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"O Brasil depende dos Estados para cumprir suas metas internacionais do clima" (1 notícias)

Publicado em 21 de outubro de 2015

Por Bruno Calixto

Na manhã desta quarta-feira (21), na sede da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, representantes de 85 empresas acompanharam o lançamento do Protocolo Climático do Estado de São Paulo. O protocolo é uma tentativa de trazer as empresas que atuem no território paulista para o debate climático. O acordo pede que as empresas informem o governo sobre o quanto emitem de gases de efeito estufa, digam se investem em adpatação a problemas climáticos, se têm certificação ambiental, entre outros temas. Sete empresas já aderiram ao acordo, incluindo nomes como a Unilever, Carrefour e Votorantim.

Ao final do evento, a reportagem de ÉPOCA conversou com exclusividade com a secretária do Meio Ambiente, Patrícia Iglecias. Ela falou sobre a importância de trazer as empresas para o debate climático, sobre novos financiamentos da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e sobre o papel dos Estados nos debates globais sobre mudanças climáticas. "O Brasil pode chegar e falar que cumprirá determinada meta, mas depende dos Estados para conseguir realizá-la."

ÉPOCA - O governo está firmando um protocolo com empresas para que elas forneçam informações sobre o impacto que causam no meio ambiente, no clima. O que se espera conseguir com essas informações?
Patrícia Iglecias -
A ideia é que o Estado tenha um papel indutor de mudanças. Obviamente, muitas empresas já têm suas práticas em sustentabilidade, mas outras não. O Estado pode levar esse conhecimento para as outras empresas. O protocolo também nos dará a oportunidade de trabalhar uma questão, muito falada hoje em dia, que é a dos incentivos. Com o protocolo, poderemos entender o que as empresas já estão fazendo, e isso nos ajuda a dimensionar os tipos de políticas de incentivo para práticas em prol de questões ambientais. Só isso já é, em si, muito interessante.

ÉPOCA - O protocolo ainda está muito no início e é completamente voluntário. Há planos de criar metas no futuro?
Patrícia Iglecias -
Sim. A ideia é de continuidade. A gente tinha que começar num patamar razoável, permitindo que as empresas trouxessem os dados que elas têm. É um processo evolutivo. As metas vão acabar chegando, talvez até de fora, pelos acordos internacionais pós-2020. Mas isso é interessante para as empresas, e muitas já estão até trabalhando com redução de emissões, porque no fundo, a própria eficiência do processo produtivo depende do clima.

ÉPOCA - Por enquanto, estão aderindo empresas que já têm ações de meio ambiente. Como trazer para o debate do clima outras empresas, aquelas que não estão interessadas no assunto?
Patrícia Iglecias -
Acho que um outro protocolo, assinado pela Fapesp [órgão que financia estudos científicos], vai auxiliar muito. É um protocolo para pesquisas que possam trazer resultados específicos para a iniciativa privada. A pesquisa não precisa ser abstrata. Ela pode ser aplicada, lidar com situações concretas, que precisam de solução. Quando a gente começa a falar de pesquisas direcionadas, que possam trazer resultado, essa resistência começa a mudar. Nós também estamos difundindo nossas iniciativas para mostrar para outros governos subnacionais o que está sendo feito aqui, e elas foram bem recebidas em conferências em Lyon e Nova York.

ÉPOCA - Essa influência dos governos subnacionais, que no caso do Brasil são os Estados, está crescendo no debate sobre meio ambiente. Qual o papel dos Estados nesse debate que hoje é global?
Patrícia Iglecias -
É uma mudança que a gente vê de forma mais clara neste ano. Os subnacionais assumem um papel fundamental. O Brasil pode chegar e falar que cumprirá determinada meta, mas depende dos Estados para conseguir realizá-la. Os governos subnacionais podem fazer esse trabalho de ter maior proximidade com a população, com a iniciativa privada, e têm mais condição de gerar benefícios. Imagina se todos os Estados do Brasil trabalhassem na questão do clima, teríamos muito mais coisas interessantes para apresentar.

ÉPOCA - A Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo estará na Conferência do Clima de Paris?
Patrícia Iglecias -
Sim. Nós faremos um evento paralelo, não é um evento oficial da Conferência de Paris. Mas é um evento para poder mostrar o que está sendo feito no Estado de São Paulo. Por isso, teremos um espaço para cases de empresas. Para que as empresas paulistas possam mostrar seus resultados. Acho que isso é muito importante para o país.