A Folha de SP deu uma nota curta sobre o debate dos candidatos à presidência da SBPC (http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id9952).
Não vou repetir o que todos já dissemos, na mídia externa ou no JC. Só quero tocar nos pontos talvez novos.
Cada candidato - depois de resumir suas idéias - formulou uma pergunta a cada concorrente. Ennio Candotti perguntou o que eu proporia para colocar profissionalmente os doutores que às vezes concorrem, às dezenas, por uma vaga na Universidade.
Penso que devemos exigir mais vagas de docentes nas Universidades que mais precisam deles, em especial para ter boas IES públicas em mais Estados do país.
Mas devemos também lembrar que a docência não é o único destino dos doutores. Há cada vez mais profissões qualificadas fora do âmbito universitário. Dez anos atrás, o sociólogo Werneck Vianna dizia que isso, que já ocorria na Física, aconteceria nas Humanas.
Curiosamente, Rogério disse depois que eu teria falado nas 'leis do mercado' para resolver o problema. Tive de explicar que, sendo eu da área de Humanas, nunca falaria em 'leis do mercado', expressão sem base científica.
O mercado só existe a partir do Estado. Falar em 'leis' suas é pura ideologia. E sempre afirmei que a sociedade é muito mais do que as empresas, incluindo movimentos sociais, alguns até anti-capitalistas.
Na minha vez de perguntar, indaguei a Ennio Candotti por que ele disse, ao Jornal da USP, que o acordo da Ciência e Cultura com a Imprensa Oficial poderia pôr o conteúdo editorial da revista sob tutela de um órgão estatal.
Mostrei que o convênio deixa clara a plena autoridade do conselho editorial sobre nossa mais antiga revista, fundada por José Reis.
Ela tem custo zero para a SBPC, já que a Imprensa Oficial cobre todos os custos industriais e a parte editorial é paga pela Fapesp e CNPq, em função de projetos do editor Carlos Vogt.
Minha dúvida é: por que pôr em risco uma revista primorosa e que não causa déficit algum? Ennio reiterou o que já dissera ao Jornal da USP - e então Carlos Vogt, da platéia, lembrou que o convênio está no site da SBPC, em http://www.sbpcnet.org.br/publicacoes/cienciaecultura.htm
Fui o único a fazer perguntas diferentes aos dois concorrentes. A Rogério Cerqueira Leite, pedi que esclarecesse sua idéia de indicação de reitores por um sistema que não é nem a eleição direta nem a lista tríplice. Ele sugeriu um comitê de busca, a exemplo do que se pratica na França para certas instituições.
Rogério perguntou a Ennio e a mim o que achamos da proposta de filiação dos professores do Recife, em massa, paga pela Prefeitura.
Deixei claro que não tenho nada contra (muito ao contrário!) a presença de professores do ensino médio e fundamental na SBPC. O Conselho já decidiu, por proposta minha, que a filiação não pode ser terceirizada.
O ponto principal, a meu ver, é que qualquer expansão da Sociedade que modifique profundamente seu perfil societário precisa ser discutida amplamente, com muita transparência, talvez até por uma assembléia geral.
Nas considerações finais, Ennio retomou a questão dos professores do Recife e me apelou que encerrássemos este assunto. Respondi que, de minha parte, tudo o que eu tinha a dizer já estava dito. É uma questão de princípios, mostrando diferentes visões da SBPC, não de acusações pessoais. Aceitei sua proposta.
Na conclusão, insisti em dois pontos. Primeiro: não podemos continuar pensando na SBPC em face prioritariamente do Estado. Devemos dar importância a ele (incluindo o MEC e o MinC) mas, num mundo mais democrático, o fundamental é ter o apoio da sociedade como um todo.
Uma SBPC mais voltada para a sociedade, portanto, o que inclui tanto empresas quanto movimentos sociais.
O segundo é o acesso ao conhecimento científico. A Organização Mundial do Comércio quer que a educação seja considerada mercadoria e não esteja sujeita a nenhuma barreira na circulação entre os países.
Quem nos alertou para esse perigo foi a reitora da UFRGS, Wrana Panizzi, na Carta de Porto Alegre. Sou contra isso, porque entendo que o acesso à ciência é emancipador (empowering) e, se for essencialmente pago, vai agravar desigualdades sociais que já são insustentáveis.
Ao contrário, devemos fazer que a ciência contribua para reduzir essas desigualdades e promova a democratização das relações humanas.
Nisso conto com o apoio dos candidatos Carlos Vogt e Jailson de Andrade (Vice-Presidências), Regina Markus (Secretaria Geral), Ana Maria Fernandes e Vera Val (Secretarias), Aldo Malavasi (1o Tesoureiro) e Humberto Brandi (2o Tesoureiro). (Mais textos no site http://www.janine-na sbpc.com.br)
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