Quase todos os documentos sobre o Brasil colonial, cerca de 80%, se encontram fora do País. Dessa forma, a maior parte da história do País - o período colonial abrange desde o século 16 até o 19 - permanece ainda por ser contada. Essa lacuna, no entanto, está perto de ser superada. A documentação do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), a que só pesquisadores que se deslocassem até Lisboa tinham acesso, pode agora ser consultada nos bancos de dados de institutos de pesquisa e universidades de todo o País.
Todos os documentos expedidos por reis, vice-reis e governadores referentes às 18 capitanias hereditárias que estavam no arquivo foram reunidos em CD-ROMs pelo Projeto Resgate de Documentação Histórica Barão do Rio Branco. Capitaneado pelo Ministério da Cultura, com apoio do CNPq e das agências estaduais de fomento à pesquisa - no caso de São Paulo, a Fapesp -, o projeto digitalizou tudo o que estava em microfilmes. Em junho deste ano, 100 lotes, com 289 CDs cada um, foram entregues pelo Ministério a institutos históricos e geográficos e universidades que possuem cursos de história.
O Arquivo Histórico Ultramarino foi criado em 1931 para reunir em um só local toda a documentação colonial que estava dispersa. Ainda assim muitos documentos se encontravam sem sistematização e, antes que fossem colocados nos discos, tiveram que ser reorganizados e postos em ordem cronológica. Para essa empreitada, mais de 40 pesquisadores brasileiros, entre historiadores e paleógrafos, estiveram trabalhando em Portugal por quatro anos. O resultado, além da organização, foi o surgimento de dados desconhecidos. "A documentação que se conhecia sobre São Paulo foi acrescida em pelo menos um terço", explica o historiador José Jobson de Andrade Arruda, coordenador da parte do Projeto Resgate referente a São Paulo e professor aposentado da USP. Para ele, o projeto democratiza informações importantes e, tal qual o Projeto Genoma, na área da biologia, deve servir para alavancar uma série de outras pesquisas. "Desde que esses dados começaram a ser divulgados, houve um crescimento significativo de pesquisas nessa área e pode-se dizer que elas já modificam todo o conhecimento histórico que se tinha sobre o Brasil colonial. O que se espera para os próximos anos é uma enxurrada de teses", diz.
Na USP, o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) e o Centro de Apoio à Pesquisa Histórica Sérgio Buarque de Holanda (CAPH) do Departamento de História já têm os 11 CDs com os 7 mil documentos referentes à Capitania de São Vicente. Os discos referentes ao resto do País devem chegar em breve.
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Jornal da USP