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O adeus a Vanzolini

Publicado em 01 maio 2013

Por Jotabê Medeiros

Não teve “Ronda” nem aplauso, apenas silêncio. No adeus ao zoólogo e compositor Paulo Vanzolini, nesta segunda-feira, às 17 horas, no Cemitério da Consolação, cerca de 200 pessoas assistiram compungidas e caladas ao seu enterro. Havia alguém com um cavaquinho, mas não se atreveu a tocar no instrumento.

Morto na noite de domingo aos 89 anos em São Paulo, Vanzolini deixou canções como “Ronda”, “Praça Clóvis” e “Volta por Cima”, que se tornaram ícones de São Paulo. Ele passara mal na quinta-feira e fora internado na UTI do Hospital Albert Einstein com pneumonia extensa, que logo evoluiu para uma septicemia. Às 23h35 de domingo, não resistiu.

Ao lado da viúva, a cantora Ana Bernardo, e dos filhos do compositor, muitos músicos, parentes (como o cartunista Paulo Caruso, seu genro), amigos e colegas da USP se reuniram para o derradeiro adeus ao compositor, entre eles o ex-ministro Celso Lafer, o maestro e arranjador Eduardo Gudin, o percussionista João Parahyba e a cantora Cristina Buarque.

Muitos entre os presentes mostravam certa revolta com o fato de Vanzolini não ter recebido um velório público. “Para que serve a Assembleia Legislativa? Para que serve a Câmara? Um homem com esse porte, essa importância para São Paulo, um homem desses deveria ter sido velado em um lugar público”, lamentou o pesquisador e jornalista Assis Ângelo. “Foi um desejo da família, mas a cidade de São Paulo gostaria muito de ter se despedido dele”, afirmou o produtor José Mauro Gnaspini, um dos curadores da Virada Cultural.

O compositor faria um show na sexta e no sábado no clube Casa de Francisca, no Jardim Paulista, para ajudar a manter o local. Também se apresentaria na Virada Cultural, o quarto no evento, no dia 19, domingo, às 15 horas, no Pátio do Colégio. A organização espera tornar a data um momento de tributo ao compositor, convidando cantores e instrumentistas próximos a ele.

O samba-canção “Ronda”, composto por Vanzolini, foi gravado por Inezita Barroso em agosto de 1953, sete anos depois de composto, e virou um dos hinos simbólicos de São Paulo.

“Samba é paciência”, sempre repetia Vanzolini, que também foi um dos mais graduados intelectuais entre os sambistas brasileiros de todos os tempos: fez doutorado em Harvard, era pesquisador do Instituto de Zoologia, herpetólogo (especialista em répteis) e professor emérito da USP. Foi também o autor da lei que criou a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Nascido no bairro paulistano do Cambuci, no dia 25 de abril de 1924, a dupla militância (na música popular e na ciência) lhe rendeu elásticas relações: Chico Buarque gravou duas canções do primeiro disco com músicas de Vanzolini; o médico e escritor Drauzio Varella foi seu aluno na USP; e cientistas do quilate de Theodosius Dobzhansky, Emest Mayr e Aziz Ab’Saber eram seus amigos. Foi parceiro de Eduardo Gudin, Elton Medeiros, Paulinho Nogueira, entre muitos outros.

Agência Estado