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Novo passo para a cura do câncer (1 notícias)

Publicado em 10 de outubro de 2003

Todos os medicamentos que hoje estão no mercado e melhoram a qualidade de vida das pessoas são fruto do trabalho anônimo de milhares de pesquisadores. Mergulhados num processo complexo e demorado, atuam sem garantias de sucesso e enfrentam muitas barreiras. A tecnologia tornou-se um aliado do pesquisador. Equipamentos mais precisos e softwares avançados permitem desde simulações moleculares até a síntese de novos compostos. "A tecnologia traz mais rapidez para os processos de pesquisa e maior velocidade na aquisição de dados no mundo científico", explica o pesquisador e coordenador do projeto de desenvolvimento da droga de combate ao câncer da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), Antônio Carlos Fávero Caires. Para esse trabalho, a Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) investiu US$ 2,5 milhões em um laboratório na UMC, que pertence ao grupo de pesquisadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Bioquímica (CIIB). Lá foram implantados equipamentos de ponta, reagentes e toda a estrutura. Caires e sua equipe conseguiram desenvolver uma droga inibidora das famílias de enzimas cisteíno-proteases e serino-proteases. Dentre essas enzimas, está a catepsina-B, responsável pelo crescimento e propagação (metástase) de tumores malignos. "Com isso, conseguimos impedir que o câncer cresça é se espalhe pelo organismo, destruindo preferencialmente a célula defeituosa. Outro ponto positivo é que a droga foi desenvolvida a partir de compostos derivados do metal paládio, que é da mesma família da platina, de onde se originaram os principais medicamentos em uso atualmente para quimioterapia. Mas com a vantagem de não provocar muitos efeitos colaterais." O trabalho não foi rápido, muito menos fácil. Para manipular células, ensaiar proteínas ou sintetizar novos compostos, foi necessária uma boa base tecnológica e a utilização de potentes computadores para armazenar e processar dados e softwares específicos com tecnologia de ponta na área. Estar em contato com o mundo para trocar informações com outros cientistas também faz parte do processo. Mesmo com toda essa tecnologia à disposição, os estudos levaram seis anos até se chegar à droga; sem contar os outros nove anos, voltados para o embasamento da pesquisa, a elaboração dos projetos e a obtenção de verbas. A nova droga já está patenteada e tem processo de registro de proteção em 168 países. Uma nova fase de pesquisas, não menos longa, começa agora. "Estamos estabelecendo contato com várias indústrias, em regime de sigilo absoluto, para o desenvolvimento do fármaco, a partir do princípio ativo que descobrimos", informa Caires. O processo a partir de agora envolve três etapas e investimentos que ultrapassam US$ 300 milhões e, no mínimo, mais uma década de trabalho. Tudo isso sem garantias de que se chegará a um medicamento de combate ao câncer. Para se ter uma idéia, apenas 18% dos produtos em estudo passam da fase pré-clínica para a clínica, na qual são utilizados testes em seres humanos.