Com recursos anuais de R$5 milhões, um novo programa da Fapesp pretende descentralizar a produção científica do Estado através do apoio a projetos de jovens pesquisadores não ligados aos grandes centros de pesquisa
Um novo programa da Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp) pode mudar o perfil da pesquisa científica no Estado de São Paulo nos próximos anos. Com o chamado Programa de Apoio a Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes, instituído neste mês; a Fapesp espera incentivar pesquisadores com "expressiva atividade de pesquisa" e fortalecer instituições afastadas dos grandes centros científicos. "Queremos ajudar pesquisadores com grande potencial, mas ainda sem uma perspectiva real de carreira", afirma o diretor científico da Fapesp, o professor José Fernando Perez, lembrando que em média um doutor regressa ao País a cada dia - muitos deles não ligados a universidades.
Para o novo programa, a Fapesp vai destinar anualmente um orçamento de R$ 5 milhões. Os projetos - que terão a duração máxima de quatro anos - serão recebidos duas vezes por ano, até os dias 30 de junho e 30 de novembro. Embora o programa priorize candidatos mais jovens, não há limite de idade para a concessão do auxílio. O processo de seleção será competitivo. A comissão julgadora levará em conta as atividades do pesquisador, especialmente publicações e realizações que confirmem a sua participação em pesquisas relevantes para a área do conhecimento em que atua. Outro critério importante para a solicitação de auxílio é a apresentação de um projeto de pesquisa. As inscrições para o Programa de Apoio a Jovens Pesquisadores já podem ser feitas na Fapesp. O telefone é (OU) 837-0311.
DESCENTRALIZAÇÃO DAS PESQUISAS
Mas o programa não fornecerá recursos apenas para os pesquisadores e seus projetos. Eles serão destinados também à melhoria da infra-estrutura de pesquisa dos centros onde atuarão os pesquisadores. Com isso, a Fapesp espera garantir a realização dos projetos aprovados pelo novo programa. Em contrapartida, a Fapesp exige que esses centros de pesquisa se comprometam com as metas do programa, oferecendo espaço e pessoal de apoio adequados à realização da pesquisa.
Pesquisadores sem vínculo com centros de pesquisa também podem se inscrever no programa. Nesse caso, eles receberão uma bolsa de pesquisa por um período de dois anos, renovável por mais dois anos. A instituição que receber os cientistas definirá como eles serão incorporados ao seu quadro permanente de funcionários. Os equipamentos adquiridos com recursos do programa serão doados ao centro de pesquisa onde for realizado o projeto.
Para o professor Perez, uma das maiores contribuições do novo programa da Fapesp será a ampliação da comunidade científica do Estado. O apoio a pesquisadores e o fortalecimento de grupos de pesquisa e instituições atualmente "estagnadas", diz, deverão mudar os atuais indicadores da produção científica, considerados ruins. "O principal desafio é fazer com que a comunidade cresça", destaca o diretor científico da Fapesp. "Com um número maior de cientistas, a produção será maior e melhor."
É com esse objetivo que a Fapesp contemplou em seu programa o que chama de "centros emergentes" - as instituições de pesquisa que já possuem grupos de pesquisadores e alguma infra-estrutura, mas enfrentam dificuldades para desenvolver seu trabalho. Para Perez, o apoio a esses centros de pesquisa vai descentralizar a produção científica no Estado, permitindo que importantes conquistas da ciência sejam obtidas em instituições não ligadas aos principais grupos de pesquisadores - geralmente da USP e Unicamp. "Essa descentralização vai estimular os grupos de pesquisadores a crescer e viabilizar o processo de transferência de tecnologia à sociedade", acredita Perez.
PROGRAMA DE APOIO À INFRA - ESTRUTURA
A Fapesp anunciou também o início da segunda fase do Programa Emergencial de Apoio à Recuperação e Modernização da Infra-Estrutura de Pesquisa do Sistema Estadual de Ciência e Tecnologia. Instituído em 1994 - quando foram destinados R$ 55 milhões para a melhoria da infra-estrutura dos centros de pesquisa do Estado -, o programa vai movimentar neste ano R$ 70 milhões.
Nesta segunda etapa, o programa está dividido em cinco módulos. O primeiro é "Equipamentos Especiais Multiusuários", que se refere à aquisição e instalação de equipamentos - exceto recursos de informática - a serem usados por vários pesquisadores. O prazo para a inscrição nesse módulo termina no dia 2 de outubro.
Também com prazo até o dia 2 de outubro, o módulo "Ampliação e Modernização de Recursos de Informática" prevê a aquisição de hardwares e softwares e a informatização de bibliotecas. Já o terceiro módulo tem o título "Biblioteca", destina-se à restauração e modernização de bibliotecas - excluídos livros e bens de informática - e tem prazo de inscrição até o dia 31 de outubro.
"FAP-Iivros" é o quarto módulo do programa. Com ele, bibliotecas de centros de pesquisa do Estado poderão adquirir novos livros (prazo: 31 de outubro). Finalmente, o módulo "Infra-estrutura Geral" contempla a modernização de infra-estrutura de pesquisa em itens não mencionados nos módulos anteriores. O prazo vai até 31 de outubro. ROBERTO C. G. CASTRO
FAPESP É EXEMPLO PARA O EXTERIOR
A eficiência da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), como agência financiadora de pesquisa científica, está sendo observada por cientistas do exterior e servindo de modelo até mesmo para importantes instituições dos Estados Unidos. Isso ficou claro durante o seminário "Institutional and Entrepreneurial Leadership in the Brazilian Science & Technology Sector", promovido pelo Banco Mundial em 24 a 26 de maio em Washington. No seminário, o professor norte-americano Daniel H. Newlon, um dos diretores da National Science Foundation (NSF) - o órgão dos Estados Unidos equivalente ao CNPq -, fez uma palestra em que exaltou a forma como a Fapesp gerencia o fomento à pesquisa. "Nenhuma agência financiadora, incluindo a NSF, realiza melhor o trabalho de financiamento de pesquisa do que a Fapesp", declarou Newlon.
Ele lembrou que a NSF demora seis meses para dar ao pesquisador a resposta ao seu pedido de auxílio, enquanto a Fapesp faz o mesmo procedimento em no máximo seis semanas. Newlon destacou ainda o trabalho de avaliação dos projetos. Na Fapesp, os pesquisadores têm a chance de responder ao assessor antes do seu parecer sobre o projeto. Os cientistas são avaliados durante e após a pesquisa. Além disso, acrescentou Newlon, a Fapesp envia os recursos diretamente para o pesquisador - ao invés de manda-los para o centro de pesquisa - e protege o dinheiro contra a inflação. "Nada disso ocorre na NSF", disse o diretor, lembrando ainda que os custos administrativos do órgão norte-americano são proporcionalmente maiores do que os da Fapesp. Essa avaliação do diretor da NSF corresponde à opinião da revisto Science, que dedicou o volume 267, de 10 de fevereiro de 1995, à pesquisa científica na América Latina. "Os pesquisadores amam a Fapesp porque ela é tudo o que as outras agências não são: eficiente, preocupada com qualidade e com o cientista sempre em vista", destacou a revista em um de seus textos sobre a ciência no Brasil.
Para o diretor científico da Fapesp, José Fernando Perez, o sucesso da instituição está ligado à regularidade do repasse de 1 % da renda tributária de São Paulo - estabelecido pela Constituição estadual - e à autonomia da Fundação em relação ao governo. "Sem essas duas condições, uma agência de fomento à pesquisa não funciona com eficiência", diz.
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Jornal da USP