"Era justamente essa diferença entre a covid-19 e as outras síndromes respiratórias agudas graves que não se sabia lá no comecinho da pandemia. Por isso, inclusive, que tantos pacientes morreram nas UTIs [unidades de terapia intensiva] da Itália, por exemplo. O protocolo de tratamento usado naquele momento era outro", lembra.
Antes do trabalho publicado no Journal of Applied Physiology, o grupo de Negri já havia observado, ainda em 2020, que o uso de heparina (um anticoagulante) melhorou a oxigenação de pacientes críticos. No ano seguinte, em colaboração com colegas de vários países, eles realizaram um ensaio clínico randomizado em que puderam demonstrar que o tratamento com heparina diminuiu a mortalidade em casos graves de covid-19. Os resultados foram divulgados no British Medical Journal (leia mais).
"O estudo contribuiu para mudar as diretrizes de tratamento da covid-19 no mundo, pois pudemos demonstrar uma redução de 78% no risco de mortalidade quando a anticoagulação foi iniciada em pacientes que necessitavam receber oxigenação, mas ainda não estavam na UTI", conta a pesquisadora.
Negri destaca que existe uma pressa em reverter a disfunção endotelial nos casos de covid-19 grave com o uso de anticoagulantes. "É preciso tratar a coagulação o quanto antes, pois isso é crucial para evitar o desenvolvimento de síndrome respiratória aguda e outras decorrências da doença, como é o caso da chamada covidlonga", diz.
Outro estudo recém-publicado na Nature Medicine por cientistas britânicos reforça o caráter de formação de trombos do Sars-CoV-2. No trabalho, os únicos marcadores de prognóstico para covidlonga identificados foram fibrinogênio e dímero D —duas proteínas associadas à coagulação.
"O estudo mostra que a covidlonga resulta de trombose que não foi tratada adequadamente. O problema na microcirculação pode persistir em diversos órgãos, inclusive no cérebro, coração e músculos, como se o paciente sofresse pequenos infartos", explica Negri.