O crescimento desigual da ciência e da tecnologia leva inevitavelmente à escassez de cientistas treinados em campos que estão avançando rapidamente e leva também ao excesso deles em outras áreas que estão ficando estagnadas, porque os sistemas educacional e de treinamento não podem ajustar-se tão rapidamente quanto necessário.
Atualmente, o campo no qual se faz sentir a maior carência de pessoal é no da Bioinformática, área em que a Biologia se encontra com a ciência da computação.
A descoberta de novos genes relacionada a uma miríade de condições que vão da obesidade ao câncer de mama, e da esquizofrenia ao comportamento criminoso - é objeto de muita publicidade. As pessoas escrevem e difundem muitos aspectos da revolução genética, que vão da ética à ciência, mas elas dificilmente se ocupam das habilidades em computação exigidas para entender a avalanche de informações que emanam dos laboratórios de pesquisa sobre genes.
A genética agora está gerando milhares de vezes mais dados do que aqueles com os quais os biólogos tinham de lidar anteriormente. E a Bioinformática é a chave para compreender tudo isso e transformá-lo em conhecimento médico.
"A Biologia está se tornando uma ciência que utiliza dados intensivamente, da mesma forma que fez à Física há quase cinqüenta anos, quando ficou claro que os computadores seriam necessários não somente para armazenar informações, mas também para processá-las", diz David Searls, recrutado na Universidade da Pensilvânia para ser o diretor da SmithKline Beecham (SB), o colosso anglo-americano do setor de produtos farmacêuticos.
A SB tem liderado a corrida Realizada pelo setor de medicamentos para desenvolver "expertise" em Bioinformática. Mais do qualquer um dos seus concorrentes, a SB apostou no futuro da pesquisa sobre Genômica - o estudo dos genes e a forma pela qual eles interagem entre si e com o meio ambiente para causar doenças. Ela fez em 1993 uma investida preventiva numa transação de US$ 125 milhões para adquirir uma participação na Human Genome Sciences, empresa da área de Biotecnologia do estado norte-americano de Maryland, que controla o maior banco de dados de genética humana do mundo.
O departamento de Bioinformática da SB já conta com 33 cientistas e engenheiros, e Searls está planejando dobrar o seu número no ano que vem. Numa cartada impressionante, ele acabou de apresentar três das principais figuras desse campo: Chris Rawlings, ex-chefe de Informática do Imperial Câncer Research Fund de Londres, Jim Fikett, biólogo computacional sênior do Los Alamos National Laboratory do governo dos Estados Unidos, e Randy Smith do Baylor College of Medicine.
No setor público, o European Bioinformatics Institute (EBI) de Cambrigeshire, financiado pela União Européia - ramificação do European Molecular Biology Laboratory, de Heildelberg, na Alemanha - conseguiu formar o seu corpo de especialistas com cerca de setenta pessoas.
"Há uma grande carência de pessoas especializadas, em parte porque muitas organizações estão ao mesmo tempo examinando as necessidades que existem em Bioinformática e, em parte, porque as aptidões exigidas estão mudando muito rapidamente", diz Graham Cameron, chefe de serviços do EBI. "Se nos constituirmos em uma organização internacional, pelo menos poderemos concorrer com meio mundo."
Na visão de Cameron, "todas as companhias de produtos farmacêuticos sabem que querem a Bioinformática e sabem que querem extrair muito disso, mas elas não sabem completamente o que querem fazer com isso. Eu acho que algumas incertezas irão cristalizar-se nos próximos dezoito meses ou algo em torno disso".
Na SB. Searls sabe que quer atuar numa ampla frente: pesquisa e análise, que envolve novas técnicas matemáticas para descobrir padrões de dados; administração do conhecimento, que inclui as formas de integrar as informações originárias de diferentes bancos de dados; mapeamento e Genômica, que abrangem as abordagens de identificação dos componentes genéticos com características complexas; seqüência/estrutura/função, que compreendem métodos rápidos de prever a função biológica de um gene a partir do seu DNA (ácido desoxirribonucleico).
As principais companhias das áreas decomputadores e detecnologia da informação estão apenas começando a manifestar interesse em Bioinformática. "E neste terreno há um enorme vácuo", afirma Searls.
Portanto, a SB não pode "terceirizar" a Bioinformática para fornecedores especializados em tecnologia da informação, como as empresas fazem nos setores mais maduros como os serviços financeiros nos quais as necessidades são mais bem definidas.
A Bioinformática e a Genômica ajudam na descoberta de medicamentos ao proporcionar aos pesquisadores uma enorme quantidade de alvos biológicas, como as enzimas cuja superatividade causa doença.
A atividade associada é a Química Combinatória - uma nova tecnologia para a criação de uma vasta diversidade de novas moléculas quando um medicamento se candidata a ser testado em relação a esses alvos. E acompanhar o desenvolvimento dessa operação exigiria, naturalmente, ainda mais poder de computação.
Todas as carências de pessoal são corrigidas no final. Mas parece seguro prever que as pessoas que conjugam computação e as habilidades da tecnologia da informação com Biologia e Química vão permanecer em demanda por um longo período. Para um cientista que ainda não colou grau e pesquisa num campo no qual vai especializar-se, eu não posso pensar em nada com melhores perspectivas de emprego do que a Bioinformática ou - para cunhar um novo termo- Quimiformática. -
Notícia
Gazeta Mercantil