O autor e ex-presidente da SBPC, Gra-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Cientifico, que faz questão de se apresentar como "corinthiano". Texto escrito para o "JC E-Mail":
O Sr. K disse que o burocrata é uma pessoa inefável. Sempre usa gravata em publico. Ele sempre demonstra ter grande visão dos problemas nacionais e mostra discernimento e tato no tratamento de problemas individuais. Quando deseja intimidade, o burocrata acolhe pelo nome.
Quando quer impor autoridade e distancia, lembra seu sobrenome precedido por um respeitoso vossa excelência, doutor ou professor.
O burocrata sempre sabe, nunca erra publicamente. Tudo que faz é importante.
Mesmo que não entenda coisa nenhuma do assunto, o burocrata da excelentes explicações, convence multidões e mostra uma competência técnica/administrativa irrefutável. E' um talentoso marketeiro.
Afinal, lembra o Sr K, ele está no poder para representar este papel. Foi colocado nesta posição por algum grupo poderoso que o aplaude em silencio e se auto promove na sombra de suas palavras.
O Sr K tem uma idéia interessante. O burocrata não gosta do poder propriamente dito, porque o poder o é efemero, mas a burocracia eterna. O burocrata nunca perde, no mínimo empata.
Mas o Sr K lembra que os burocratas são cruéis. Não se deve questionados publicamente.
Todos sabemos que quando eles se sentem acuados, ativamente procuram desqualificar o oponente.
Com um leve adjetivo pejorativo ou derrogatório, sugerindo que ele esta fora do bom senso, que ele esta nervoso, irritado, agressivo, confuso não compreendendo minúcias fundamentais do problema, desautoriza a opinião alheia.
Nesta situação, diz o Sr. K, o burocrata assume grande autoridade. Faz um discurso absolutamente coerente, mas que pouco ou nada tem a ver com o problema.
Meu caro prof. Brito, estou lhe apresentando uma pequena fabula que escrevi há uns dois anos atrás (roubando um personagem de Brecht) para descrever a burocracia administrativa do CNPq, Finep e USP.
A fabula ficou na gaveta, porque ao terminar, cheguei a conclusão que a burocracia daquelas Instituições eram imutáveis. Ainda não nos parece ser o caso da Fapesp.
Mas não vou agora entrar neste assunto, vou apenas tentar esclarecer meu colega diretor da Fapesp. O que os pesquisadores paulistas querem é maior rapidez e efetividade, como em visitas a determinados bancos de dados.
Certamente o link de 155MB/s a curto prazo e a Internet 2 são soluções apropriadas.
O prof. Brito, queixoso de minha agressividade, declarou em sua resposta ('JC E-Mail' de 23/2/2001):
"O acesso ao link de 155 MB/s disponibilizado pela Fapesp para os pesquisadores paulistas desde primeiro de janeiro, é acessível de maneira transparente para todos os pesquisadores no Estado de SP, independente das áreas de seus projetos de pesquisa, desde que utilizem a ANSP".
Gostaria de comentar que a transparência do acesso ao link de 155MB/S aos pesquisadores do Estado de SP é um pouco obscura. A grande maioria de nossos pesquisadores não foi informada dos procedimentos necessários para esta ligação.
Para ser viável, esta ligação necessita um link direto à ANSP. Não fomos informados como fazê-lo, nem sabemos se temos infra-estrutura necessária para fazê-lo. Nunca fomos informados de como utilizar este sistema.
O que nos parece obvio é que, para utilizar a Internet 2, os pesquisadores "eleitos para o estudo piloto" terão conexão "personalizada" com a ANSP.
O fato dos projetos Genoma e Biota terem, garantido por contratos, o acesso a banco de dados específicos nos USA, não os qualifica a tal privilegio.
Sei que vão existir varias explicações. Quero dizer que fiquei surpreso pelo numero de correspondências que recebi, cumprimentando-me e denunciando varias atitudes de política científica questionáveis tomadas pela atual direção da Fapesp.
Muito de nos estamos convencidos de que a Fapesp está no desvio.
Há um ano, juntamente com dois ex-diretores científicos da Fapesp, o prof. Kerr e o prof. Pavan, pensamos em chamar atenção da comunidade científica paulista para vários problemas burocráticos e de política científica que andavam ocorrendo.
Chegamos até a pensar em propostas que, se implementadas, poderiam ajudar a minimizar muitos problemas.
A turma "do deixa disso" convenceu-nos que não era hora de desestabilizar a Fapesp, pois nossos comentários poderiam ser usados por aqueles que querem vela destruída, com o objetivo de usá-la para fins outros, que não o desenvolvimento científico.
Talvez agora tenha chegado a hora de analisar com tranqüilidade o que está ocorrendo.
Gostaria de continuar a receber informações (que serão tratadas com o máximo sigilo, pois os "burocratas são cruéis") a serem organizadas num Dossier Fapesp, para esclarecermos, discutirmos e encontrarmos soluções adequadas às questões levantadas por um bom numero de pesquisadores paulistas.
JC e-mail
Notícia
Jornal da Ciência online