Uma nova mentalidade empresarial está nascendo no Brasil, com maior disposição das companhias para a inovação tecnológica e para a diferenciação de produtos. Para o professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) Glauco Arbix, a tendência pode impulsionar a inovação no país e indicar o caminho para um novo modelo de pesquisa e desenvolvimento.
A reflexão feita por Arbix se baseia na recente Pesquisa sobre Atitudes Empresariais para Desenvolvimento e Inovação (Paedi), realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). A pesquisa, que será divulgada dentro de alguns dias, destaca empresas que adotaram práticas produtivas inovadoras com influência positiva no seu desempenho.
O levantamento se baseou em entrevistas com empresários. "Os dados sugerem a existência de uma nova mentalidade empresarial, indicando um comportamento diferente, mais orientado para a inovação tecnológica", afirma Arbix.
Os resultados foram apresentados durante a 30ª reunião anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), em Caxambu (MG), por Arbix e pelos coordenadores da pesquisa, Álvaro Comin (Cebrap) e Lenita Turchi (Ipea).
Em entrevista à Agência FAPESP, o professor da USP, que foi presidente do Ipea até maio de 2006, comentou as perspectivas abertas pelo surgimento do que classificou como um "novo empreendedorismo".
Agência FAPESP - Os dados obtidos pela pesquisa feita pelo Ipea e Cebrap podem ajudar a formular um novo modelo de inovação tecnológica no Brasil?
Glauco Arbix - Sim. A partir dela observamos os países que avançaram no sentido de melhorar a produtividade de seu parque industrial e deram saltos na capacidade produtiva. Países que requalificaram suas empresas e ajudaram a gerar novas companhias, com maior ênfase no conhecimento e capazes de agregar mais valor e, portanto, de trazer mais divisas para o país, melhorando a vida das pessoas e os salários. Todos esses países tiveram suas experiências sustentadas em processos de inovação.
Agência FAPESP — O que caracteriza um processo de inovação eficiente?
Arbix - A presença da pequena, da média e da grande inovação, que consigam marcar um diferencial para as empresas ao fazer com que elas apresentem algo distinto nos mercados e nos sistemas de comercialização. São esses processos que estabelecem a dinâmica da sociedade moderna. São processos embebidos de conhecimento. Temos obrigação de prestar atenção a eles, de nos preocuparmos com a melhoria do país em todos os níveis e, em última instância, com a melhoria da qualidade de vida da população.
Agência FAPESP — Ou seja, todos os atores sociais precisam participar.
Arbix - Quando se caracteriza um ambiente desse tipo, com políticas orientadas para estimular a inovação, está se alertando as autoridades públicas e sinalizando para as universidades, de forma que elas comecem a olhar com mais cuidado para a necessidade de fomentar, estimular, organizar, estruturar e implementar políticas que ajudem as empresas a inovar. Essa é a questão principal desse processo.
Agência FAPESP — Como é o perfil desse novo empreendedor?
Arbix - Os dados coletados na Pesquisa sobre Atitudes Empresariais para Desenvolvimento e Inovação são muito relevantes e mostram alterações comportamentais e estratégicas. Esse é um comportamento novo que nos chamou a atenção. Ao olhar com mais detalhes os dados, notamos que podemos caracterizar um corpo de novos empresários que entraram em cena a partir de 1985. Eles não foram acostumados a subsídios estatais, não viveram uma economia protegida, com empresas baseadas em auxílios governamentais. Eles criaram, com esforço próprio, novas maneiras de vencer nos mercados, aqui e fora do Brasil. Eles prospectam tendências e buscam conhecimento em universidades e centros de pesquisa do país e do exterior. Esse comportamento, que nos chamou a atenção, é o que chamamos de "novo empreendedorismo". Não queremos fazer com isso nenhuma definição rígida de conceito. É um processo que ainda estamos estudando, mas com certeza há alguma coisa nova no Brasil, que merece nossa atenção como pesquisadores e a atenção do Estado brasileiro, pois pode servir para alavancar nosso sistema produtivo.
Agência FAPESP — Qual é o papel da universidade nesse processo inovativo?
Arbix - Mais do que nunca essa questão está colocada para as instituições do ensino superior no Brasil. Não como uma forma de colocá-las como caudatárias das empresas ou algo do tipo. A universidade é autônoma e independente, tem que seguir seus próprios caminhos e estabelecer suas linhas de pesquisa. Mas é fundamental que ela esteja sintonizada com os esforços que o país faz para superar o atraso e subdesenvolvimento. Então, se as instituições estão sintonizadas — e isso depende de cada um acho que podemos dar um grande passo à frente.
Agência FAPESP — Pode-se dizer que é preciso, então, criar uma cultura de inovação?
Arbix - Exato. Sou totalmente contra qualquer idéia de intervenção, de definição ou de pauta vinda de fora, mas é fundamental que se amplie essa reflexão inclusive com os alunos. É a mesma necessidade que existe no meio empresarial: as empresas brasileiras inovam pouco por não terem uma cultura voltada para isso.
