Cientistas que vivem no Brasil e nos Estados Unidos descobriram duas novas espécies amazônicas de peixes, segundo estudo publicado no Zoological Journal of the Linnean Society. A má notícia é que elas já estão sob risco de extinção iminente em razão do desmatamento da Floresta Amazônica.
Os peixes pertencem à subfamília Crenuchidae, popularmente conhecida como "dardos sul-americanos", devido a seus movimentos rápidos. Esta é a primeira adição de novas espécies ao grupo em 57 anos. "Nós aumentamos o número de peixinhos dessa subfamília de três para cinco, o que representa um acréscimo considerável na riqueza desse conjunto de peixes", diz Murilo Pastana, pesquisador do Museu Nacional Smithsoniano de História Natural, na cidade de Washington, em entrevista ao Vida de Bicho.
Uma das espécies, a Poecilocharax callipterus, tem barbatanas vermelho-alaranjadas e mede pouco menos de 4 cm, enquanto a outra, Poecilocharax rhizophilus, não passa de 2,6 cm e é considerada uma "miniatura". "Há toda uma linha de pesquisa tentando entender como diferentes espécies de vertebrados sofrem miniaturização e o que isso significa para o seu esqueleto", conta Murilo.
Ambas as espécies vivem a pouco mais de 35 quilômetros ao norte de Apuí (AM), cidade com o segundo maior índice de desmatamanto do Brasil. Foi nessa região que o estudo em questão ocorreu, entre 2015 e 2016. De acordo com Murilo, a recente descoberta revelou aos pesquisadores que esses peixes estão distribuídos tanto ao norte quanto ao sul do Rio Amazonas.
As novas espécies foram fotografadas, catalogadas e estão no Museu de Zoologia da USP, onde serão preservadas para estudos futuros.
Os perigos do desmatamento
"Cada espécie possui seu próprio conjunto de características morfológicas e informação genética (genoma). Ao se perder aquela espécie, perde-se com ela todos esses dados", explica Murilo.
Ele compara os organismos vivos a obras de arte: "Se cada trabalho de determinado pintor ou escultor é único, o mesmo é verdade para organismos vivos. Cada um deles é singular ao revelar como se deu a evolução, diversificação, ou distribuição de seu grupo. Não é mera coincidência que ambos estejam guardados e protegidos em museus – uns são de arte e outros, museus biológicos. Mas ambos são igualmente importantes".
Então, o que representa a destruição da Floresta Amazônica? "A região amazônica é detentora da maior biodiversidade do mundo, é um museu a céu aberto, um patrimônio nacional! Há mais espécies de organismos vivos na Amazônia do que qualquer acervo de museu, biológico ou artístico – ela é maior que o Louvre, o Museu do Vaticano, o Museu Americano de História Natural. Destruir a Amazônia, seja com o garimpo ilegal, com o desmatamento ou com a grilagem, é destruir o acervo do nosso maior museu – o da biodiversidade", completa o pesquisador.