Notícia

Jornal da Unesp

Novo fármaco contra anemia falciforme

Publicado em 01 março 2014

Por Karina Toledo, da Agência FAPESP

Um fármaco desenvolvido por pesquisadores da Unesp para aliviar os sintomas da anemia falciforme une os benefícios da talidomida e do quimioterápico hidroxiureia, já usado no tratamento crônico da doença, sem apresentar os efeitos tóxicos das drogas originais.

A molécula, patenteada com o nome Lapdesf1, mostrou bons resultados em ensaios com camundongos na Unicamp. Os cientistas buscam agora parceria com a indústria farmacêutica para a realização de testes em humanos.

A pesquisa representa um avanço para o tratamento da anemia falciforme, e ajudará a diminuir vários sintomas presentes nos pacientes, como dor e inflamação”, disse o pesquisador da Unesp de Araraquara Jean Leandro dos Santos, um dos idealizadores do novo medicamento.

Comum em afrodescendentes, a anemia falciforme é causada Glóbulo vermelho normal Glóbulo vermelho fluindo livremente no vaso sanguíneo Células doentes Células doentes bloqueando o fluxo sanguíneo Moléstia altera glóbulos vermelhos e dificulta circulação por uma alteração genética na hemoglobina, proteína presente nas hemácias, glóbulos vermelhos do sangue, que ajuda no transporte do oxigênio. A mutação faz com que as hemácias assumam a forma de foice. Em baixas tensões de oxigênio, as células tornam-se deformadas, rígidas e propensas a formar uma massa celular que dificulta a circulação sanguínea, distúrbio conhecido como vaso-oclusão. O processo pode causar inflamações crônicas, necroses e dor intensa, entre outros problemas.

A hidroxiureia é capaz de aumentar a produção de um outro tipo de hemoglobina, conhecida como hemoglobina fetal, que em altos níveis reduz o risco da obstrução dos vasos. Esse quimioterápico, porém, apresenta efeitos adversos, como náuseas, dores abdominais e de cabeça, além de diminuir a produção de células da medula óssea.

Já a talidomida, inicialmente usada como sedativo e antiemético (contra náuseas), foi retirada do mercado mundial nos anos 1960 depois de provocar malformações em recém-nascidos. Foi reintroduzida nos anos 1990 para tratamento de câncer, hanseníase, lúpus e aids.

Nós aproveitamos da talidomida a subunidade responsável pelos efeitos anti-inflamatórios benéficos e acrescentamos à molécula o mecanismo de ação da hidroxiureia, relacionado à capacidade de doar óxido nítrico, mediador responsável pelo aumento da hemoglobina fetal”, disse Santos.

O desenho inicial da molécula foi realizado no mestrado de Santos, sob a orientação da professora Chung Man Chin, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Unesp de Araraquara. Durante o doutorado, realizado com bolsa da Fapesp, o grupo aperfeiçoou a molécula.

Testes pré-clínicos

Depois que experimentos in vitro comprovaram o potencial terapêutico do Lapdesf1, o grupo da Unesp firmou parceria com os pesquisadores do Hemocentro da Unicamp para a realização de ensaios em camundongos modificados geneticamente, realizados pelas pesquisadoras Carolina Lanaro e Carla Penteado.

Os ensaios foram feitos no laboratório da Georgia Regents University, nos Estados Unidos, pois os pesquisadores de lá tinham o modelo animal mais adequado para esse tipo de teste”, diz Carla.