A reflexão feita por Arbix se baseia na recente Pesquisa sobre Atitudes Empresariais para Desenvolvimento e Inovação (Paedi), realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). A pesquisa, que será divulgada dentro de alguns dias, destaca empresas que adotaram práticas produtivas inovadoras com influência positiva no seu desempenho.
O levantamento se baseou em entrevistas com empresários. "Os dados sugerem a existência de uma nova mentalidade empresarial, indicando um comportamento diferente, mais orientado para a inovação tecnológica", afirma Arbix.
Os resultados foram apresentados durante a 30ª reunião anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), em Caxambu (MG), por Arbix e pelos coordenadores da pesquisa, Álvaro Comin (Cebrap) e Lenita Turchi (Ipea).
Em entrevista à Agência FAPESP, o professor da USP, que foi presidente do Ipea até maio de 2006, comentou as perspectivas abertas pelo surgimento do que classificou como um "novo empreendedorismo".
Agência FAPESP - Os dados obtidos pela pesquisa feita pelo Ipea e Cebrap podem ajudar a formular um novo modelo de inovação tecnológica no Brasil?
Glauco Arbix - Sim. A partir dela observamos os países que avançaram no sentido de melhorar a produtividade de seu parque industrial e deram saltos na capacidade produtiva. Países que requalificaram suas empresas e ajudaram a gerar novas companhias, com maior ênfase no conhecimento e capazes de agregar mais valor e, portanto, de trazer mais divisas para o país, melhorando a vida das pessoas e os salários. Todos esses países tiveram suas experiências sustentadas em processos de inovação.
Agência FAPESP — O que caracteriza um processo de inovação eficiente?
Arbix - A presença da pequena, da média e da grande inovação, que consigam marcar um diferencial para as empresas ao fazer com que elas apresentem algo distinto nos mercados e nos sistemas de comercialização. São esses processos que estabelecem a dinâmica da sociedade moderna. São processos embebidos de conhecimento. Temos obrigação de prestar atenção a eles, de nos preocuparmos com a melhoria do país em todos os níveis e, em última instância, com a melhoria da qualidade de vida da população.
Agência FAPESP — Ou seja, todos os atores sociais precisam participar.
Arbix - Quando se caracteriza um ambiente desse tipo, com políticas orientadas para estimular a inovação, está se alertando as autoridades públicas e sinalizando para as universidades, de forma que elas comecem a olhar com mais cuidado para a necessidade de fomentar, estimular, organizar, estruturar e implementar políticas que ajudem as empresas a inovar. Essa é a questão principal desse processo.
Agência FAPESP — Como é o perfil desse novo empreendedor?
Arbix - Os dados coletados na Pesquisa sobre Atitudes Empresariais para Desenvolvimento e Inovação são muito relevantes e mostram alterações comportamentais e estratégicas. Esse é um comportamento novo que nos chamou a atenção. Ao olhar com mais detalhes os dados, notamos que podemos caracterizar um corpo de novos empresários que entraram em cena a partir de 1985. Eles não foram acostumados a subsídios estatais, não viveram uma economia protegida, com empresas baseadas em auxílios governamentais. Eles criaram, com esforço próprio, novas maneiras de vencer nos mercados, aqui e fora do Brasil. Eles prospectam tendências e buscam conhecimento em universidades e centros de pesquisa do país e do exterior. Esse comportamento, que nos chamou a atenção, é o que chamamos de "novo empreendedorismo". Não queremos fazer com isso nenhuma definição rígida de conceito. É um processo que ainda estamos estudando, mas com certeza há alguma coisa nova no Brasil, que merece nossa atenção como pesquisadores e a atenção do Estado brasileiro, pois pode servir para alavancar nosso sistema produtivo.
Agência FAPESP — Qual é o papel da universidade nesse processo inovativo?
Arbix - Mais do que nunca essa questão está colocada para as instituições do ensino superior no Brasil. Não como uma forma de colocá-las como caudatárias das empresas ou algo do tipo. A universidade é autônoma e independente, tem que seguir seus próprios caminhos e estabelecer suas linhas de pesquisa. Mas é fundamental que ela esteja sintonizada com os esforços que o país faz para superar o atraso e subdesenvolvimento. Então, se as instituições estão sintonizadas — e isso depende de cada um acho que podemos dar um grande passo à frente.
Agência FAPESP — Pode-se dizer que é preciso, então, criar uma cultura de inovação?
Arbix - Exato. Sou totalmente contra qualquer idéia de intervenção, de definição ou de pauta vinda de fora, mas é fundamental que se amplie essa reflexão inclusive com os alunos. É a mesma necessidade que existe no meio empresarial: as empresas brasileiras inovam pouco por não terem uma cultura voltada para isso.