Notícia

Gazeta Mercantil

Novo modelo deve reduzir participação do setor público

Publicado em 31 março 1997

A divulgação de informações jornalísticas pela Internet requer um retorno pelo investimento das empresas, afirmou o presidente deste jornal, Luiz Fernando Ferreira Levy, na conclusão da I Conferência Brasileira de Ciência e Tecnologia, patrocinada pela GAZETA MERCANTIL e Raytheon no Massachusetts Institute of Technology (MIT). O último painel teve de tudo. Mas seu tom foi dado por alguém da platéia, o capitalista de risco Edward Strasser: "Estou ouvindo longas explicações dos vários níveis de governo, algumas perguntas, e ainda mais explicações dos governos", resumiu. "O que eu gostaria de saber é por que este auditório não está repleto de banqueiros de investimento e capitalistas de risco, como acontece aqui nos EUA." Não que todos concordassem com ele. "Acho que o modelo dos EUA não é válido para o Brasil", sentenciou um estudante brasileiro no MIT, Lúcio Soibelman, que presidia a mesa. Mas Strasser radicalizou: "Senhores, não consegui ouvir aqui uma única vez a palavra lucro. E deixem-me dizer uma coisa, lucro não é uma palavra suja." O mais próximo que ele conseguira ouvir fora a expressão "retorno" usada por Levy, que ainda lhe pareceu tímida. Strasser diria no final: "Às vezes, eu leio no mesmo dia The Wall Street Journal, o Financial Times e a GAZETA MERCANTIL, e freqüentemente a cobertura mais completa é a da GAZETA MERCANTIL." Soibelman explicou porque o "modelo americano" não lhe parece adequado ao Brasil. "A universidade americana paga mal; meu laboratório no MIT não tem nenhum americano como pesquisador, somos todos estrangeiros. O exemplo americano não funcionaria para nós", argumentou. Nessa linha, alguém disse mesmo que os EUA também têm algo a aprender com o Brasil. Ele se referia ao modelo de ensino. Strasser, porém, exibiu pouco interesse por atividades de escolas ou governos. Sua proposta era para que os formandos e doutorandos olhassem para outra direção, através da formação de pequenas empresas: "Deixem o mercado funcionar", sugeriu. As reuniões do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) incluem tanto representantes do setor privado quanto cientistas, explicou seu diretor, José Galizia Tundisi. Ele defendeu o sistema de parcerias entre o setor público e o privado no desenvolvimento de pesquisas. Strasser voltou à carga: "Meu ponto é que o setor privado interno e externo pode prover os recursos necessários à pesquisa de novas tecnologias, sem que seja necessário um centavo de todas essas agências de governo." Ouviu, em troca, algum ceticismo sobre a eficiência da "mão invisível" do mercado. Levy lembrou que recente levantamento sobre os planos de investimentos de empresas no Brasil mostrou que US$ 245 bilhões serão gastos até o ano 2003. E ponderou que isso se tornou possível com a estabilização da economia, dado que no ambiente inflacionário anterior o planejamento era impossível. O pró-reitor de pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), Jacques Marcovitch, sugeriu que não se coloque toda a responsabilidade sobre os órgãos federais. A definição da estratégia do Brasil não pode vir mais de cima para baixo como na época da ditadura militar; agora terá que vir de baixo para cima, sustentou. Outro estudante do Massachusetts Institute of Technology, João Paulo Aumond, continuou no entanto com o olhar centrado no governo. Depois de tudo que ouviu sugerindo que corram riscos, sua impressão é que o projeto de volta dos estudantes no exterior está sem coordenação. Sugeriu que o Ministério da Ciência e Tecnologia "tome as rédeas". Reclamar esforços de planos de desenvolvimento do governo, contudo, foi descrito a seguir como "um cacoete" pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul, Dagoberto Lima Godoy. Lembrou que uma recente ministra da Indústria e Comércio, Dorothéa Werneck, fez quatorze versões de uma política industrial, e