Um estudo elaborado por duas pesquisadoras da Universidade Federal de São Paulo, divulgado em 2023, na revista científica Journal of Gerontology , mostrou que ao menos 1,76 milhão de brasileiros com mais de 60 anos vivem com alguma forma de demência. O mais preocupante é que, de acordo com o levantamento, 70% dessas pessoas não têm diagnóstico, o que impede de procurar o tratamento adequado.
O estudo foi realizado pelas pesquisadoras Laiss Bertola, que é neuropsicóloga, e Cleusa Ferri, psiquiatra e epidemiologista. Para chegar ao número, as especialistas realizaram testes neuropsicológicos e de competência funcional no dia a dia em um grupo de 5.249 indivíduos, uma amostra representativa da população do país com 60 anos ou mais.
No entanto, o que mais preocupa com a divulgação do levantamento é a previsão de pessoas no Brasil com demência até o final da década: 2,78 milhões. Para 2050, daqui exatos 25 anos, há a possibilidade de 5,5 milhões estarem com algum tipo de demência. Cabe ressaltar que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a enfermidade não é uma característica do envelhecimento normal, apesar do nítido aumento de diagnósticos em idades mais avançadas.
Dados do Brasil indicam que 3% das pessoas entre 65 e 69 anos desenvolvem algum tipo de demência. Os casos aumento para 9% para aqueles que têm entre 75 e 79 anos, 21% na faixa dos 85 e 89 anos, e 43% após os 90 anos.
“Conhecer essas informações é crucial para que o país se prepare para lidar com a situação e criar serviços adequados para atender às necessidades dessas pessoas”, explicou Cleusa Ferri ao portal Pesquisa FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Doença de Alzheimer é a mais comum entre as demências
Os especialistas afirmam que demência é um conjunto amplo de enfermidades que podem se manifestar cedo ou tarde, com uma tendência maior nas pessoas com mais de 60 anos. Inevitavelmente levam à deterioração progressiva da capacidade intelectual, segundo explica o portal Revista FAPESP
O tipo de demência mais conhecido atualmente é a doença de Alzheimer, descrita em 1906 pelo neuropatologista alemão Alois Alzheimer e pelo tcheco Oskar Fischer. A enfermidade representa até 70% dos casos de demência em países ricos. No Brasil, de acordo com os levantamentos, representa entre 50% e 60%. Os primeiros sinais são as falhas recorrentes na recordação de acontecimentos recentes.
“No início, o paciente com Alzheimer apresenta lapsos de memória recente que prejudicam o dia a dia, trazendo dificuldade de aprendizado e de tomada de decisões, perda de interesse nas atividades que antes eram prazerosas e mudanças de humor. Nesse estágio inicial é muito importante buscar um diagnóstico”, explica o neurologista Fernando Freua, da Beneficência Portuguesa de São Paulo ao Medicina S/A
Embora não exista um tratamento que tenha a capacidade de reverter completamente o quadro, o diagnóstico precoce possibilita retardar o avanço da doença. “Quando antes for descoberta, maiores serão as chances de controlar os sintomas, proporcionando uma melhor qualidade de vida para o paciente”, complementou Freua.
Texto: Matheus Godoy