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Jornal do Brasil online

Número de periódicos científicos brasileiros em base WoS aumenta 205%

Publicado em 14 maio 2009

SÃO PAULO - A ciência brasileira ganhou mais visibilidade global: o número de revistas científicas nacionais indexadas na base de dados internacional Web of Science-ISI (WoS) aumentou 205% entre 2002 e 2008.

A razão do aumento, de acordo com especialistas em cientometria e com a empresa Thomson Reuters, responsável pela WoS, é o crescimento do interesse mundial pela pesquisa científica brasileira, considerada de alta qualidade.

Esse aumento da presença brasileira na base WoS não significa que a produção científica nacional tenha crescido no mesmo percentual. Segundo pesquisadores da área de cientometria, ouvidos pela Agência FAPESP, a declaração do ministro da Educação Fernando Haddad de que teria ocorrido no Brasil um aumento de mais de 50% no número de artigos publicados em apenas um ano (de 2007 a 2008), o que seria inédito no país e no mundo, não se justifica.

Segundo José Claudio Santos, gerente regional da Thomson Scientific para a América do Sul, desde 2006 a empresa tem procurado agregar à base de dados uma maior quantidade de conteúdos da região. Com a inclusão de novos periódicos, a presença brasileira na base aumentou 56% de 2007 para 2008.

- A comunidade internacional estava cobrando isso, porque estão sendo divulgadas continuamente notícias sobre a excelente qualidade da produção científica brasileira, especialmente nas áreas de energias alternativas, agricultura e ciências sociais. Havia demanda por um conjunto de dados que não tínhamos na base e começamos a indexar informação - disse Santos à Agência FAPESP.

- O que aumentou foi a presença latino-americana na base de dados e o Brasil liderou esse processo de crescimento, o que é excelente. Mas isso não ocorreu devido aos investimentos do governo em ciência, como foi dito. Os investimentos continuam baixos. A razão maior foi que nos dois últimos anos foram indexadas novas revistas - disse Rogerio Meneghini, coordenador científico do programa Scientific Electronic Library Online (SciELO), criado em 1997 por meio de uma parceria entre a FAPESP e o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme).

Segundo Meneghini, além da nova orientação da Thomson para englobar países em desenvolvimento, a empresa tem concentrado o foco em áreas temáticas como mudanças climáticas, biodiversidade, saúde pública e algumas disciplinas das ciências sociais.

- O Brasil estava bem em todas essas áreas e, por conta disso, acabou se destacando entre os outros países do continente que ganharam mais espaço na WoS - explicou.

Meneghini destaca que mais investimentos públicos nas revistas científicas brasileiras poderiam aumentar ainda mais a visibilidade da ciência nacional.

- Seria preciso criar certas políticas. Não basta investir dezenas de milhões de dólares anualmente para manter um portal que dá aos cursos de pós-graduação acesso às revistas nacionais – embora esse seja um produto importante. É preciso também investir nas revistas nacionais, o que não é feito - afirmou.

De acordo com Santos, os critérios da Thomson para a indexação de revistas impressas e eletrônicas permanecem os mesmos.

- Só são indexadas na base as revistas que obedecem a cinco critérios básicos: habilidade de publicar e distribuir a tempo; uso de convenções internacionais para a parte editorial; publicação preferencial em inglês; conteúdo editorial – como resumos e palavras-chave – também em inglês; e diversidade internacional - explicou o responsável pela área comercial, editorial e de estudos bibliométricos da Thomson no continente.

O aumento da participação latino-americana na base WoS, segundo Santos, foi de 154% entre 2002 e 2008.

- Em 2002, tínhamos 63 revistas do continente indexadas. Fechamos 2008 com 160, sendo 64 delas revistas brasileiras. De todos os países – Brasil, México, Chile, Argentina e Colômbia – o Brasil foi o que mais teve aumento no número de indexações: 205%.

Segundo Abel Packer, diretor da Bireme e um dos idealizadores do SciELO, ao lado de Meneghini, a melhora na qualidade dos periódicos nacionais foi decisiva para o aumento de sua presença na WoS.

- Embora tenham ampliado os critérios, eles não os relaxaram. O fato é que há uma grande melhora nos periódicos, que vem sendo explicitada pelo SciELO. Com isso, ficou impossível para os organismos internacionais ignorar a ciência que vem sendo feita no Brasil - afirmou.

Para Packer, o programa apoiado pela FAPESP teve um papel proativo no registro de um aumento das publicações científicas latino-americanas.

- O SciELO demonstrou que temos um conjunto significativo de periódicos de qualidade que merece indexação internacional. Temos contribuído para dar às revistas brasileiras maior visibilidade nacional e internacional, o que se reflete em um número grande e crescente de downloads de artigos nas coleções SciELO, além do aumento do número de citações, que reflete o impacto dessa produção científica - disse.

Ao longo do desenvolvimento da coleção SciELO, uma série de periódicos atingiu um número de fator de impacto maior que 1, algo então inédito no país. Isso se deveu, segundo Packer, à constante avaliação crítica feita pelo programa em sua seleção de artigos, cuja consequência é uma melhora de qualidade gradual dos periódicos.

- Gostaria de fazer uma crítica aos índices internacionais como a WoS, que sempre olharam nossos periódicos como produtos de segunda categoria. Chamávamos há muito tempo a atenção para que nossas revistas tivessem uma cobertura mais ampla devido à sua qualidade. Finalmente obtivemos sucesso, mas essa mudança chegou bem tarde - destacou.

Para a cientometrista Jacqueline Leta, professora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a notícia de que o Brasil agora passa a ser o 13º país do mundo com mais artigos publicados na WoS deve ser comemorada.

- É uma excelente notícia. O que é ruim é a forma como foram apresentadas as causas desse crescimento – ele foi causado muito mais pela inserção de mais periódicos na base WoS do que por um aumento das publicações. A Capes tem grandes méritos, mas não fez nada sozinha - disse.

Essa indexação de novos periódicos brasileiros, segundo ela, foi resultado de uma grande negociação e muitas articulações feitas entre a Thomson e a comunidade científica brasileira.

- Houve todo um processo editorial que levou à melhora em todos os quesitos das revistas, desde a submissão até a publicação. Tudo isso garantiu a esse periódicos uma avaliação melhor. Se não tivessem qualidade, também não entrariam na base - apontou.

Segundo Jacqueline, é preciso ressaltar que as bases como a WoS têm limites de catalogação de periódicos. Por isso seus organizadores restringem a indexação às revistas com maior reconhecimento mundial.

- As bases fazem um recorte na literatura científica mundial. Não haveria capacidade técnica ou econômica para incluir todos os periódicos do mundo - explicou.

Os periódicos dos Estados Unidos, segundo Jacqueline, tradicionalmente dominam as bases de dados da WoS.

- Se pensarmos em termos demográficos, talvez a China tenha o maior número de periódicos do mundo, mas não está representada de forma tão concentrada como outros países de grande tradição científica. Por isso, a produção científica de um país não é necessariamente proporcional ao número de artigos publicados na base. Os números precisam sempre ser entendidos levando-se em conta a dimensão da base - disse.

Com informações da Agência Fapesp.