É um mistério o destino da Reserva Florestal do Morro Grande, um riquíssimo remanescente de Mata Atlântica que ocupa um terço da cidade de Cotia (10,9 mil hectares). A reserva pertence à Sabesp, empresa cujo sócio majoritário é o governo do estado de São Paulo, mas que passa por uma “reorganização” em seu regime acionário que pode ampliar a participação privada.
Uma vistoria promovida por entidades ambientalistas e pelo vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado Luiz Turco (PT), em 14 de julho, ampliou as dúvidas das entidades.
Desde novembro, pela lei estadual nº 16.568, o local tornou-se a Área de Proteção e Recuperação dos Mananciais do Alto Cotia (APRM-AC). Essa lei prevê “áreas de intervenção” dentro da reserva. No artigo 26, a lei cita a compra de terras por instituições privadas. Essa lei está sendo investigada pelo Ministério Público de Cotia, em inquérito aberto a pedido de instituições ambientalistas.
Entre os itens questionados na lei, além das intervenções, como a venda de áreas, há contradições com outros documentos, como a lei de criação da reserva; o fato de que ela foi aprovada sem parecer da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa; e de que cita um mapa anexo inexistente, que deveria descrever a área exata da APRM.
As entidades verificaram na vistoria que está prevista a cessão de áreas para se tornarem Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), que são áreas que podem ser adquiridas por empresas para a preservação, como forma de compensação ambiental por danos causados ao meio ambiente.
Além disso, há loteamentos aparentemente irregulares (com lotes menores do que o permitido pelo zoneamento) nas divisas e os impactos causados pela linha ferroviária, recentemente duplicada, que corta a reserva.
Consultada pela reportagem, a Sabesp não se manifestou até o fechamento desta edição. Estiveram na vistoria, além dos integrantes da Alesp, entidades ligadas à Rede Mosaico, ao movimento Preserva Itapecerica, à Ong In-Pacto e outras.
A água mais pura de São Paulo
A Reserva Florestal do Morro Grande é o manancial mais precioso da Grande São Paulo por possuir a água mais pura fornecida às residências em toda a região metropolitana. Isso porque, ao contrário de outros mananciais, como Guarapiranga, Billings ou Cantareira, o Morro Grande conta com água que brotou dentro da própria reserva, sem passar por circuitos externos.
Essa área riquíssima, que agora está tendo sua gestão alterada pelo governo estadual, conta, segundo pesquisa feita por um consórcio de universidades lideradas pela Universidade de São Paulo (Biota/Fapesp, a partir do ano 2000) com, pelo menos, 850 espécies de animais. Para se ter uma ideia de sua diversidade, foram identificadas ali 27 espécies de anuros (sapos e pererecas).
Relembrando
Em setembro de 2011, publicamos uma matéria sobre o “Pulmão da Grande São Paulo”. Destacamos, na época, que a Reserva contempla biodiversidade da fauna, com macacos, onças-pintadas, jaguatiricas, quatis, tucanos e arapongas, e uma riquíssima flora – são quase 700 espécies de árvore - responsável pela formação de uma paisagem exuberante, talvez a mais bela de toda a região.