Notícia

Gazeta Mercantil

Nova variedade de café quase sem cafeína (1 notícias)

Publicado em 24 de junho de 2004

Por Agnaldo Brito
O Brasil começa a desenvolver variedades de café naturalmente descafeinado. É a primeira vez que se identifica um café com esta característica. Pesquisadores descobriram num banco de germoplasma, que chegou ao Brasil em 1973, três variedades de café arábica com baixa concentração de cafeína. Pesquisadores do Centro de Análise e Pesquisa Tecnológica do Agronegócio do Café "Alcides Carvalho", ligado ao Instituto Agronômico de Campinas (IAC), e do Departamento de fisiologia Vegetal do Instituto de Biologia da Unicamp identificaram num universo de três mil variedades três cultivares com níveis de 0,07% de cafeína. Cultivares de café arábica com produção em escala comercial possuem níveis de até 2%. A descoberta foi destaque na edição da revista britânica "Nature" que começou a circular ontem. A demanda mundial de café descafeinado chega a 10% do consumo mundial. Nos Estados Unidos, chega a 20% do total. No Brasil, o consumo de café descafeinado industrialmente chega a 1%. Hoje, a oferta do café sem cafeína é possível por métodos químicos industriais. O problema é que o processo químico além da cafeína extrai outros compostos voláteis que dão aroma ao café. A segunda forma é pelo uso da técnica de transgenia. Pesquisadores japoneses conseguiram criar uma variedade transgênica do Coffea canephora, um tipo de café considerado bebida neutra ou sem gosto. O relevante na descoberta brasileira é o fato de os três cultivares serem descafeinado naturalmente. As três variedades, que receberam o nome de AC1, AC2 e AC3 -uma homenagem a Alcides Carvalho, um dos principais pesquisadores da cultura no País e um dos responsáveis por trazer o banco de germoplasma para o Brasil, serão alvo de longas pesquisas. Segundo Maria Bernadete Silvarolla, melhorista do IAC, a oferta de uma variedade comercial para o mercado pode demorar cerca de seis anos. Em linhas gerais, a pesquisa com as variedades poderão ter três linhas de pesquisa, a última dependerá de uma decisão do Congresso Nacional: a aprovação uma lei que regulamente a pesquisa transgênica no País. Inicialmente, o trabalho se dará em duas frentes. O primeiro passo, afirma Paulo Mazzafera, do Instituo de Biologia da Unicamp, é conhecer o desempenho das variedades silvestres, como resistência a pragas e produtividade. A expectativa é que o nível de produção da linhagem AC chegue a 30% em relação às variedades comerciais. Ao mesmo tempo, os pesquisadores irão iniciar uma série de cruzamentos. a intenção, explica Luiz Carlos Fazuoli, diretor do Centro de pesquisas de Café do IAC, é transferir a característica de café descafeinado para variedades comerciais de arábica. Pelo menos cinco cultivares serão usados, explica o pesquisador: catuaí, mundo novo, tupi, obatã e acaiá. "Esse é o trabalho mais demorado. Cada cruzamento gera uma série de filhos que podem ou não ter a característica do café descafeinado", afirma Fazuoli. Os centros de pesquisa terão de fazer a caracterização genética das variedades para localizar o gene das três plantas com essas condições. Mazzafera suspeita que o gene tenha naturalmente sofrido uma mutação ou mesmo um defeito no promotor que inibiria a expressão do gene que geraria a cafeína. A descoberta deste trecho abre a possibilidade da criação de uma variedade transgênica. "Sem dúvida, a liberação de pesquisas transgênica pode ser uma alternativa a este trabalho. Isso reduziria o tempo para termos uma variedade com essa característica. Muito menos que os seis anos projetados", afirma Fazuoli. Os pesquisadores terão de detalhar os projetos para obterem financiamento. Para a varredura do banco de germoplasma, os pesquisadores obtiveram recursos da Fapesp, do CNPq e do Consórcio Nacional do Café (CNC). Os pesquisadores também querem descobrir as substâncias presentes neste café etíope.