cerca de 50% da diversidade e 90% dos exemplares de pterossauros.
Os quatro pesquisadores perceberam que nessas regiões costeiras, predominavam os fósseis dos pterossauros, enquanto as aves eram mais abundantes no interior dos continentes.
Ainda não as sabe ainda o porque dessa divisão de territórios. Segundo Kellner, em entrevista à Agência Fapesp, "possivelmente, essa separação também ocorreu porque regiões de florestas favoreceram mais as aves, que são bípedes, enquanto os pterossauros eram quadrúpedes".
Dragão
Na China, a equipe sino-brasileira descobriu duas novas espécies de pterossauros. O primeiro foi batizado com o nome de Fellongus youngi. Fellongus quer dizer "dragão voador", em chinês, e youngi é uma homenagem ao primeiro pesquisador chinês a descobrir uma criatura similar.
O segundo fóssil recebeu o nome de Nurhachius ignaciobritol, uma homenagem ao fundador da dinastia Chi'ing e ao paleontólogo brasileiro Ignácio Brito.
No Brasil já foram descobertas várias espécies de pterossauros. A Chapada do Araripe, no sul do Ceará, é considerada uma das mais importantes reservas de fósseis do Planeta. Mais de uma dezena de pterossauros já foram identificadas ali.
Uma das mais recentes é o Thalassodromeus sethi, que habitou a Terra há cerca de 110 milhões de anos. Com aproximadamente 4,5 metros de envergadura, ele se alimentava de peixes, fazendo vôos rasantes sobre a água e capturando suas presas com o bico, da mesma forma que fazem hoje alguns pássaros, como o talha-mar.
Thalassodromeus pode ser traduzido como 'o corredor dos mares', em alusão a essa característica de 'pesca', com a mandíbula dentro da água. O termo 'Seth', segundo Kellner, começou como uma brincadeira.
"Todos nós da equipe imaginávamos a visão desse animal pescando há 110 milhões de anos, uma verdadeira visão do inferno! Então, resolvemos utilizar o nome do deus egípcio Seth, que representa o caos", explicou. Caos que, aliás, representa bem a situação do patrimônio paleontológico brasileiro.