A astronomia brasileira está entrando na maioridade e vai começar a jogar na primeira divisão do campeonato mundial da ciência. Depois de muito lutar, a comunidade vai passar a ter unia extraordinária capacidade científica a partir de 2004. Vamos contar com um telescópio de fazer inveja a muita gente: o Soar (sigla para "Southern Astrophysical Research", instalado no Chile). É um telescópio com espelho de 4,1 metros de diâmetro, construído por instituições norte-americanas e brasileiras. O custo total de construção foi de US$ 28 milhões. O Brasil entrou com 12 milhões, sendo que 10 milhões do CNPq e 2 milhões da Fapesp. Com isso, teremos 34% do tempo de uso.
O Soar vai rivalizar em vários aspectos com o telescópio espacial Hubble. Isso porque terá uma qualidade de imagem comparável à obtida hoje no espaço por ele e um espelho com diâmetro maior.
Essa equiparação da qualidade só será possível porque o Soar conta com recursos que suprem antigas deficiências dos telescópios terrestres. A atmosfera do nosso planeta tem uma turbulência natural que sempre causa imagens fora de foco, o que é muito ruim para a pesquisa científica. Foi justamente para se livrar desta turbulência que a Nasa colocou o Hubble fora da atmosfera, no espaço. É uma boa idéia: pena que custe US$ 2 bilhões.
A tecnologia evoluiu e agora existem as ópticas ativa e adaptativa - ambas presentes no Soar. Com a óptica ativa colocam-se 200 apoios debaixo do espelho do telescópio. Conhecidos como atuadores, eles garantem que a forma da superfície do espelho seja perfeita não importando em que direção o telescópio aponte. Já a óptica adaptativa é feita num pequeno espelho perto do foco do telescópio. Esse espelho é feito de material flexível e pode gerar curvaturas variáveis para compensar a turbulência da atmosfera. Para um bom funcionamento, essas curvaturas têm de variar 200 vezes por segundo. Com isso a imagem fica quase perfeita no foco.
O telescópio Soar vai ser utilizado por toda a comunidade científica brasileira. Qualquer pesquisador ou estudante de qualquer universidade ou instituto de pesquisa no território nacional vai poder submeter seus projetos. O Laboratório Nacional de Astrofísica, órgão do Ministério de Ciência e Tecnologia situado na cidade mineira de Itajubá, vai selecionar os trabalhos com critérios exclusivamente científicos. Esperamos que nas próximas décadas algumas centenas de teses de mestrado e de doutorado sejam preparadas com esse instrumento. Muitas descobertas poderão ser realizadas sobre a origem das estrelas, das galáxias, do Universo, dos elementos químicos etc. E uma responsabilidade muito grande para nossa comunidade fazer com que o retorno do investimento se traduza em resultados científicos, desenvolvimento tecnológico para instrumentação e impacto no sistema educacional.
Faz muitos anos que o Brasil tem bons jogadores na ciência astronômica. Mas o time sempre teve muitas dificuldades. Tinha até problemas para treinar. Às vezes faltava campo, às vezes bola, às vezes técnico; sempre faltava verba. Por isso nunca teve oportunidade de ganhar um campeonato. O jeito era jogar na segunda divisão. A partir de 17 de abril de 2004, vamos ser promovidos. Jogar na segunda divisão não é legal; o Palmeiras que o diga!
Notícia
Galileu