Pesquisa Internacional Identifica Componente Crucial na Queima de Calorias e Aceleração do Metabolismo
Um estudo publicado esta semana na revista Nature descobriu um fator do sistema nervoso envolvido no aumento do metabolismo energético e na queima de calorias do corpo. A esperança da equipe, formada por pesquisadores de diferentes países (e com financiamento brasileiro), é usar o conhecimento no desenvolvimento de medicamentos mais simples e baratos para controle da obesidade e peso.
O estudo contou com pesquisadores da Universidade de Oxford (Reino Unido) e do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades, financiado pela FAPESP e com sede na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O artigo descreveu como esse novo componente atua sobre o gasto energético e calórico através do neuropeptídeo Y (NPY).
Esse neurotransmissor já é amplamente estudado no sistema nervoso central e é responsável por passar informações entre neurônios no cérebro. No entanto, a atuação dele em nervos periféricos (fora do cérebro e da medula espinhal) e sua atuação em células de gordura ainda não era conhecida.
O trabalho focou justamente nisso: em entender como o componente atua no metabolismo e na queima de calorias no sistema nervoso periférico. Conforme explicou a Agência FAPESP, o sistema nervoso periférico (o objeto de estudo da vez) é dividido em dois grupos: o somático e o autônomo. O primeiro regula os movimentos involuntários e as sensações na pele (como tato, calor e frio), enquanto o segundo é responsável por movimentos que independem da vontade da pessoa (como pressão arterial e batimentos cardíacos).
Dentro do sistema nervoso autônomo, há duas outras divisões: um ramo simpático, que prepara o organismo para situações de alerta ou perigo, e o parassimpático, que normaliza o funcionamento do corpo quando a ameaça não está mais presente. No caso do primeiro, a atuação envolve alterações no batimento cardíaco e no gasto energético. Segundo Licia Velloso, uma das autoras do artigo, o sistema nervoso parassimpático funciona através da liberação de noradrelanina no corpo. Além dela, o estudo identificou a presença do neuropeptídeo Y (NPY), que até então era desconhecido por lá.
Ele explicou o que a presença desse componente causa: "Quando o NPY está ativo no hipotálamo, o indivíduo sente fome. Já no sistema nervoso periférico foi identificado que o NPY realiza uma ação contrária, acelerando o metabolismo e, por consequência, o gasto energético."
Além da presença do componente no sistema nervoso periférico, o estudo também mostrou que o NPY atua em um terço dos nervos simpáticos espalhados pelo corpo. Isso promove a produção de novas células adiposas envolvidas na termogênese (células que queimam energia e produzem calor).
Em testes em laboratório, a equipe também descobriu que a liberação do NPY no sistema nervoso periférico acontece através do contato de sinapses com células murais (ao redor dos vasos sanguíneos dos tecidos). Como essas células têm papel fundamental no tecido adiposo (das células que liberam energia e calor), elas se mostram essenciais no controle do metabolismo.
A última parte do estudo consistiu em testes com camundongos geneticamente modificados e aconteceu no laboratório da Unicamp. Veja como foi:
Os camundongos foram geneticamente modificados para não expressar o neuropeptídeo Y no sistema nervoso simpático.
As alterações foram analisadas e mostraram que os animais ficaram obesos e tiveram dificuldade em manter a temperatura corporal estável durante o frio (um indício de baixa capacidade termogênica).
Eles também apresentaram distúrbios metabólicos, como predisposição a desenvolver diabetes.
Já os camundongos com NPY comeram a mesma quantidade de alimento, mas apresentaram uma proteção contra obesidade.
Outra descoberta feita pelo estudo é que o NPY atua de forma diferente no peso corporal quando está no sistema nervoso central ou periférico. No primeiro, ele interfere na saciedade e aumenta a fome. Já no segundo, ele aumenta o metabolismo energético e queima de calorias e gordura (ao invés de armazená-la).
De acordo com Ana Domingos, também autora do artigo, a característica observada nos ratos pode ser associada ao mecanismo biológico humano. Isso dá novas possibilidades na associação entre massa corporal e queima de calorias, já que a manutenção do peso corporal varia para cada indivíduo. A esperança é que a descoberta ajude no desenvolvimento de medicamentos mais simples e baratos para tratar a obesidade. Como essa novidade não atuaria mais no cérebro, a complexidade tende a diminuir, facilitando também sua eficiência.
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