A Amazônia acaba de dar mais uma amostra de que é um celeiro de biodiversidade. Cientistas identificaram nada menos que 15 novas espécies de aves na região, maior conjunto de descobertas da ornitologia nacional desde o século XIX.
O anúncio sobre os achados, feito na edição deste mês da revista “Pesquisa Fapesp”, editada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, eleva em quase 1% o número de espécies de aves nativas no Brasil, país com a segunda maior diversidade deste tipo de animais, com cerca de 1.840 pássaros conhecidos, e logo atrás da Colômbia, com aproximadamente 1,9 mil.
As aves – uma da ordem dos Piciformes, que inclui tucanos e papagaios, e todas demais da ordem dos Passeriformes, os populares “passarinhos” – serão descritas formalmente em artigos científicos.
A publicação dos artigos acontece entre o fim de junho e início de julho em volume especial do “Handbook of the birds of the world” (“Manual dos pássaros do mundo”, em uma tradução livre), coleção de 17 livros considerada a “Bíblia” de ornitólogos profissionais e amadores de todo mundo.
Segundo Luís Fábio Silveira, curador das coleções ornitológicas do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo e um dos coordenadores dos estudos, a identificação das aves na Amazônia, foi feita com base em três critérios independentes – morfologia, o que inclui a plumagem; vocalização, isto é, cantos e sons; e genético – de forma a garantir serem de fato novas espécies.
Ele explica que até recentemente estas descrições de novas aves dependiam principalmente das características da sua anatomia, como as estruturas de seu esqueleto, e da sua aparência externa, como a plumagem, mas em alguns casos elas eram tão parecidas com as de pássaros já conhecidos que foram necessários estudos mais detalhados na pesquisa
“Fomos muito conservadores, mas assim não temos a menor dúvida e estamos bem confiantes de que se tratam de novas espécies”, disse Silveira.
Assim, o pesquisador do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo destaca que, embora a imagem tradicional de um ornitólogo envolva um sujeito de binóculos e câmera fotográfica em mãos, os ouvidos e gravadores são ferramentas de trabalho tão importantes na busca por novas espécies de aves quanto os olhos.
Pássaros catalogados estão em risco de extinção
O pesquisador Luís Fábio Silveira, curador das coleções ornitológicas do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo afirmou que, com habitats limitados, às vezes restritos a uma única área em apenas um dos lados da margem de um rio, algumas destas aves já estão em risco de extinção.
Por isso foi tomada a decisão de publicar os artigos que descrevem as novas espécies ao mesmo tempo. “Nossa ideia é chamar a atenção para as políticas públicas de preservação da Amazônia”, afirma. ”Várias destas novas espécies são especialistas, isto é, vivem apenas em áreas determinadas, com habitats muito restritos, de forma que qualquer alteração no ambiente vai fatalmente levar à sua extinção”, acrescentou..
E o caso de uma espécie de gralha, do gênero Cyanocorax, e maior das novas aves descobertas, com cerca de 35 centímetros. Esses pássaros vivem em campinas no meio da floresta entre os rios Madeira e Purus, no Amazonas, a cerca de 150 quilômetros ao Sul de Manaus. A região, porém, é cortada pela rodovia BR-319, que liga a capital amazonense a Porto Velho, e reformas na estrada ameaçam a sobrevivência das aves.