Nenhum País consome mais crack do que o Brasil. É o que afirma o relatório do 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), divulgado ontem pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), financiado por CNPq e Fapesp. O Brasil representa nada menos que 20% do mercado global da droga.
A pesquisa revelou que, em 2011, um em cada 100 adultos fumou crack: um milhão de pessoas, portanto. Ou algo em torno de 0,5% de toda a população brasileira. Não são esses números, no entanto, que mais despertam a atenção. Setenta e oito por cento dos usuários consideraram ser "fácil" obter a substância. Se mais de três quartos de cidadãos entorpecidos entendem que é moleza encontrar e comprar o crack, por que a inteligência da Polícia não se antecipa?
Adicione à incompetência da Polícia um sistema judiciário moroso e um sistema carcerário inflado, saturado, e incapaz de cumprir sua premissa básica: devolver à sociedade um ser humano melhor do que aquele que adentrou o presídio. Em 16 anos, a taxa de encarceramento praticamente triplicou. Um em cada 262 adultos está preso. E 40% da população carcerária é composta por presos provisórios, sem condenação (não foram submetidos a julgamento).
Com tanto descaso das autoridades públicas, fracas demais para apresentar, planejar e executar projetos consistentes, com começo, meio e fim, recheados por ações multidisciplinares, integradas, da conscientização ao atendimento completo, não configura um milagre o fato de o número de usuários de crack crescer e crescer e crescer. Aliás, neste cenário, é natural mesmo que cresça. A palhaçada cometida por Gilberto Kassab (PSD) ante a "Cracolândia" no início deste ano é o exemplo clássico do despreparo de líderes políticos para tratar do problema. Como a Região Sudeste abriga 46% dos usuários, Araraquara é uma das cidades do Interior que precisa, urgente, encarar essa questão com seriedade. Discursos do tipo "aqui tá tudo bem" encobrem a realidade e em nada ajudam a combater o cada vez mais infiltrado crack.
Notícia
A Cidade On (Araraquara, SP)