Alpha Crucis, o novo navio oceanográfico brasileiro, está a caminho do país. Depois de passar por reformas nos últimos 10 meses, em Seattle (Estados Unidos), o navio zarpou no dia 30 de março com destino ao porto de Santos (SP). A data prevista de chegada é 10 de maio.
O navio foi adquirido pela FAPESP para a Universidade de São Paulo (USP), que também ficará responsável pela manutenção e gestão da embarcação. A compra faz parte de um projeto de incremento da capacidade de pesquisa submetido à FAPESP pelo Instituto Oceanográfico (IO) da USP, no âmbito do Programa Equipamentos Multiusuários (EMU).
De acordo com o diretor do IO-USP, Michel Michaelovitch Mahiques, o navio deverá levar a capacidade de pesquisas oceanográficas a um patamar inédito no Brasil. O país não tinha um navio oceanográfico civil em operação desde 2008, quando o navio Professor W. Besnard, utilizado desde 1967, sofreu um incêndio e ficou sem condições operacionais de pesquisa.
“O Alpha Crucis proporcionará um imenso salto qualitativo na pesquisa oceanográfica. Uma das razões para isso é que ele tem capacidade para navegar por 40 dias, enquanto o Professor Besnard tinha autonomia limitada a 15 dias. Isso significa que o novo navio poderá fazer estudos em oceano aberto, ampliando nossos limites geográficos de pesquisa”, disse Mahiques à Agência FAPESP.
Além da maior autonomia, o Alpha Crucis dispõe de equipamentos que não estavam disponíveis no Professor Besnard, o que amplia a gama de possibilidades de pesquisa. “Alguns desses equipamentos viabilizarão estudos de cardumes, de mapeamento de relevo de fundo, de medição de correntes, por exemplo, que antes seriam impossíveis. O potencial de pesquisa é muito maior”, disse Mahiques.
Com o novo navio também será possível operar um veículo submersível operado remotamente (ROV, na sigla em inglês) de pequenas dimensões. O Alpha Crucis também ampliará a capacidade de pesquisa para além de estudos estritamente oceanográficos.
Projetos ligados ao Programa BIOTA-FAPESP e ao Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) serão especialmente favorecidos. “No Professor Besnard era muito difícil realizar estudos sobre diversidade de organismos de água profunda, por exemplo”, disse Mahiques.
O Alpha Crucis, que antes (com o nome Moana Wave) pertencia à Universidade do Havaí, tem 64 metros de comprimento por 11 metros de largura. O navio tem capacidade para levar 20 pessoas e deslocar 972 toneladas. O custo total da embarcação, incluindo a reforma, foi de US$ 11 milhões.
Nos últimos 10 meses, várias reformas e modificações foram realizadas na embarcação, no estaleiro onde se encontrava em Seattle. “A reforma teve duas vertentes. Uma delas correspondeu às adaptações necessárias para que o navio, fabricado em 1973, atendesse à legislação brasileira atual referente à segurança de embarcações. A segunda vertente foi voltada para modernizar o navio, atendendo às demandas da pesquisa científica”, disse.
A adequação à legislação exigiu a substituição de diversas paredes e a troca do material do forro e do piso. Toda a mobília de madeira foi substituída por metal e foram também instalados novos equipamentos de segurança. A modernização incluiu a reforma de todos os laboratórios a bordo, além da instalação de novos elementos na ponte de comando, novos guinchos e novos equipamentos científicos.
“O Alpha Crucis está concretamente pronto para operar. Mas, quando atracar em Santos, ainda será preciso realizar o processo de nacionalização do navio junto à Receita Federal. Em seguida, será realizado o trâmite burocrático de transferência da propriedade da FAPESP para a USP. A partir de julho, o navio deverá ter condições para operar de fato”, explicou Mahiques.