Exame de DNA comprovou que houve troca de células no laboratório
Herton Escobar escreve para 'O Estado de SP':
O bezerro que deveria ter nascido fêmea é realmente um clone, de acordo com exame de DNA divulgado nesta quarta-feira. O teste passou a limpo a reputação da vaca mãe, suspeita de ter pulado a cerca com o touro de uma fazenda vizinha.
A falha foi mesmo humana, resultado de uma troca de células no laboratório. É o primeiro animal clonado no Brasil a partir de uma célula já diferenciada, ou somática, em vez da célula de um embrião, como no caso da bezerra Vitória, da Embrapa.
'Temos um clone verdadeiro, de células fetais', confirmou o pesquisador José Antônio Visintin, que coordena o projeto na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP. 'Acho que o sucesso é total. Tivemos apenas uma inversão da agenda.'
O objetivo da pesquisa é produzir um clone de células fetais e outro de um célula adulta, para determinar se um deles nasce biologicamente mais velho que o outro.
O nascimento do bezerro em uma fazenda de Campinas, no sábado, surpreendeu os pesquisadores, que pensavam estar clonando uma vaca. Segundo Visintin, um dos alunos de pós-graduação usou células retiradas de um feto macho para preparar os embriões clonados, em vez das células colhidas de uma vaca adulta.
'Descongelamos duas amostras diferentes de células no mesmo dia', disse o pesquisador. 'Eu assumo esse erro.' A análise genética comprovou a equivalência do DNA do clone com o do feto.
O bezerro foi batizado como Marcolino da USP, em homenagem a Marco Roberto Bourg de Mello, um dos 12 doutorandos da equipe. As primeiras análises indicam que o animal tem saúde e anatomia perfeitas, uma raridade entre os clones produzidos até agora no mundo.
O feto do qual ele foi clonado foi obtido em um matadouro e descartado após a coleta das células. Sua raça não foi determinada. 'As células fetais eram experimentais e não deveriam ter sido implantadas', disse Visintin.
O mesmo erro pode ter ocorrido na preparação de outros dois clones que ainda estão em gestação e devem nascer dentro de quatro e sete meses, segundo o pesquisador.
O diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa de SP (Fapesp), José Fernando Péres, disse que nunca duvidou da competência da equipe. 'Essa situação mostra como é a dinâmica do trabalho científico. Outras experiências no mundo todo só são divulgadas no momento de sucesso total.'
A Fapesp financia o projeto em parceria com a USP e o CNPq.
(O Estado de SP, 1/5)
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