seu longo texto acabou arquivado, sem gerar interesse privado. "Não se deve esperar a iniciativa de órgãos estatais nesta fase do desenvolvimento brasileiro", continuou Godoy. "É preciso repensar o tema à luz da experiência brasileira, e reestruturar o processo no rumo das grandes empresas, empresas multinacionais e a grande maioria de pequenas e médias companhias". No campo das novas tecnologias de informação, um aluno de mídia indagou sobre o impacto da Internet. Levy disse que a GAZETA MERCANTIL participa ativamente das novas tecnologias, mas lembrou que o esforço realisticamente terá que gerar retornos. "Não se trata de ganância, é o mundo em que vivemos", raciocinou. Os mesmos estudantes que olharam com esperança para o governo mostraram certo ceticismo com a imprensa. João Paulo Aumond, por exemplo, destacou na Internet não a veiculação de informação tradicional, mas sim o espaço para manifestação individual do cidadão, e Lúcio Soibelman criticou o despreparo dos jornalistas que já o entrevistaram. (GB) O que Rio e São Paulo oferecem aos cientistas O Rio de Janeiro oferece um "enxoval" para cientistas e pesquisadores interessados em fixar-se no Estado: uma verba de US$ 10 mil para compra de computadores, programas e outras necessidades extras. E o Estado de São Paulo, as três maiores universidades do País, com recursos combinados de US$ 20 bilhões. "O Rio é um Estado cosmopolita, sede das principais empresas estatais, que produz cerca de 700 mil barris de petróleo por dia e vai chegar a 1 milhão de barris em breve", afirmou o professor Carlos Valois Maciel Braga, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa. Ele acrescentou que o Rio tem uma média de alfabetização de 91% da população jovem, em comparação com 75% no Brasil como um todo. E oferece 107 universidades ou institutos de pesquisa de nível superior para atrair formados do exterior. "São 100 mil empregos diretos para professores, técnicos e funcionários na área de ciência e tecnologia", estimou. Uma oportunidade especial vem com a nova Universidade do Norte Fluminense, fundada por Darcy Ribeiro, segundo o superintendente de ensino superior da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia, Pedro Carajilescov. Essa universidade tem um quadro de 180 professores, dos quais 30 titulares e 150 associados. As vagas foram preenchidas provisoriamente, e estão abertas no momento. E se depender de Carajilescov, nenhum professor dessa universidade - sediada em Campos - conseguirá uma vaga sem ter doutorado. Algumas de suas áreas de pesquisa são no ramo de prospecção de petróleo. O Brasil vive sua melhor época dos últimos trinta ou quarenta anos, ressaltou o secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, Emerson Kapaz. E está em condições de atrair investimentos externos para participar da terceira revolução industrial. Aos estudantes e doutorandos brasileiros no exterior, o Estado de São Paulo "oferece as três universidades mais importantes do País: USP, Unicamp e Unesp", destacou ele. Sua secretaria está agora envolvida na definição de uma política científica e tecnológica. Seu braço de financiamento, a Fapesp, vai abrir-se para as pequenas e médias empresas, oferecendo recursos a juros mais baixos para estimular inovações tecnológicas. Kapaz aproveitou a I Conferência Brasileira de Ciência e Tecnologia no Massachusetts Institute of Technology (MIT) para propor uma ação concreta: a formação de centros de informação em todos os Estados brasileiros, em coordenação com os ministérios das Relações Exteriores e Ciência e Tecnologia. As informações seriam nas duas mãos: sobre os formandos brasileiros no exterior, e sobre as oportunidades de colocação oferecidas pelo setor privado e pelos governos do país. O presidente da Fundação de Tecnologia de Santa Catarina, Neri dos Santos, lembrou que os bolsistas de seu estado são obrigados a conversar com pelo menos uma indústria do setor antes de viajar para o exterior. (GB)